"Um dos meus defeitos de adolescente era não gostar de nada que eu não compreendia, a começar por mim mesma." (p. 131)
Há umas duas semanas eu ando lendo um livro chamado Non-Stop – crônicas do cotidiano (2001), que é um conjunto de crônicas escritas pela escritora gaúcha Martha Medeiros, publicitária e redatora de agências conhecida no Brasil pela obra Divã, cuja adaptação para o cinema teve grande sucesso.
O exemplar que chegou às minhas mãos foi presente de um amigo que estimo bastante, e que adora conversar comigo sobre literatura. Além do livro em questão, ele me presenteou também com O seminarista, de Rubem Fonseca, romance que terá seu lugar aqui no blog em breve. O livro da Martha foi lançado em uma edição de bolso da L&PM Pocket.
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Sinopse: Vivemos um tempo de manchetes espetaculares explodindo nos jornais; a vida passa ao vivo pela TV e todos nós acabamos por compartilhar planetariamente os dramas do mundo. E se por um lado há o grande mundo que todos vêem pela televisão, por outro, há o pequeno e anônimo mundo de cada um de nós. O cotidiano dos milhares de pessoas que circulam pela cidade grande com suas incertezas, alegrias, dúvidas, paixões, dramas e esperanças. Martha extrai da complexidade dos tempos que correm a reflexão que atinge e aquece o coração dos seus leitores.
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Eu nunca havia lido um livro de crônicas, essa é a verdade. Mal sabia discriminar que gênero é esse de que as pessoas tanto falam e que impulsiona tantos escritores. Eu já havia lido alguns textos intitulados de "crônicas" escritos por Carlos Drummond e Olavo Bilac, mas foi somente lendo Martha Medeiros que finalmente entendi o que significa a crônica moderna por excelência.
De textos que vão desde setembro de 1999 até setembro de 2001, Martha discorre sempre sobre o mesmo assunto: o cotidiano – e devemos perceber que esse é um tema vastíssimo. Ela escreve sobre a sociedade em geral, sobre filmes a que assiste, livros que lê, cartas que recebe, cenas que testemunha etc., e invariavelmente dá a sua opinião sobre a coisa.
Non-stop (edição de luxo) e Divã
No entanto, apesar da vastidão de assuntos, o que a autora parece preferir é o subtema "relacionamentos amorosos", sexo incluído, responsável por uma boa quantidade de textos. Essa fixação pelo tema às vezes sugere uma semelhança com livros de auto-ajuda, mas – ainda bem – passa longe da pieguice, coisa que a própria autora não suporta.
As crônicas são curtíssimas e mal chegam a duas páginas. Para se ter uma idéia, a coletânea tem 254 páginas e mais de cem textos. Realmente é o tipo de redação que se publica numa coluna de jornal; uma espécie de "pausa curta para reflexão" enquanto você está passeando seus olhos pelas notícias. Uma única crônica pode ser lida em menos de um minuto.
Com alguns pensamentos você concorda, com outros não; alguns você acha esquisitos, outros, lúcidos. E é sempre bom entrar em contato com essas opiniões diferentes, primeiro porque o leitor repensa as suas questões e, segundo, porque ele tem a oportunidade de se reafirmar.
Minha mãe devorou o livro e até pensou em comprar outros da Martha, como Doidas e santas e Divã. Talvez eu dê a ela um de presente.
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Conclusão: é o tipo de literatura destinada a passar o tempo. Como livro de crônicas, excelente.
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Abaixo, um trecho muito interessante:
"Foram os livros que me deram consciência da amplitude dos sentimentos. Foram os livros que me justificaram como ser humano. Foram os livros que destruíram um a um meus preconceitos. Foram os livros que me deram vontade de viajar. Foram os livros que me tornaram mais tolerante com as diferenças. Foram os livros que me deram ânsia de investigar mais e profundamente o meu mundo secreto." (p. 148)
Abaixo, o trailer do filme Divã, inspirado em uma obra de Martha.
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