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08 maio 2011

Skinner e a ciência do comportamento humano

"O comportamento é a base de todos os fenômenos humanos."

pessoas

As pessoas que me conhecem há muito tempo sabem que, quando estou em período de aulas (ou seja, de fevereiro a junho e de agosto a novembro), eu não tenho a menor vontade de ler os livros de arte – em outras palavras, a literatura propriamente dita. Nessa época de trabalhos exigentes e provas que abarcam todo o conteúdo dado no semestre, não me sinto propenso a dedicar muitas horas do dia à leitura de entretenimento.

Mas, como adoro livros, não posso deixar de ir religiosamente à minha livraria predileta quase todos os dias. O que é doloroso é ver aquele mundo de livros prazerosos e não poder ler nenhum, pela mera falta de tempo. Então, imagino, o jeito é dar uma olhada nos livros técnicos; assim eu não fico com a consciência pesada por estar simplesmente me divertindo, e não estudando.

Então, hoje, entrei na livraria e fui direto à ala dos manuais de Psicologia. Para quem ainda não sabe, embora eu tenha muito interesse pelos livros técnicos, raramente dou uma olhada no que as editoras estão lançando, a não ser que um professor da minha estima comente algo sobre um novo compêndio ou sobre um novo teórico que merece ser lido. Se não for por isso, eu realmente não me sinto motivado a ir até aquele recôndito escondido das prateleiras de Psicologia.

Mas, afinal, vamos pôr fim a esse blablablá todo e ir direto ao assunto deste post, que, espero, seja interessante mesmo para aqueles que não estudam psicologia.


B.F. Skinner

B. F. Skinner (1904-1990), principal cientista do comportamento humano


Voltando à livraria: eu estava passando os olhos pela estante e uma coisa me chamou atenção. Na verdade, a ausência de uma coisa. Eu não conseguia encontrar livros que abordassem a Análise do Comportamento, ou mesmo qualquer coisa que se aproximasse do behaviorismo. A Análise Comportamental (sustentada pela filosofia behaviorista) é uma das três correntes teóricas básicas da psicologia; um dos três pilares que sustentam todo o edifício teórico do que foi estudado até então em psicologia. As outras duas correntes, obviamente não menos importantes, são a psicanálise (iniciada por Sigmund Freud) e o humanismo fenomenológico. A partir dessas três, muitas sub-vertentes foram fundadas, em diferentes  épocas e lugares do planeta.

Se uma pessoa que ingressa na psicologia tem como preceito básico a noção de que essa ciência estuda, fundamentalmente, a mente humana, sem dúvida ela ficará extremamente surpresa ao se deparar com a Análise do Comportamento. Por quê? Porque, diferentemente das duas outras correntes, a A.C. não se propõe a considerar a psique humana. E, já que estamos falando de teorias psicológicas, isso pode parecer um absurdo.

No entanto, principalmente nos Estados Unidos da América, a A.C. é vastamente propagada e aceita nos dias de hoje. Talvez porque seus principais precursores, Watson e Skinner, eram norte-americanos. De qualquer forma, o fato é que, como abordagem psicológica, a A.C. faz tanto "sucesso" como qualquer outra das duas, psicanálise e humanismo fenomenológico. Além de muito propagada, ela não deixa de ser, também, bastante polêmica.


rato

Os ratos são os animais comumente utilizados nas universidades, para o estudo do comportamento. Não são poucas as polêmicas que surgem a partir da questão ética da utilização desses animais em laboratório


De um modo geral, desde Skinner, o que a A.C. defende é a idéia de que são dois os tipos de comportamento que apresentamos. O primeiro, comportamento reflexo ou respondente, abarca todas as nossas respostas involuntárias ao ambiente: dilatação da pupila no escuro, salivação diante de comida, sudorese depois de exercícios etc. É, segundo um professor meu, o kit básico evolutivo para a nossa sobrevivência neste planeta.

