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25 outubro 2010

Música: Blowin' in the wind, de Bob Dylan

"E ninguém jamais te ensinou como viver na rua, / E agora você descobre que vai ter de se acostumar a isso." (trecho de uma das músicas mais famosas de Bob Dylan, Like a rolling stone)

Freewheelin'

Qualquer indivíduo apreciador da boa música já ouviu, pelo menos uma vez na vida, a música Blowin' in the wind, verdadeiro hino da década de 1960, composta por um dos mais prolíficos artistas norte-americanos dessa época: Bob Dylan. A letra da canção deveria ser elogiada por adjetivos que fossem além de "maravilhosa" e "sensível".

Se você é um apreciador da boa música e ainda não ouviu falar dessa obra-prima da poesia cantada, então é agora que vai conhecê-la. Aqui neste post, trago a tradução da música – que você encontra em qualquer buraco da internet, aliás – e um vídeo do Youtube com o áudio da canção, na versão cover do trio Peter, Paul & Mary.

A melodia instrumental da música é extremamente simples: apenas um dedilhar de violão e um sopro ocasional de gaita. Na verdade, acho que a maioria das músicas de Dylan é assim: privilegia a letra, e não necessariamente a melodia instrumental; mesmo bonita, esta apenas embala tudo.

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"Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir,
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele perceber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento"

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Blowin' in the wind é a primeira faixa do CD Freewheelin' (imagem acima) e ganhou uma fama maior ainda quando foi regravada pelo trio Peter, Paul e Mary. O álbum de Dylan está entre os 1001 Discos para se ouvir antes de morrer.

Abaixo, o áudio-vídeo da música. Não é a versão original. Não a coloquei aqui porque ela é extremamente difícil de achar, ao contrário do que eu pensava. No mais, espero que gostem. É a versão de Peter, Paul & Mary.

18 outubro 2010

Contos, de Katherine Mansfield

"Deixamos para trás o bulício da cidade, e não consigo nos imaginar voltando algum dia (…)" (p. 141)

Contos completosKatherine Mansfield

Hoje, pelo finalzinho da tarde e início da noite, eu finalizei a leitura de uma coletânea de Contos da famosa escritora neo-zelandesa Katherine Mansfield, aquela da qual a célebre Virginia Woolf disse: "Eu tinha inveja dos textos dela".

Fui atrás de um livro da Mansfield porque vi que Erico Verissimo, escritor nacional pelo qual tenho verdadeira fixação, cita no seu romance Caminhos cruzados (1934) o nome da autora. Nessa passagem, o personagem Noel Madeira comenta com sua amiga Fernanda que está lendo contos da Katherine Mansfield, e acrescenta que está adorando. Então…

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Sinopse: Esta edição reúne contos da mais fina produção da escritora. Em relação às publicações anteriores no Brasil há correções importantes de erros de revisão e de tradução, que comprometiam às vezes a intelecção de passagens inteiras. Foram incluídas, também, notas esclarecedoras sobre contextos locais.

A edição traz, ainda, apêndice com trechos de seus diários comentando cada conto, bem como sugestões de leitura e fotos inéditas do arquivo Katherine Mansfield da Biblioteca Nacional da Nova Zelândia.

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Como geralmente acontece, eu encomendei o livro pelo site da Estante Virtual porque constatei que o preço das lojas é um absurdo, totalmente inacessível para mim. Quando constato isso, não perco tempo: procuro o título em sebos virtuais, confiro a qualidade do que estão vendendo (se o volume está rasgado, amassado, riscado etc.) e compro na mesma hora. Até agora, tem dado certo.

Quem for vasculhar com cuidado a minha estante no site Skoob, vai ver que demorei praticamente dois longos meses para acabar a leitura desse livro de contos da K. Mansfield. A demora foi por duas razões. A primeira razão tem sua origem em questões práticas: eu comprei o livro logo depois de voltar às aulas, e, sempre que isso acontece, leio o comecinho e deixo o resto para depois. A segunda razão surgiu porque não gostei do comecinho que li. Por essas, demorei a pegar no livro de novo.

Mas, ainda bem que o mundo dá voltas e, com isso, o sol se põe e se ergue cotidianamente. Como eu raramente abandono um livro, fui até o final dos contos da Mansfield, custasse o que custasse. E agora, terminada a leitura, confesso: adorei tudo. Impressionante.

Aula de cantoK.M.

