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16 janeiro 2011

5 livros que eu li em 2010 e que você gostará de ler em 2011

Agora que eu estou ouvindo Bob Dylan, meu espírito se soltou, se desprendeu de todos os preconceitos e me sinto apto – de corpo e alma – a listar as minhas leituras preferidas do ano passado.

A cada ano, faço aqui no blog uma pequena lista dos melhores livros que li nos últimos 12 meses. É sempre uma tarefa penosa, como podem imaginar, escolher cinco dentre tantas boas leituras; mas, seguindo as antigas conclusões de Darwin, faço questão de que as mais destacadas prevaleçam.

Então, vamos lá. Embora estejam numeradas, as indicações não seguem nenhuma ordem de preferência.


1) À espera de um milagre, de Stephen King

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Envolvente, elegante, belíssimo, misterioso e, como quase todas as obras de King, sobrenatural. Estamos falando de À espera de um milagre, tido pelo Boston Globe como a conjugação de tudo o que existe de melhor nos livros de Stephen King.

Neste romance, acompanhamos o drama de Paul Edgecombe, o chefe dos guardas de uma ala penitenciária onde ficam os condenados à cadeira elétrica. A cruel, mas normal, rotina de Paul e seus colegas de trabalho muda quando chega à ala um gigante negro de nome John Coffey – portador de uma assombrosa habilidade, a de curar doenças irreversíveis somente usando as mãos.

Reflexões sobre morte, velhice, justiça e até mesmo amor são inevitáveis. Um livro emocionante e cativante.


2) Não há silêncio que não termine, de Ingrid Betancourt

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Última ótima leitura de 2010. Não há silêncio que não termine é o relato pessoal de Ingrid Betancourt sobre o seu penoso cativeiro de quase 7 anos nas mãos das Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Seqüestrada por motivos políticos, Ingrid passou fome e sofreu grandes humilhações, vivendo em condições humanas precárias como prisioneira na selva amazônica. Narrado em forma de thriller de aventura (e aí está o diferencial da obra), o livro é um convite à reflexão sobre as questões sociais que afligem o continente sul-americano.

Com uma linguagem belíssima e poética, clara e contundente, Ingrid mostra aos seus leitores que, mesmo em condições de extrema penúria, a esperança é a última que morre. E, tal como Nando Parrado, nos mostra que o oposto da morte não é a vida, mas o amor.


3) Templo, de Matthew Reilly

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Aqui está um tipo de livro de aventura que eu não via desde a época antiga de Michael Crichton. Aliás, como disse um conceituado jornal americano (que agora esqueci o nome), "Reilly é o Michael Crichton da Austrália".

Pois bem. Templo é um thriller despretensioso que tem como personagem principal um jovem professor de latim, William Race, chamado às pressas para compor uma equipe organizada pelo governo. Missão: seguir as instruções de um manuscrito lendário e, assim, encontrar um ídolo perdido na selva inca, ídolo esse talhado em uma pedra que possui uma substância propícia à construção de uma arma de destruição global, etc. E isso deve ser feito antes que um grupo neo-nazista ponha as mãos no artefato.

No entanto, à medida que a aventura se desenrola, Race percebe que o governo americano está de sacanagem e lhe esconde alguma informação importante.

Mesmo com essa sinopse clichê e tendenciosa, Templo é um livro que vale a pena por causa da história divertidíssima. Entretenimento garantido, cheio de reviravoltas, suspense e surpresas…


4) Quando só restar o mundo, de Mauro Pinheiro

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Desiludido com o trabalho e com as pessoas, deprimido por ter sido abandonado pela namorada que caiu na estrada e foi embora para a Bahia, Pedro Paulo pede demissão do emprego de corretor financeiro e embarca numa jornada de carro através do Brasil.

Seu objetivo, inicialmente, é sair do Rio de Janeiro e reencontrar Dalva, a ex-namorada que fugiu para a Bahia; acontece que, durante o percurso, Pedro Paulo conhece Serena, uma atraente mulher que vaga pelas estradas com o filho pequeno e que tem um passado misterioso. A partir desse encontro com Serena, a história do protagonista toma um novo e surpreendente rumo.

Quando só restar o mundo é a afirmação da maturidade artística de Mauro Pinheiro, autor elogiado por Antônio Houaiss e que traz em seus livros sempre um viés poético e filosófico, além de um vasto panorama do território brasileiro.


5) O Palácio de Espelho, de Amitav Ghosh

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Mestre consumado em evocar épocas e civilizações passadas, Amitav Ghosh escreveu O Palácio de Espelho a fim de contar, em forma de romance, todo o processo que levou a Birmânia, a Índia e a Malásia à modernidade, abarcando um período que vai desde o final do século XIX até meados dos anos 2000.

É difícil traçar uma sinopse precisa desta monumental e ambiciosa obra, porque são várias as histórias que regem o enredo. Mesmo assim, o eixo central parece girar em torno do personagem Rajkumar Raha. O livro tem início com Rajkumar ainda criança, já órfão, trabalhando na casa de uma senhora na Birmânia. É aí nesse país que ele, por acaso, entra em contato com Dolly, uma bela pajem da rainha.

