"Meu maior desejo é que este livro possa trazer alguma simpatia por um povo cuja vontade de viver em paz e liberdade recebeu tão pouca solidariedade de um mundo indiferente." (p. 317)
Eu estava perambulando à toa por uma livraria da cidade, junto com meu irmão, quando me deparei com um exemplar de Sete anos no Tibet (Seven years in Tibet, 1953). O livro foi escrito pelo aventureiro alemão Heinrich Harrer e conta como ele e seu amigo, Peter Aufschnaiter, chegaram e se estabeleceram na capital do Tibet depois de cruzarem boa parte da cadeia montanhosa do Himalaia, fugindo da polícia anglo-indiana e de um campo de concentração na cidade de Dehra Dun. Em Lhasa, capital do Tibet, Harrer acabou se tornando algo que nem ele mesmo poderia prever: professor de Sua Santidade o Dalai Lama.
Assim que li a sinopse na contra-capa do livro, imaginei que ninguém poderia passar por uma aventura maior do que essa. E, como eu sempre fui fã de aventuras, comprei o livro no ato. (Só fui saber da existência do filme depois.) O volume que eu adquiri foi publicado pela editora L&PM Pocket, mas há uma outra, mais elaborada, lançada pela Asa – infelizmente, fora de circuito.
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Sinopse: Heinrich Harrer é considerado um dos maiores alpinistas e aventureiros do século XX. Este livro conta como ele e seu companheiro, Peter Aufschnaiter, chegaram até a Cidade Proibida do Tibet – Lhasa – depois de fugirem de um campo de prisioneiros de guerra na Índia, em 1943. Nessa fuga, que durou quase dois anos pelo interior da Ásia, ambos atravessaram todos os tipos de perigo, ao cabo dos quais foram acolhidos na cidade sagrada de Sua Santidade, o Dalai Lama.
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Poucas coisas me angustiam tanto quanto não acabar de ler um livro grosso nas férias e arrastá-lo para o período de aulas. Foi isso o que aconteceu com Sete anos no Tibet: comprei-o nas férias, comecei a lê-lo nas férias, mas as férias acabaram e agora eu tive de terminá-lo no final-de-semana passado, depois de vários dias parado. O ritmo da leitura foi quebrado e o ânimo para pegar outra vez no livro desaparecera, tudo por conta das inúmeras atividades acadêmicas que eu tenho de enfrentar.
Bem, depois que Heinrich Harrer se juntou a uma expedição de alpinistas que escalariam o monte Nanga Parbat no Himalaia, a primeira coisa que o grupo fez foi ficar uma temporada na Índia para sondar o melhor percurso até a montanha. Acontece que, enquanto eles estavam por lá, encantados com o povo indiano e a beleza natural do país, a 2ª Guerra Mundial rebentou e a Inglaterra declarou guerra à Alemanha em nome de todo o seu império – Índia incluída.
Como Harrer e os outros alpinistas eram alemães, a polícia indiana os prendeu em um campo de concentração e não apresentou a menor perspectiva de tirá-los de lá. Este é o ponto de partida do livro: Harrer narra a sua fuga (cômica) da prisão e a conseqüente jornada que empregou pelo interior montanhoso da Ásia até chegar ao Tibet, junto com um outro integrante da expedição inicial, Peter Aufschnaiter.
1º) Cena do filme Sete anos no Tibet ; 2º) Harrer e o Dalai Lama juntos
A linguagem que Harrer utiliza no seu livro pertence àquela classe de linguagens objetivas, cristalinas e encantadoras – ou seja, de coisas muito bem escritas. As palavras são extremamente bem escolhidas e a harmonia das frases embala o leitor. (Eu leio e releio uma mesma frase várias vezes só pelo fato de ela ter sido bem construída. Exemplo: "Alimentado por numerosos riachos vindos do Himalaia, esse rio fica cada vez maior e, à medida que cresce, mais tranqüilo fica o seu curso.")
Existe uma particularidade na narrativa do livro que vale a pena ser comentada: ela não constitui o modelo típico de narrativa de viagem contemporâneo, em que o autor narra a sua aventura como se fosse um thriller de ação. Não. Provavelmente pelo fato de ter sido escrito na década de 50 – uma década de literatura ainda conservadora –, Sete anos no Tibet apresenta uma narrativa totalmente sincera, totalmente despida de qualquer atrativo "colorido". Ali temos Harrer contando a sua história, e nada mais; nada de trechos de tirar o fôlego, nada de suspense, nada de história de amor inserida. Apenas a realidade essencial dos fatos.
Embora esse modelo "frio" de narrativa seja interessante pelo fato de ser sincero, confesso que fiquei um pouco incomodado. Porque, dada a vastidão quase inconcebível da aventura de Harrer, era de se esperar que o autor fizesse um discurso mais detalhado dos fatos. Nas partes mais instigantes e atrativas da aventura, o relato às vezes me parecia despojado de emoção, panorâmico demais, seco demais, como um diário. E o que poderia ser algo bacana por conta dos detalhes acaba passando despercebido, fazendo com que a história tenha suas partes monótonas. (Vale lembrar que o livro, que possui mais de 300 páginas, não tem diálogos.)
Mas esse é o único "problema" do livro. De um modo geral, adorei lê-lo, e pude ver que Harrer faz jus ao título de "um dos ocidentais que mais conhecem o Tibet". Suas descrições dos costumes e rituais tibetanos são – nesse caso – bem detalhados e esmiuçados, elucidativos.
E esse lance de um aventureiro fugir de um campo de concentração e acabar como professor do Dalai Lama é uma das coisas mais interessantes que já li na vida – é o acaso em prol de uma boa história. Todas as observações que o autor faz do país são transmitidas ao leitor, desde a acolhida inicial até os dias finais de sua estada por lá, quando a China comunista invadiu o território tibetano e Harrer teve de deixar o país.
Conclusão: um livro que, sem dúvida, merece ser lido. Mas encare-o desde já como uma fonte de informações, e não necessariamente como puro entretenimento.
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"A primeira coisa que fazia, todos os dias, era escutar as notícias, e muitas vezes lamentava e pensava em coisas que os ocidentais acham importantes. Aqui, o ritmo do iaque dita o ritmo de vida, e assim tem sido por milhares de anos. Será que o Tibet seria mais feliz se fosse transformado? (…) acelerar o ritmo da existência poderia roubar a paz e o lazer. Não se deve forçar um povo a utilizar novas invenções que estão muito à frente do seu estágio de evolução." (p. 222, grifos meus)
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Abaixo, o trailer do filme Sete anos no Tibet, estrelado por Brad Pitt e dirigido pelo "visionário" diretor Jean-Jacques Annaud. A música fica por conta de John Williams. (Infelizmente, não achei um vídeo legendado…)
Muito legal o seu blog! achei interessante, post legal!
ResponderExcluirSe puder passe pelo meu blog também!
http://vainafequeda.blogspot.com/
Olá, mais uma vez, Alex! rsrs
ResponderExcluirVi o filme após a leitura do livro. É um ótimo livro, e acho que você vai encontrá-lo na Estante Virtual.
Posso dizer o mesmo: depois dessa história, criei grande simpatia pelo povo tibetano. O Dalai Lama é uma figura fascinante!
Obrigado pela visita e pelo comentário!
Abraço.
qual a ideia pricipal do filme
ResponderExcluirqual a ideia pricipal do filme
ResponderExcluirqual a ideia pricipal do filme
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