Fotos ilustrativas: uma brochura de Mansfield e uma foto sua

Realmente, falando sério agora, foi impressionante o que me aconteceu com esta coletânea: achei o começo péssimo (eu não li os contos em ordem, vale ressaltar), mas depois de terminados os primeiros textos, o resultado final foi excelente. Inúmeras passagens memoráveis. Na história Conto de homem casado, por exemplo, a autora invoca a primeira pessoa masculina e traça várias reflexões sobre a vida conjugal decadente, reflexões que realmente deixam o leitor pensativo… digamos, com o coração mole.

Em As filhas do falecido coronel, excelente conto, as duas moças Constantia e Josephine tentam lidar com a figura ausente do recém-falecido pai. Fazem um inventário de seus pertences, convidam pessoas para visitá-las, mas mesmo assim não se vêem livres da autoridade do coronel morto.

Diário e cartasK.M.

Fotos ilustrativas: "Diário e cartas" de Mansfield e uma foto sua

O ponto-chave da coletânea são os contos que compõem a Trilogia da infância na Nova Zelândia (Prelúdio, Na Baía e A casa de bonecas), que contam um pouco do cotidiano da família Burnell, formada pelo típico homem de negócios, Steve, pela mulher sensível e devaneadora, Linda, e pelas suas três filhas pequenas, Isabel (a manda-chuva chata), Lottie (a novinha tola) e Kezia (preferida de Mansfield, nota-se desde o começo). Em Na Baía, a reflexão do personagem Jonathan – irmão de Linda –, sobre a vida mal-aproveitada que as pessoas levam dentro de escritórios, é belíssima.

Os contos que me deixaram traumatizado no início são, realmente, os menos atrativos: Alemães comendo, Uma viagem indiscreta e o razoável A mosca. Talvez com exceção deste último, os outros são completamente sem sentido, sem objetivo, como se a autora os tivesse escrito sem um planejamento prévio, apenas vomitando as cenas. São mesmo ruins. Até um amigo meu, fã de Mansfield, concordou.

Conclusão: eu diria que essa coletânea necessita de um leitor bem paciente e atencioso. Se você encarar os contos com boa vontade e pouca expectativa, com certeza vai gostar. Com certeza.

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"Aquilo era viver – sem se preocupar, sem pensar, generosamente. (…) Levar as coisas serenamente, não lutar contra a maré e o fluxo da vida, mas dar passagem a ela – era disso que se precisava. Aquela tensão é que estava errada. Viver – viver! E a manhã perfeita, tão nova e bela, deleitando-se à luz do sol, como que a sorrir de sua própria beleza, parecia sussurrar: 'Por que não?'". (p. 152)

11 outubro 2010

O homem terminal, de Michael Crichton

"As máquinas estão em toda parte. Elas costumavam ser os servos do homem, mas agora começam a dominar, de forma muito sutil." (p. 84)

O homem terminalMichael Crichton

Hoje pela manhã eu finalizei a leitura do romance O homem terminal (The terminal man, 1972), assinado pelo famosíssimo escritor norte-americano Michael Crichton, vítima de um câncer que levou sua vida no final de 2008. Para trás, ele deixou obras como o best-seller Jurassic Park e o intrigante Esfera.

Já li praticamente toda a obra desse autor, incluindo o seu primeiro romance, Um caso de necessidade, feito sob o pseudônimo de Jeffery Hudson. Até agora, possuo mais livros dele do que de qualquer outro autor.

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Sinopse: Uma lesão cerebral, resultado de um acidente automobilístico, causa sérios danos ao especialista em ciência da computação Harry Benson. Ele começa a apresentar sintomas de uma doença que provoca súbitos ataques de violência, a Lesão Desinibitória Aguda (LDA).

Numa tentativa de controlar esses impulsos de agressão, Benson é submetido a um revolucionário método cirúrgico em que eletrodos são implantados em seu cérebro. O objetivo do time de cirurgiões de Los Angeles, responsáveis pela experiência, é conter através de um microcomputador as perigosas crises homicidas do paciente. A cirurgia, porém, não é bem-sucedida.

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O homem terminal é o segundo romance de Crichton e o primeiro que realmente mistura medicina pura com ficção científica. Eu consegui trocá-lo no site Trocando Livros (www.trocandolivros.com.br) por um que eu tinha e não gostava muito, O jogo das horas, de David Baldacci. Valeu a pena. Crichton é mais instigante.

O homem terminal é um livro de começo lento, paulatino, em que muitas explicações são dadas e quase nenhuma ação é narrada. No entanto, isso não é problema; as coisas explicadas no começo são muito interessantes, principalmente para quem é ligado à área de medicina ou psicologia.

