"A vida se apresentava para mim num aspecto completamente diferente: eu acabava de nascer para uma nova ordem de idéias." (p. 127)
Agora há pouco, mergulhado na noite silenciosa e melancólica de hoje, acabei a leitura do livro Contos clássicos de vampiro, lançado nas livrarias do Brasil pela editora Hedra. O livro – como o próprio título já explica – é uma coletânea de histórias clássicas sobre vampiros, textos que vão desde o inglês Lord Byron até M. R. James, mestre na arte de contar histórias de horror.
Se não estou equivocado, é certo que nenhum conto data de além do século XIX. Vou ficar de olho na editora Hedra, que, embora seja pouco conhecida pelo leitor comum, publica vários títulos interessantes.
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Sinopse: Esta coletânea abrange um período de cem anos de histórias de vampiros, desde o fragmento de Byron, passando pelo capítulo inicial de "Drácula", suprimido por Bram Stoker, até o inédito “A tumba de Sarah”, de F.G. Loring. O leitor conta nesta edição com as obras seminais no campo da ficção, além de um apêndice com algumas das mais representativas produções literárias sobre o tema, como o fragmento do grego Filóstrato, e os poemas de Ossenfelder, Bürger,Goethe e Coleridge.
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Depois de ter lido dois contos do livro na própria livraria – Fragmento de um romance e Porque o sangue é vida – tomei vergonha na cara e comprei a coletânea. Já tinha certeza de que não ia me decepcionar. Quando eu encontro um livro por acaso numa prateleira, começo a lê-lo e ele simplesmente não sai das minhas mãos, posso garantir a mim mesmo que não vou perder dinheiro se comprá-lo.
E não me arrependi mesmo. Todas as histórias são perfeitas no objetivo de entreter o leitor. Por isso, suponho, são clássicas: se passaram centenas de anos entretendo leitores de incontáveis gerações, não há porque não continuar publicando-as. E acho mesmo necessária uma coletânea desse tipo, porque, depois de Crepúsculo (cujo filme adorei) a banalização acerca do tema vampiro ficou beirando o insuportável. Parece que milhares de escritores que não conseguiram a fama de outro modo estão pegando carona em Stephanie Meyer, autora que, por sinal, é na maioria das vezes injustamente criticada.
Théophile Gautier e Francis Marion Crawford
Adoro a linguagem utilizada nesses textos que datam do século XIX e começozinho do século XX. Como diria Natália, minha amiga inseparável de literatura: "É uma linguagem que consegue ser precisa e floreada ao mesmo tempo, fechada e aberta, transgressora e conservadora, sem nunca perder a elegância." Natália e suas classificações de dar inveja.
De todos os contos do livro, certamente o mais profundo e interessante de todos – embora todos sejam interessantes – é A morta amorosa, do genial Théophile Gautier. A posição intermediária entre o sagrado e o profano na qual o pobre pároco Romualdo se encontra inserido, suscita inúmeras reflexões dignas de nota, muito bem escritas, aliás, além de ver o vampiro (vampira, no caso) sob outro prisma.
Essa coletânea vem dotada de um grande prefácio e um grande posfácio. O primeiro é uma introdução escrita por Alexander Meireles da Silva, que traça todo o perfil histórico do vampiro, desde as suas origens inicialmente eslavas até o papel que a figura folclórica desempenha no cinema. Vale muito a pena ser lido. O segundo, posfácio, é um apêndice generoso que contém poemas de grandes escritores – Goethe incluído – acerca do tema vampiresco. Já essa parte eu li apressado porque não me interessou muito.
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Conclusão: livro altamente recomendado. Tanto para os fãs do tema quanto para os apreciadores da boa literatura clássica.