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23 agosto 2010

Quando só restar o mundo, de Mauro Pinheiro

"E qual seria a matéria-prima do destino? O tempo? As pessoas?" (p. 8)

Quando só restar o mundoMauro Pinheiro

Eu já descobri há muito tempo que um passeio despretensioso por uma livraria qualquer, além de muito prazeroso, pode trazer também muitas revelações, principalmente se você é alguém que gosta de ler livros que os outros desconhecem. Foi assim – passeando sem objetivo pela livraria – que descobri Coração, de Natsume Soseki, Templo, de Matthew Reilly e Um país distante, de Daniel Mason (ótimos e desconhecidos livros).

Sábado passado, foi totalmente por acaso que dei de cara com Quando só restar o mundo (2002), romance escrito pelo carioca Mauro Pinheiro, nome até então quase anônimo no nosso circuito literário brasileiro. Vocês já ouviram falar dele? Eu também não, até semana passada. E continuaria hoje sem saber quem era, se não tivesse levantado o olhar sem querer e visto aquele volume de meras 122 páginas espremido entre a parede da estante e um catálogo sobre a Revolução Francesa.

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Sinopse: Pedro Paulo é desencantado com a profissão, estéril, inadaptado ao universo nem sempre ético do mercado financeiro, em crise de solidão. Pede demissão do emprego, destruindo seu mundo estável e confortável, e parte de carro para procurar na Bahia a mulher que o abandonou. Mas na estrada se vê inesperadamente envolvido numa perigosa aventura com outra mulher, a misteriosa Serena, e seu filho pequeno.

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No site da editora Rocco (aqui), há o seguinte trecho da biografia do escritor:

"Mauro Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro. Morou no subúrbio até os dezessete anos, quando decidiu intervir no destino que lhe parecia óbvio, e botou o pé na estrada. Viajou pelo Brasil durante três anos, vivendo de bicos e da solidariedade dos amigos que fez."

Isso lembra, em quase tudo, a história do andarilho Christopher McCandless, norte-americano de classe alta que abandonou o "destino que lhe parecia óbvio" e circulou durante dois anos pelos Estados Unidos, fazendo amigos pela estrada, até ser encontrado morto dentro de um ônibus no Alasca.

Estou falando isso (fazendo essa relação) porque gosto de coisas desse gênero aventuresco. Pessoas que têm visão para perceber que suas vidas são valiosas demais para serem desperdiçadas dentro de um escritório ou na frente de um computador – ou nas duas coisas simultaneamente – essas pessoas sempre me atraíram. Tenho simpatia por elas. Porque, no fundo, penso do mesmo jeito.

Como viajante inveterado, Mauro Pinheiro não poderia deixar de transportar esse sentimento desprendido para os seus livros. Todos eles – quatro, até agora – estão incluídos no gênero que eu resolvi chamar de road book: livros cujas tramas estão baseadas em viagens sem rumo pelas estradas, cujo objetivo é, necessariamente, a viagem em si, e não o destino.

Quando só restar o mundo é um clássico desse gênero. Durante a viagem que os três protagonistas (Pedro, Serena e seu filho) empregam ao longo da história, nós leitores somos transportados para praias desertas do nordeste, bares de estrada, pousadas baratas e paisagens tropicais. Essencialmente brasileiro nesse aspecto do cenário, o romance, embora curto, vai desfiando uma trama singela que cativa e emociona qualquer um.

Li o livro em um final-de-semana. É uma leitura rápida, fluída. A linguagem da narrativa é deliciosa e se situa no meio-fio que separa o formal do coloquial. Como definiu muito bem Jason Tércio,

"Com uma linguagem coloquial, sem maneirismos experimentalóides, Mauro narra muito habilmente uma aventura literária que emociona e nos faz pensar na fragilidade e no efêmero da existência, mas sobretudo na importância crucial da liberdade."

Conclusão: Muito recomendado. Estamos diante de um livro que merece ser lido, e de um autor que merece ser apreciado.

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A seguir, um trecho de entrevista com o autor disponibilizado no site da Rocco. (Para ter acesso a toda a entrevista, acesse aqui.)

"Eu passei boa parte da vida nas estradas, é natural que minhas histórias sejam impregnadas de viagens. Com dezessete anos me desiludi com o vestibular. Passei uns três anos viajando pelo Brasil. Depois, mais dez anos no exterior. Talvez eu use as estradas para falar das coisas que me emocionam, como a amizade, os encontros e desencontros entre os seres – coisas que não acontecem unicamente nelas, mas que eu pude experimentar através delas."

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