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31 dezembro 2011

5 livros que eu li em 2011 e que você gostará de ler em 2012

… se o mundo não acabar, é claro.

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Quem acompanha o Gato Branco há algum tempo sabe que eu costumo listar, no final de todo ano, as leituras que realmente valeram a pena nos doze meses que se passaram. É uma prática que se consolidou no Blog por acaso, e a qual eu tento manter como uma tradição divertida.

Como dá para imaginar, dentre tantos livros lidos em um ano, é difícil eleger e recomendar apenas cinco. Sem dúvida, um número muito maior deveria ser levado em conta, mas isso significaria formular uma lista mais complexa que, no final das contas, englobaria a maioria dos livros lidos naquele ano. Sendo assim, como a idéia é ser puramente seletivo, convém eleger mesmo apenas a fina flor das obras.

Para ler a resenha completa de cada um, basta clicar sobre as capas dos livros.


Admirável mundo novo | Aldous Huxley

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Definitivamente, não é por acaso que este livro figura como um dos clássicos mais icônicos de todos os tempos. A obra mais famosa do britânico Aldous Huxley tem qualidade, sim, e não é pouca.

Em um futuro bastante longínquo, a sociedade humana se tornou essencialmente asséptica e funcional: sem a constituição de famílias, a população do mundo é dividida em castas específicas, que variam de acordo com a função que o sujeito possui perante o meio coletivo. Com uma liberdade total – porém questionável – os Alfa usufruem do planeta que os Delta e os Ípsilon são obrigados a manter, sem que com isso se sintam oprimidos pelo sistema; pois, desde o nascimento, as pessoas são condicionadas a se adaptarem à sua classe, o que sufoca, assim, qualquer tipo de mobilidade social.

A trama começa quando Bernard Marx, um Alfa, se sente deslocado no mundo elitizado que foi tido, desde o começo, como sua classe natural. Para complicar as coisas, ele começa a se sentir apaixonado por Lenina – o que é terminantemente proibido no Mundo Novo, uma vez que as paixões perturbam os homens e os levam a fazer coisas imprevisíveis.

Além de ter uma história rica em conflitos e possuir uma escrita impecável, Admirável mundo novo é um convite à reflexão sobre as organizações humanas e suas possíveis implicações. Recomendadíssimo, principalmente para os que gostam de um bom estudo social na literatura.


Os devaneios do caminhante solitário | Jean-Jacques Rousseau

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Este foi, sem dúvida, um dos melhores que li em 2011. Sensível, lírico, inovador, poético e visceral, Os devaneios do caminhante solitário é o "adeus" do brilhante filósofo Rousseau. Aqui, o autor se mostra extremamente desiludido com relação à sociedade ou, melhor, aos homens de um modo geral; acredita ser vítima das manipulações de um complô destinado a torná-lo infeliz e anônimo. Assim, procura escrever estas páginas não para o público, mas para si mesmo, pelo simples prazer de escrevê-las e pelo que acredita ser um ato de desafio àqueles que o criticam.

É um livro completo, pois apresenta reflexões das mais variadas naturezas. Felicidade, verdade, mentira, paixões, lugares, nada escapa ao escrutínio de Rousseau. Uma das sensações que senti ao lê-lo foi a de paz interior, por alguma razão que não sei explicar. Acho que o livro transmite uma idéia de serenidade muito forte.

Para quem gosta de livros de reflexão filosófica leve, este é absolutamente indispensável.


Vida roubada | Jaycee Lee Dugard

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Raptada aos 11 anos de idade e libertada (ou melhor, resgatada) somente aos 29, Jaycee Dugard é a protagonista de uma das mais dramáticas histórias de seqüestro de todos os tempos. Suas memórias de cativeiro, retratadas no livro Vida roubada, reconstroem o cotidiano catastrófico e enfadonho que a moça foi obrigada a enfrentar durante esses árduos 18 anos em que esteve nas mãos de Phillip Garrido, sobrevivendo nos fundos de um quintal.

Mas, afinal, qual é o atrativo do livro? Ora, além de trazer uma história marcante, capaz de atrair a atenção de qualquer um, Jaycee narra sua saga com uma simplicidade e uma honestidade singulares. Sem pudores, sempre valente e pronta para contar o mais ímpio dos detalhes, a autora revela assim toda a sua conturbada relação com o homem que a raptou. Muito mais que um simples livro chocante, Vida roubada é, antes de tudo, o retrato de uma das diversas tragédias concebidas no plano das relações humanas.

