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02 janeiro 2011

Cemitério de navios, de Mauro Pinheiro

"A história de qualquer maneira nunca tem fim, são os personagens que aos poucos desaparecem." (p. 35)

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Hoje de manhã, antes de sair para o supermercado para reabastecer minha geladeira, eu finalizei a leitura de Cemitério de navios (1993), romance de estréia do carioca Mauro Pinheiro, 53 anos.

Eu só conhecia deste autor o livro Quando só restar o mundo, que é uma obra belíssima e tocante sobre viagens pelo Brasil, amizade e desprendimento. Foi por isso que fui atrás de Cemitério de navios: queria entrar em contato com outros trabalhos desse escritor.


Sinopse: Cinematográfico, Cemitério de navios é um road-book, uma longa viagem do Rio de Janeiro ao Piauí. A história de um rapaz preocupado em refazer a trajetória de um amigo que sempre manda pistas falsas sobre seu paradeiro. Poético, por vezes selvagem, Mauro Pinheiro lembra um Jack Kerouac dos anos 90, espanando o pó das estradas mais esburacadas do Brasil.


Eu penso que Mauro Pinheiro é a maior autoridade da literatura brasileira sobre road-books, ou seja, livros que têm como pano de fundo a estrada, pela qual os personagens estão sempre se deslocando, cruzando o país, com um cenário totalmente mutável. Posso estar errado (alguém me corrija se eu realmente estiver), mas acho que Mauro é o único escritor nacional que de fato tem a estrada como ingrediente indispensável em seus livros.

Também, olhando para a biografia dele, a coisa não podia deixar de ser diferente. Mauro Pinheiro saiu de casa e viajou pelo país (sozinho) com apenas 17 anos; ao completar 21, foi para o exterior e morou no Iraque, na Bélgica e na França, onde começou a escrever Cemitério de navios. Já trabalhou como cortador de lenha, operário de uma fábrica de perfumes e criador de cabras.

Portanto, é natural que seus livros falem sobre viagens…


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Um dia bato uma foto desse Cubo Mágico solucionado, prometo


Quando li a primeira frase de Cemitério de navios, fiquei quase que literalmente de queixo caído. Diz ela: Talvez certas revelações importantes só aconteçam durante a noite. Acontece que, na mesma noite, um pouco antes, eu havia tido uma revelação importante – nada espiritual, claro, mas apenas uma informação que recebi e que mexeu comigo. Na ocasião, só pude pensar: este será um daqueles livros que me lêem.

Infelizmente, não foi. Devo admitir que, ao contrário do que aconteceu com Quando só restar o mundo, eu fui perdendo o ânimo à medida que prosseguia com a leitura. Algumas frases de efeito aqui, outras ali, espaçadas… apenas isso. O tom poético dessa vez não funcionou, e ficou parecendo que o autor queria apenas testar sua habilidade em construir frases bonitas (como romance de estréia, isso é perdoável).

Atualmente, sua linguagem é madura e disciplinada sem perder o viés poético e corriqueiro. Mas, em Cemitério de navios, ela é mais dada a experimentalismos e cacoetes, muito informal. Por exemplo, o uso de "Belô" para substituir "Belo Horizonte", ou de "rodô" para substituir "rodoviária", é irritante. Mesmo assim, vemos que Mauro escreve bem, e durante a leitura não deixa de ficar martelando na cabeça do leitor um pensamento do tipo: "Esse cara é uma promessa para o futuro literário do Brasil".


É preciso continuar caminhando, talvez haja um lugar onde eu queira chegar. Um lugar que se construa à medida que o persigo e o invento. (…) É preciso sempre preencher com um sonho de luz esse lapso entre as trevas que chamamos vida. (p. 159)


Por fim, o livro só não recebeu uma nota imaginária ruim porque o final foi muito bacana. Na verdade, eu diria que o livro é um mosaico, e só quando se chega ao final é que se pode contemplá-lo de longe, observando a imagem que se forma. Nos últimos capítulos, a história consegue mostrar sua forma, seus contornos, e é interessante acompanhar as revelações que se sucedem.

Ah, vale a pena lembrar que, diferentemente do que a sinopse diz, o livro não possui nada de "cinematográfico".

Conclusão: um livro interessante para quem já entrou no universo de Mauro Pinheiro. Para os iniciados, não tão recomendado…

Resenha de Quando só restar o mundo aqui.

3 comentários:

  1. Nunca nem ouvi falar desse autor, o que é algo aceitável já que meu conhecimento da literatura brasileira é mínimo. Mas não sei, parece que esse livro não tem nada de mais, me pareceu bem genérico pela resenha.

    Ah, achei interessante a foto dentro da foto, hahahaha XD E pode resolver logo esse cubo mágico XD

    Abraço!

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  2. Marlo , você está ligeiro na leitura, nem comentei os dois livros anteriores, mas, tempo de férias é assim mesmo.

    abraços,

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  3. Essa mensagme acima fui eu que escrevi, tava com outro e-mail aberto.

    Gustavo

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