O outro tipo, o comportamento operante, é constituído por todos os nossos atos e gestos que foram "aprendidos" segundo contingências de reforço e punição. Exemplos:

Se eu percebo que conversar com pessoas estranhas se torna mais amigável e agradável quando inicio o diálogo falando "bom dia", "com licença" ou "por favor", a probabilidade de eu continuar abordando pessoas estranhas com essas palavras cordiais aumenta. Essa relação atende pelo nome de "reforçador positivo"; "positivo" porque um estímulo reforçador (conversas agradáveis e amigáveis, ou seja, diálogos proveitosos) foi acrescentado ao ambiente como consequência do meu comportamento de iniciar minhas falas com palavras cordiais.

Se eu percebo que beber 2 litros de água por dia está ajudando a combater meu cálculo renal, então, mais uma vez, é provável que eu continue emitindo esse comportamento nos dias subsequentes. Aí temos uma relação de "reforço negativo"; "negativo" porque um estímulo aversivo (cálculo renal) está sendo subtraído do ambiente com a emissão do meu comportamento de beber água.


pombos

Skinner usava pombos em seus experimentos: pombos também têm superstições


Essa exposição teórica brevíssima tem o objetivo de mostrar quão categórica e disciplinar é a Análise do Comportamento proposta por B. F. Skinner. Objetividade e rigor científico, como todos sabem, são os ideais básicos de toda teoria do mundo acadêmico. E o problema está justamente aí. A proximidade com esse universo científico rigoroso e observável é o que faz a A.C. receber tantas críticas, já que a psicologia, como ciência que estuda a psique humana, defende a ideia de que a subjetividade não pode ser reduzida a conceitos de modo lógico.

Justamente por esse motivo, o estudo analítico do comportamento humano tem recebido críticas fervorosas de grande parte da comunidade científica de psicologia; "psicologia newtoniana mecanicista" e "psicologia biológica universalizante" são os principais xingamentos. Acredito que, se os críticos entendessem que a A. C. se propõe a estudar a individualidade das pessoas de outra forma, considerando que temos uma história filogenética, ontogenética e cultural subjetiva, e que isso não reduz em nenhum momento o valor da natureza humana (pelo contrário, o amplia), aí talvez essas críticas não fossem feitas. O objetivo da A. C. não é universalizar a subjetividade (isso seria um contrassenso); é, antes de tudo, estudar conceitos pragmáticos que são aplicáveis a uma consideração sistemática do fenômeno humano – do comportamento humano.


ciencia e comportamento humano

Livro que comprei. Capa enigmática, convenhamos. Preço salgado: R$ 78,00


Nesta postagem, meu objetivo era falar alguma coisa pessoal sobre o mais famoso cientista do comportamento, B. F. Skinner, e sobre o livro dele que encontrei hoje na livraria, em meio a ensaios e tratados de Freud e Carl Rogers. O livro se chama Ciência e comportamento humano e é considerado o manual básico da Análise do Comportamento, já que todos os principais conceitos da teoria são abordados e discutidos pelo próprio criador deles.

Eu tenho afeição pela A.C. desde que fiz meu trabalho com sujeitos experimentais de laboratório (os famosos ratinhos) e pude, enfim, perceber como o comportamento dos seres vivos (de um modo geral) é universal. Mas isto já é assunto para outro texto.

3 comentários:

  1. Olá Marlo, a leitura é uma arte dual: pode acontecer em decorrência da obrigação (no caso de acadêmicos) e por prazer.
    No mundo de correrias que vivemos a leitura por prazer fica sempre em segundo plano, pois somos asfixiados pelas obrigações.
    No entanto, quando lemos um livro ligado a um curso universitário, como este que você cita, no fundo também aprendemos a "degustá-lo" com prazer.

    abraços,

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  2. Olá, Gustavo! Saudades!

    Tem razão: lê-se por "obrigação" e por entretenimento. E você falou uma coisa muito certa. Mesmo dos livros técnicos nós aprendemos a gostar, e no final das contas os degustamos com prazer, tal como fazemos com os romances. Aprendi isso recentemente.

    Grande abraço!

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