Para quem gosta de histórias reais, esta é a pedida do ano.


Onde os homens conquistam a glória | Jon Krakauer

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Outra história impressionante e real que li neste ano foi a de Pat Tillman, escrita pelo jornalista Jon Krakauer – mesmo autor dos best-sellers Na natureza selvagem e No ar rarefeito.

Tillman era um popular jogador de futebol americano quando, em setembro de 2001, as Torres Gêmeas foram atacadas por fundamentalistas islâmicos. Impressionado pelo evento, seu espírito patriotista foi despertado, e Tillman abandonou a carreira nos campos para se dedicar às Forças Armadas, a fim de lutar contra aqueles que violaram seu país. Acabou morto por fogo-amigo em uma das mais desajeitadas operações do Exército Americano; a família de Tillman, insatisfeita com as explicações falsas dadas pelas autoridades, remexeu a história até encontrar a verdadeira causa da morte do jovem soldado.

Além de contar a história de Tillman em detalhes, Krakauer esmiúça uma das principais guerras que agitam o século XXI. Essa talvez seja a característica mais atraente do livro, visto que, por si só, a saga de Tillman não oferece grande coisa além de mostrar a incompetência de alguns batalhões do exército norte-americano e até onde o heroísmo de uma pessoa pode levá-la.

Para quem gosta de histórias reais e para quem se interessa pelos conflitos políticos/bélicos que rolam no sul da Ásia, um prato cheio!


Lá onde os tigres se sentem em casa | Jean-Marie Blas de Roblès

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Sem dúvida, a surpresa do ano. E o último livro lido neste 2011.

Blas de Roblès nasceu na Argélia e morou em países exóticos como Tibete e Indonésia. Estabeleceu-se também no Brasil durante algum tempo, tendo lecionado nesse ínterim na Universidade de Fortaleza (Unifor) – por coincidência, a universidade em que estudo atualmente. Da experiência que teve com o Brasil, o autor escreveu Lá onde os tigres se sentem em casa, que recebeu o prêmio Médicis 2008 na França.

O livro possui uma trama intrincada que cruza diversas narrativas aparentemente paralelas. Eléazard é um jornalista francês que serve de correspondente no Maranhão, além de estar trabalhando em um manuscrito medieval que narra a vida de um jesuíta romano. Elaine, sua ex-esposa, faz parte de uma expedição em busca de fósseis raros no interior selvagem do Mato Grosso. Moema, filha adolescente do casal, vive suas aventuras noturnas no Ceará com um jovem professor e uma amiga. Nelson é um garoto aleijado que mendiga nas ruas de Fortaleza; Moreira Rocha é o governador corrupto do estado do Maranhão, culpado pela morte do pai de Nelson. E assim por diante.

O mérito do livro está em não cair nos clichês e nas armadilhas piegas dos romances que se passam no Brasil. Nada de regionalismos estereotipados, nada lugares-comuns: a obra de Roblès é, acima de tudo, um panorama sincero do nosso país, com tudo o que há de melhor, de pior e de misterioso aqui oculto.

Com um domínio visível da geografia local, Roblès usa o Brasil como pano de fundo da sua história, repleta de intelectualismo e poesia. Vale conferir, se o leitor estiver disposto a encarar as 700 páginas do volume.

Uma resenha mais detalhada deste livro poderá ser encontrada em breve aqui no site. Aguardem!


É isso. Um feliz e próspero Ano Novo para todos! :D

8 comentários:

  1. Sem dúvida lerei o "Lá onde os tigres se sentem em casa". Tá na lista. Obrigado pela dica, Marlo!

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  2. Alô, Marcão! Leia, aposto que não irá se arrepender. Adorarei trocar idéias com você a respeito do livro!

    Abraço!

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  3. Achei sua lista bem variada e interessante. Percebi também uma carga alta de "clássicos" (2 livros) e não-ficção (2 também), é um sinal de mudança do gosto de leitura?

    Desses me interessaram "Os devaneios do caminhante solitário" (já tinha interessado desde a resenha), "Vida roubada" e principalmente "Lá onde os tigres se sentem em casa", vou ver se confiro eles esse ano.

    E espero que essa história de "se o mundo não acabar, é claro" seja uma piada, senão você perdeu alguns pontos comigo u.u

    Té mais!