Depois que a Grã-Bretanha ocupa a Birmânia e Dolly é obrigada a acompanhar a Família Real no exílio à Índia, Rajkumar adere ao crescente negócio de exportação de madeira, se torna um homem rico e, nunca tendo esquecido seu amor de infância, parte em busca de Dolly.

Dono de uma linguagem com clareza primorosa, Ghosh consegue transformar um romance épico romântico em algo extremamente interessante e rico, perfeitamente explorado por todos os lados, recheado de detalhes históricos.


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O Cubo de Rubik solucionado, enfim! (Foto tremida, eu sei)


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Cubo de Rubik, estante nacional e o pingüim natalino que perdeu o chapéu


É isso! E que venham ótimas leituras em 2011! Aliás, este é um ano que promete coisas boas… Mar de papoulas, Latitudes piratas e, provavelmente, algum romance de Haruki Murakami traduzido pela Alfaguara.

E um Feliz Ano-Novo atrasado para todos! :P

02 janeiro 2011

Cemitério de navios, de Mauro Pinheiro

"A história de qualquer maneira nunca tem fim, são os personagens que aos poucos desaparecem." (p. 35)

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Hoje de manhã, antes de sair para o supermercado para reabastecer minha geladeira, eu finalizei a leitura de Cemitério de navios (1993), romance de estréia do carioca Mauro Pinheiro, 53 anos.

Eu só conhecia deste autor o livro Quando só restar o mundo, que é uma obra belíssima e tocante sobre viagens pelo Brasil, amizade e desprendimento. Foi por isso que fui atrás de Cemitério de navios: queria entrar em contato com outros trabalhos desse escritor.


Sinopse: Cinematográfico, Cemitério de navios é um road-book, uma longa viagem do Rio de Janeiro ao Piauí. A história de um rapaz preocupado em refazer a trajetória de um amigo que sempre manda pistas falsas sobre seu paradeiro. Poético, por vezes selvagem, Mauro Pinheiro lembra um Jack Kerouac dos anos 90, espanando o pó das estradas mais esburacadas do Brasil.


Eu penso que Mauro Pinheiro é a maior autoridade da literatura brasileira sobre road-books, ou seja, livros que têm como pano de fundo a estrada, pela qual os personagens estão sempre se deslocando, cruzando o país, com um cenário totalmente mutável. Posso estar errado (alguém me corrija se eu realmente estiver), mas acho que Mauro é o único escritor nacional que de fato tem a estrada como ingrediente indispensável em seus livros.

Também, olhando para a biografia dele, a coisa não podia deixar de ser diferente. Mauro Pinheiro saiu de casa e viajou pelo país (sozinho) com apenas 17 anos; ao completar 21, foi para o exterior e morou no Iraque, na Bélgica e na França, onde começou a escrever Cemitério de navios. Já trabalhou como cortador de lenha, operário de uma fábrica de perfumes e criador de cabras.

Portanto, é natural que seus livros falem sobre viagens…


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Um dia bato uma foto desse Cubo Mágico solucionado, prometo


Quando li a primeira frase de Cemitério de navios, fiquei quase que literalmente de queixo caído. Diz ela: Talvez certas revelações importantes só aconteçam durante a noite. Acontece que, na mesma noite, um pouco antes, eu havia tido uma revelação importante – nada espiritual, claro, mas apenas uma informação que recebi e que mexeu comigo. Na ocasião, só pude pensar: este será um daqueles livros que me lêem.

Infelizmente, não foi. Devo admitir que, ao contrário do que aconteceu com Quando só restar o mundo, eu fui perdendo o ânimo à medida que prosseguia com a leitura. Algumas frases de efeito aqui, outras ali, espaçadas… apenas isso. O tom poético dessa vez não funcionou, e ficou parecendo que o autor queria apenas testar sua habilidade em construir frases bonitas (como romance de estréia, isso é perdoável).

Atualmente, sua linguagem é madura e disciplinada sem perder o viés poético e corriqueiro. Mas, em Cemitério de navios, ela é mais dada a experimentalismos e cacoetes, muito informal. Por exemplo, o uso de "Belô" para substituir "Belo Horizonte", ou de "rodô" para substituir "rodoviária", é irritante. Mesmo assim, vemos que Mauro escreve bem, e durante a leitura não deixa de ficar martelando na cabeça do leitor um pensamento do tipo: "Esse cara é uma promessa para o futuro literário do Brasil".


É preciso continuar caminhando, talvez haja um lugar onde eu queira chegar. Um lugar que se construa à medida que o persigo e o invento. (…) É preciso sempre preencher com um sonho de luz esse lapso entre as trevas que chamamos vida. (p. 159)


Por fim, o livro só não recebeu uma nota imaginária ruim porque o final foi muito bacana. Na verdade, eu diria que o livro é um mosaico, e só quando se chega ao final é que se pode contemplá-lo de longe, observando a imagem que se forma. Nos últimos capítulos, a história consegue mostrar sua forma, seus contornos, e é interessante acompanhar as revelações que se sucedem.

