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15 agosto 2010

Segurança pública?

"Crie uma imagem mental nítida da coisa certa a fazer antes de executá-la." (Alex Morrison)

Ainda permanece um mistério o que levou um policial militar a balear um estudante de 14 anos no centro congestionado da cidade de Fortaleza. Mas os fatos, amplamente divulgados pelos jornais, foram os seguintes.

O policial homicida estava em um carro da polícia, parado no acostamento de um semáforo, quando viu uma motocicleta passar por um cruzamento. Os dois ocupantes da moto foram considerados suspeitos – por quê, ninguém sabe, mas foi alegado que "o menino da garupa estava olhando constantemente para trás, para o carro da polícia". O policial então cismou, iniciou uma perseguição, ordenou que o motorista da moto parasse, mas, como nada aconteceu, um tiro foi disparado na nuca do menino, que estava na garupa.

O grande problema é que

"no local da tragédia, familiares da vítima informaram que o pai do garoto trabalhava com conserto de refrigeradores e costumava levar o filho nas visitas que fazia. O menino carregava uma caixa de ferramentas do trabalho do pai. A Polícia não encontrou nenhum crime em nome do pai da vítima. O homem afirmou que não ouvira, de modo algum, o alarme da polícia e a ordem para que parasse."

Foto: Leal Mota Filho 

A Polícia afirma que "a arma foi disparada acidentalmente", mas ninguém acredita nessa história. Seria demais que o acaso determinasse que uma arma disparasse nessas circunstâncias, justamente na nuca da vítima. O que está em jogo é o despreparo dos policiais que monitoram a segurança pública, isso sim. Inúmeras questões de procedimento devem ser ministradas nas academias de polícia, para que casos assim não voltem a ocorrer.

Considero um absurdo matar uma pessoa inocente, principalmente quando ela foi alvo do equívoco de policiais. É o mesmo caso do brasileiro Jean Charles, assassinado pela Polícia inglesa ao ser confundido com um terrorista foragido. E muitos outros casos que aconteceram mundo afora, dos quais às vezes nem temos notícia.

Antigamente, saíamos de casa com medo de sermos assassinados por bandidos, mas agora nós saímos também com medo de sermos mortos por policiais. O desfecho catastrófico de pessoas inocentes, como o rapaz da motocicleta, e a visível impunidade dos verdadeiros bandidos (muitos deles engravatados) são a fonte de maior consternação sentida pelo povo da nossa sociedade nos dias atuais. É o que eu acho.

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Não é o objetivo do Gato Branco em Fuligem de Carvão tratar de assuntos relacionados à sociedade física em que vivemos, sejam eles quais forem (a segurança pública, por exemplo). Como os leitores freqüentes puderam perceber, nenhum comentário sobre as recentes campanhas para as eleições presidenciais foi traçado aqui, tampouco algo sobre o vazamento de petróleo no Golfo do México ou sobre a Copa do Mundo na África. 

Golfo do MéxicoCopa do Mundo 2010

O mais longe que eu, dono do blog, me contento em ir, é escrever sobre aspectos filosóficos pertinentes à literatura, à música e ao cinema, e o pouco que isso implica na comunidade social. Tudo o que se situa fora desse círculo temático não compete a mim, diretamente, nem às pessoas que vez ou outra contribuem com um assunto de artigo. Falar sobre livros, músicas e filmes é a primazia até então.

Mas, resolvi abrir uma exceção hoje e falar exatamente sobre isto: sobre um aspecto fundamental da nossa sociedade que, infelizmente, está distorcido e precisa ser consertado – a segurança pública.

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"O pior de tudo era o sangue. O sangue que saía da parte de trás da cabeça dele e caía no asfalto, e ia para debaixo do corpo morto. O contraste do negro do piche do asfalto e do vermelho do sangue causava náuseas. Aquele corpo de rapaz ali, inerte, inocente, acabado, coberto por um pano. E os policiais e as pessoas ao redor, e o pai, derrotado, abraçado ao filho. Tudo isso era angustiante e durou muito tempo. Os policiais pareciam realmente incomodados, mas o que batucava na cabeça deles era isto: Se for bandido, ótimo, se não for, fazer o quê? Mas o menino lá estava no chão, como que a gritar com eles: Vocês ainda têm muito o que aprender. Sempre tiveram. Todos, todos vocês."

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