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  4. Olá, Farley! É sempre um prazer tê-lo nos comentários. :)

    Realmente a natureza da lista variou muito esse ano. Ando curtindo bastante a leitura de livros de não-ficção, principalmente os de jornalismo investigativo. São bem interessantes! Quanto aos clássicos, acredito que sempre gostei de alguns títulos dessa veia; mas a presença de dois livros na lista de fato é um ponto a destacar :)

    As obras da lista, as que você disse ter chamado sua atenção, valem a pena! Destaco "Vida roubada", do qual você pode gostar bastante, e "Lá onde os tigres se sentem em casa", outro que parece se encaixar no seu gosto literário. :)
    Como certa vez você me disse que tem um pé atrás com relação aos clássicos, fico pensando se vai gostar do livreto do Rousseau! Mas sem dúvida vale a pena, recomendo uma folheada e, se possível, a leitura completa!

    Ah, é claro que o lance do 2012 é brincadeira, jamais eu daria crédito a uma história assim! huahuha

    Abração!

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  5. Se você gostou deste livro do Rousseau, recomendo a leitura de Walden ou A vida nos Bosques de Thoreau, Cartas a Lucílio (ou Aprendendo a Viver) de Sêneca e Assim falou Zaratustra de Nietzsche. Leituras fundamentais para espíritos famintos, inquietos e que amam a natureza e a liberdade.

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  6. Olá!

    'Walden ou a vida nos bosques' é um livro que certamente está na minha lista de leituras futuras! Também ando me preparando para algo de Nietzsche - e fico agradecido pela orientação. Quanto a esse do Sêneca, não sabia da sua existência, mas com certeza vou pesquisar sobre!

    "Espíritos famintos, inquietos e que amam a natureza e a liberdade"... Adorei a definição. É bem isso mesmo.

    Abraços!

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  7. Deixo cinco passagens desses livros que havia anotado em meu caderno e que talvez seja do seu agrado.
    "Eu fui aos bosques porque queria viver deliberadamente, enfrentar somente os fatos essenciais da vida, e ver se eu não podia aprender o que ela tinha a me ensinar, e não, quando viesse a morrer, descobrir que não havia vivido. Eu não queria viver o que não fosse vida, viver é tão precioso; nem queria praticar resignação, a menos que fosse realmente necessário. Eu queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida, e reduzí-la aos seus mais simples termos(...)" Thoreau - Walden

    Melhor terias feito dizendo: "Inexprimível e sem nome é o que faz o tormento e a delícia da minha alma, e que é, também, a fome das minhas entranhas."Que a tua virtude seja demasiada elevada para a familiaridade dos nomes; e, se tens de falar nela, não te envergonhes de gaguejar. Fala, pois, gaguejando: " Este é o meu bem, é o que amo, é assim que gosto dele, somente assim eu quero o bem. Nietzsche - Assim Falou Zaratustra

    Porque esta é a verdade: abandonei a casa dos doutos e, até, batendo a porta atrás de mim. Tempo demais ficou minha alma sentada com fome à sua mesa; eu não fui, com eles, preparado para o conhecimento como para um quebrar nozes. Amo a liberdade e o ar soprando sobre a terra fresca; ainda acho melhor dormir sobre os couros de boi do que sobre seus títulos e respeitabilidades. Nietzsche - Assim Falou Zaratustra

    Este é o erro: colocamos a morte no futuro, quando grande parte dela já passou. tudo o que está no passado, a morte já o possuiu. Portanto, meu caro Lucílio, faze tal como escreves: abarca todas as horas. Dependerás menos do amanhã se fizeres hoje o que tem de ser feito. Enquanto postergamos, a vida não deixa de correr. Sêneca – Cartas a Lucílio

    Em primeiro lugar é necessário que te libertes do medo da morte, pois é um jugo sobre nossos ombros, o passo seguinte é perder o medo da pobreza. Se queres comprovar que a pobreza não é um mal, basta comparar a fisionomia do pobre e do rico. O pobre ri com mais frequência e de maneira mais espontânea. A inquietude jamais o atinge profundamente; se lhe vem alguma preocupação, é como uma nuvem passageira. Mas a alegria daqueles que são considerados felizes frequentemente é fingida, enquanto a tristeza é pesada e doentia, e mais pesada ainda porque muitas vezes não podem nem sequer a demonstrar, mas fingem a alegria em meio às preocupações que corroem seus corações. Sêneca – Cartas a Lucílio

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  8. Poxa, muito boas as passagens que você colocou aqui! Eu já conhecia algumas, como a do Thoreau, mas a maioria me era desconhecida. :)

    Muito obrigado! Deu uma vontade maior de ler as obras!

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Muito obrigado pela visita ao Gato Branco! Seu comentário será extremamente bem-vindo! :)