Além do mais, esse "começo lento" só faz o livro ficar mais verossímil, na minha opinião. A ação propriamente dita, que só tem início um pouco após a metade do romance, parece mais realista depois que o autor expôs uma série de detalhes teóricos acerca da doença de Harry Benson e do tratamento que fora realizado nele – ou seja, no começo da obra.

Edição norte-americanaPôster do filme

Edição norte-americana e pôster do filme

Os pensamentos do personagem McPherson sobre um super-computador composto por tecido orgânico, por exemplo, colocam o leitor para refletir um pouco sobre a tecnologia atual e até onde ela é capaz de ir. O que mais me impressiona nos livros de Crichton – e no O homem terminal em especial – é que eles foram escritos há muito tempo e falam sobre coisas que para nós, leitores do século XXI, ainda parecem absurdas, embora verossímeis.

Esse é um dos poderes dos livros de Crichton: falam sobre coisas que achamos absurdas mas, lá no fundo, sabemos que é só uma questão de tempo para vê-las surgir no mundo.

Gostei bastante da dra. Janet Ross, a psiquiatra que cuida de Benson. Sua personalidade é agradável e nota-se que o autor a tem como sua criação preferida da história. O próprio Harry Benson também me pareceu um vilão digno de nota, o tipo do vilão que é vilão por uma causa externa, não-intencional.

Por fim, acho que o leitor aproveita mais a obra de Crichton se souber da relação do autor com a medicina. Em resumo, pode-se dizer que Crichton abandonou a faculdade de medicina porque não gostava do método frio e distante dos médicos durante o tratamento de seus pacientes, vendo-os mais como objetos do que como pacientes. E é a essa crítica aos médicos que o escritor pareceu dar mais importância nos seus primeiros livros. Para maiores detalhes, basta conferir seu livro Álbum de viagens.

Assim, O homem terminal trata da mesma coisa: pacientes que são tratados como objetos da medicina, como "coisas" interessantes para o meio médico acadêmico.

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Conclusão: Um romance instigante. Altamente recomendado.

04 outubro 2010

Filme: O último rei da Escócia

Dirigido por Kevin MacDonald, o drama estrelado por Forest Whitaker e James McAvoy é de arrepiar

O último Rei da Escócia

Mesmo gripado, mesmo com febre, mesmo com dor de cabeça, eu quis porque quis assistir O último rei da Escócia (The last king of Scotland, 2006). Havia comprado o DVD há uma semana mais ou menos, e só estava esperando chegar o final-de-semana para assisti-lo. Agora, quando ele chega, estou doente. Azar.

O dr. Nicholas Garrigan (James McAvoy) é um jovem médico escocês recém-formado que decide viajar para um país exótico e pobre a fim de ajudá-lo no quesito da saúde pública. Ele então faz as malas, sai da Escócia e vai parar em Uganda, país assolado por uma violenta guerra civil, da qual resultou a ascensão do militar Idi Amin Dada interpretado brilhantemente por Forest Whitaker (ganhador do Oscar 2007).

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A aventura começa quando o dr. Garrigan se torna, meio que por acaso, o médico particular do imponente ditador ugandense. Embora a relação que se estabeleça entre os dois seja de grande amizade e intimidade, o jovem médico se vê cada vez mais envolvido numa trama perigosa e cheia de armadilhas, pois Idi Amin governa com mão de ferro o seu ingênuo país e às vezes pega pesado. Então, aos poucos, o amigável ditador vai mostrando os dentes.

Não pretendo falar muito sobre o enredo do filme para não estragar as surpresas. Mas, garanto logo: é um filme arrebatador, imprevisível, chocante, dinâmico. Gostei bastante. Melhor ainda foi saber que o longa é baseado no livro homônimo de Giles Foden – que infelizmente não foi traduzido aqui para o Brasil.

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Eu diria que boa parte da qualidade do filme se deve à atuação de ponta dos atores principais. Claro que a história por si só já é interessantíssima, mas ficou mais interessante ainda com esse ponto extra. Whitaker com o seu olho esquerdo meio fechado é impagável, e a seriedade com que interpreta faz dele o próprio ditador em pessoa. McAvoy, o médico, que eu pensei que fosse um ator casual, fez a diferença também.

O mais surpreendente de tudo é que, muito antes de tomar conhecimento desse filme, eu já estava planejando escrever uma história que se passasse em Uganda, em meio a uma guerra civil que seria testemunhada por dois estrangeiros – no caso, um psicólogo e uma jornalista. Qual não foi a minha surpresa quando vi a sinopse de O último rei da Escócia!

Conclusão: um filme para ser visto, revisto e recomendado.

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Abaixo, disponibilizo o trailer do filme. (Sem legendas, infelizmente.)