Ah, vale a pena lembrar que, diferentemente do que a sinopse diz, o livro não possui nada de "cinematográfico".

Conclusão: um livro interessante para quem já entrou no universo de Mauro Pinheiro. Para os iniciados, não tão recomendado…

Resenha de Quando só restar o mundo aqui.

23 agosto 2010

Quando só restar o mundo, de Mauro Pinheiro

"E qual seria a matéria-prima do destino? O tempo? As pessoas?" (p. 8)

Quando só restar o mundoMauro Pinheiro

Eu já descobri há muito tempo que um passeio despretensioso por uma livraria qualquer, além de muito prazeroso, pode trazer também muitas revelações, principalmente se você é alguém que gosta de ler livros que os outros desconhecem. Foi assim – passeando sem objetivo pela livraria – que descobri Coração, de Natsume Soseki, Templo, de Matthew Reilly e Um país distante, de Daniel Mason (ótimos e desconhecidos livros).

Sábado passado, foi totalmente por acaso que dei de cara com Quando só restar o mundo (2002), romance escrito pelo carioca Mauro Pinheiro, nome até então quase anônimo no nosso circuito literário brasileiro. Vocês já ouviram falar dele? Eu também não, até semana passada. E continuaria hoje sem saber quem era, se não tivesse levantado o olhar sem querer e visto aquele volume de meras 122 páginas espremido entre a parede da estante e um catálogo sobre a Revolução Francesa.

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Sinopse: Pedro Paulo é desencantado com a profissão, estéril, inadaptado ao universo nem sempre ético do mercado financeiro, em crise de solidão. Pede demissão do emprego, destruindo seu mundo estável e confortável, e parte de carro para procurar na Bahia a mulher que o abandonou. Mas na estrada se vê inesperadamente envolvido numa perigosa aventura com outra mulher, a misteriosa Serena, e seu filho pequeno.

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No site da editora Rocco (aqui), há o seguinte trecho da biografia do escritor:

"Mauro Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro. Morou no subúrbio até os dezessete anos, quando decidiu intervir no destino que lhe parecia óbvio, e botou o pé na estrada. Viajou pelo Brasil durante três anos, vivendo de bicos e da solidariedade dos amigos que fez."

Isso lembra, em quase tudo, a história do andarilho Christopher McCandless, norte-americano de classe alta que abandonou o "destino que lhe parecia óbvio" e circulou durante dois anos pelos Estados Unidos, fazendo amigos pela estrada, até ser encontrado morto dentro de um ônibus no Alasca.

Estou falando isso (fazendo essa relação) porque gosto de coisas desse gênero aventuresco. Pessoas que têm visão para perceber que suas vidas são valiosas demais para serem desperdiçadas dentro de um escritório ou na frente de um computador – ou nas duas coisas simultaneamente – essas pessoas sempre me atraíram. Tenho simpatia por elas. Porque, no fundo, penso do mesmo jeito.

Como viajante inveterado, Mauro Pinheiro não poderia deixar de transportar esse sentimento desprendido para os seus livros. Todos eles – quatro, até agora – estão incluídos no gênero que eu resolvi chamar de road book: livros cujas tramas estão baseadas em viagens sem rumo pelas estradas, cujo objetivo é, necessariamente, a viagem em si, e não o destino.

Quando só restar o mundo é um clássico desse gênero. Durante a viagem que os três protagonistas (Pedro, Serena e seu filho) empregam ao longo da história, nós leitores somos transportados para praias desertas do nordeste, bares de estrada, pousadas baratas e paisagens tropicais. Essencialmente brasileiro nesse aspecto do cenário, o romance, embora curto, vai desfiando uma trama singela que cativa e emociona qualquer um.

Li o livro em um final-de-semana. É uma leitura rápida, fluída. A linguagem da narrativa é deliciosa e se situa no meio-fio que separa o formal do coloquial. Como definiu muito bem Jason Tércio,

"Com uma linguagem coloquial, sem maneirismos experimentalóides, Mauro narra muito habilmente uma aventura literária que emociona e nos faz pensar na fragilidade e no efêmero da existência, mas sobretudo na importância crucial da liberdade."

Conclusão: Muito recomendado. Estamos diante de um livro que merece ser lido, e de um autor que merece ser apreciado.

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A seguir, um trecho de entrevista com o autor disponibilizado no site da Rocco. (Para ter acesso a toda a entrevista, acesse aqui.)

"Eu passei boa parte da vida nas estradas, é natural que minhas histórias sejam impregnadas de viagens. Com dezessete anos me desiludi com o vestibular. Passei uns três anos viajando pelo Brasil. Depois, mais dez anos no exterior. Talvez eu use as estradas para falar das coisas que me emocionam, como a amizade, os encontros e desencontros entre os seres – coisas que não acontecem unicamente nelas, mas que eu pude experimentar através delas."