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27 março 2009

Seis Contos da Era do Jazz e Outras Histórias, de F. Scott Fitzgerald


Ao final da tarde de hoje, esparramado sobre o sofá da sala e sendo azucrinado pelo som renitente de uma britadeira que perfurava o asfalto em frente à minha casa, terminei a leitura da famosíssima compilação de historietas Seis Contos da Era do Jazz e Outras Histórias (Six Tales of Jazz Age and Other Stories, séc. XX), do emblemático escritor norte-americano Frances Scott Fitzgerald.

Sinopse (José Olympio Editora): (...) O livro reúne textos curtos selecionados com rigor e sensibilidade. Nestas páginas o leitor encontra - ou reencontra - o grande talento e a vigorosa imaginação do autor, considerado um dos maiores escritores do século XX. Em cada um dos contos deste livro é possível reconhecer - e saborear - a técnica apurada de Fitzgerald para moldar as palavras aos seus sentimentos, revelando a sua emoção, o seu humor. (...)

O leitor deste blog poderá se perguntar afinal, com total razão, o que me levou a investigar outra obra de Fitzgerald, tendo em vista que recentemente critiquei aqui de forma tão árdua O Grande Gatsby, considerado por todos seu romance mais glamoroso (ver dia 30 de janeiro de 2009). Acontece que pouco tempo depois de me decepcionar com Gatsby, deparei-me com esta coletânea de contos do autor, e, mesclando falta do que fazer com um leve interesse, folheei Seis Contos da Era do Jazz em pé na minha livraria predileta, depois de voltar da universidade (ver dia 15 de fevereiro de 2009); foi nessa ocasião que acabei devorando - em pé mesmo - duas histórias do livro, que então me pareceu interessante e digno de uma futura leitura. Em outras palavras, não fiquei satisfeito com a decepção que tive de O Grande Gatsby e por isso resolvi dar uma segunda investigada em Scott Fitzgerald - sendo que agora eu leria alguns de seus contos, e não um de seus romances.

Comprei o livro. O resultado foi que adorei a leitura. Gostei muito, mesmo. Apagou por completo a má imagem que reputei do autor, e, além disso, tive o prazer de conhecer um pouco mais de seu excelente trabalho.

Os pontos mais altos da coletânea - altíssimos, diga-se de passagem - são os textos "O Boa-Vida", "O Resíduo da Felicidade", "O Conciliador" (excelente!), "Sangue Ardente, Sangue Frio", "O Curioso Caso de Benjamin Button" e "A Soneca de Gretchen". Todos eles, com exceção do primeiro e do quinto citados, constituem enredos dramáticos e até certo ponto muito parecidos entre si, mas ótimos o suficiente para atestar que Fitzgerald domina com perfeição a arte de contar histórias envolvendo mazelas humanas. Parece-me que é no drama que o autor encontra sua plena forma, seu pleno domínio sobre as palavras; embora, sobretudo, Fitzgerald seja reconhecido como um escritor humorista-irônico. De qualquer forma, ele narra com sensibilidade e despojamento essas histórias dramáticas, inserindo uma leitura elegante, flexível, fazendo com que o leitor mire fixamente os olhos nas páginas e não os retire de lá até que o conto seja finalizado.

O estilo de escrita em Seis Contos da Era do Jazz é, de certa forma, bem diferente daquele que encontrei em O Grande Gatsby. Naquele, Fitzgerald mostra-se mais limpo, enxuto, mais descritivo, detalhado, ajudando assim o leitor a compor os cenários com bastante facilidade. As frases são fluidas e extremamente simpáticas, apesar da enorme quantidade de vírgulas que Fitzgerald é capaz de pôr em um único período: "Depois disso, permaneceu sentada, durante muitas tardes, em seu alpendre batido pelas intempéries, a fitar os campos que desciam, ondulantes, na direção da cidade branca e verde." Porém, essa inserção de vírgulas em demasia não é, nunca, desprazerosa para quem lê.

Sem sombra de dúvida, uma pessoa que queira conhecer de perto o trabalho de Scott Fitzgerald deverá ler Seis Contos da Era do Jazz, porque é além de tudo um livro icônico e prazeroso: para os intelectuais literários, icônico; para os leitores que buscam apenas uma boa leitura, prazeroso.

Nas seis histórias de que eu mais gostei do livro existe uma miríade de trechos interessantes, dignos de serem transcritos para cá. No entanto, seleciono apenas uma passagem curta que me chamou bastante atenção:

- Eu? - exclamou Tompkins. - Você me chama de vadio porque levo uma vida um tanto equilibrada e encontro tempo para fazer coisas interessantes? Porque me divirto tanto quanto trabalho e me recuso a transformar-me num escravo monótono, enfadonho?

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