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06 dezembro 2011

Por uma boa arte de capa

Seria lugar-comum dizer que a capa de um livro é o seu cartão-de-visitas?

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Antes que eu comece a escrever qualquer coisa neste post, devo esclarecer algo importante: as capas dos livros da coleção de bolso da editora Saraiva (três exemplos acima) são, justamente, o alvo da crítica ambiciosa que eu tenho a fazer hoje. Estou logo afirmando isso porque, se alguém apenas ler o título da postagem e ver as capas que abrem o texto, podem pensar que eu estou elogiando a arte delas – quando, na realidade, minha intenção é contrária.

Curioso: sempre que eu venho criticar alguma coisa aqui no Blog, fica em mim uma desagradável sensação de estar bancando o exasperado, o "do contra", o mau-humorado. Não gosto desse sentimento porque ele não reflete a verdade. Quero, apenas como leitor e, antes, como pessoa, dar minha opinião sobre o universo literário. Esse é um exercício agradável e também importante, e acho que muitas pessoas deveriam praticá-lo, independentemente de estarem certas ou não.

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Quando a editora Saraiva anunciou que estava lançando uma coleção própria*, de bolso, cuja idéia era publicar autores clássicos e suas principais obras, vibrei, porque adoro esse tipo de iniciativa. Preços acessíveis e clássicos indispensáveis é uma das melhores combinações que um leitor pode imaginar, e uma editora que ousa entrar nesse território do empreendedorismo merece parabéns. Nesse caso específico, a primeira coisa que procurei foi um catálogo com os títulos já disponíveis (não sou grande fã de livros clássicos, mas, às vezes, alguns são bastante convenientes).

Porém, assim que vi os livros expostos nas prateleiras da loja, confesso que fiquei absolutamente surpreso e desapontado ao me deparar com a capa da obra A náusea, de Jean-Paul Sartre. Uma caricatura feia e, em suma, desagradável, desenhada sobre um pano de fundo azul. Um livro excelente e sério como esse não pode ter o desígnio infeliz de receber um tratamento tão leviano (admito, nesse ponto sou conservador). Não só na capa d'A náusea, mas em quase todos os outros títulos da coleção, fica uma idéia de sátira, de brincadeira, de infantilidade. Em uma coleção de clássicos, mesmo que de bolso, essa não é uma idéia muito boa. Sinceramente.


Alguns depoimentos de leitores a respeito das capas:

"Eu não gostei. A ilustração não é bonita, nem as cores apropriadas. Simples e mal feita."

"Quando eu penso em Jane Austen e tenho que traduzir isso visualmente, sempre penso em algo sofisticado, elegante e requintado. E estas capas não passam nem um pouco esse aspecto."

"De fato, caricaturas geralmente não me agradam. E pode ser legal pra uma tirinha e tal, mas na capa do livro não gostei. E as cores chamam a atenção, mas, no caso, na minha opinião, não para comprar."


Confesso que estamos em tempos modernos e que algumas coisas devem ser feitas à revelia, num processo de desconstrução dos modelos rígidos, mas existe um certo limite aí estabelecido pelo bom senso, principalmente no que se refere a livros. Não são todas as pessoas (ou todos os leitores, para ser mais específico) que gostam de caricaturas. Eu, pessoalmente, as acho muito desagradáveis de se ver por um longo tempo, e conheço muitas outras pessoas que compartilham disso. O fato de ser uma coleção de bolso, de baixo custo, não dá margem a um cuidado menor com os detalhes, tais como a arte da capa.

Não me entendam mal. Como eu disse antes, incentivo totalmente a idéia de publicarem clássicos da literatura mundial a preços acessíveis. Só acho que deveriam ter tido um palpite melhor para a confecção das capas. A editora Saraiva tem cacife para pensar em algo melhor e mais elaborado, sem dúvida. Acho ruim o fato de dois títulos da autora Jane Austen (Razão e sentimento e Orgulho e preconceito) virem com a mesma ilustração, por exemplo. Isso generaliza as obras e lhes dá um caráter superficial, de coisa distribuída sem pretensão.


Processo de criação das capas

Sei que essa é uma opinião muito específica e que nem todo mundo concorda comigo, mas, como sempre, estou usando este espaço aqui para fazer minhas próprias considerações. Na internet, principalmente em blogs, acho válido escrever o que se pensa e esperar que alguém inicie uma discussão saudável, apresentando o outro lado da moeda.

Sem entrar de modo algum no mérito das editoras envolvidas, deixo a seguir alguns exemplos de capas de livros de bolso que considero de muito bom gosto genérico. A propósito, muitas editoras já perceberam que a padronização das capas de coleções não é uma boa idéia, justamente porque cada obra necessita de um trato diferenciado que lhe dê características próprias.

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*Convém lembrar que, a princípio, o lançamento da coleção é fruto da parceria entre editora Saraiva e editora Nova Fronteira.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", afirmou o poeta e cronista Vinicius de Moraes. Muito antes dele, entretanto, um poeta espanhol chamado Ramón de Campoamor y Campoosorio havia afirmado que "a beleza está nos olhos de quem a vê" - essa sim, uma verdade intrínseca.

    Confesso que quando vi as capas nas livrarias, achei as versões meio pobrinhas, simples demais. Mas, ao mesmo tempo, entendi que tem a ver com a questão do produto final associado ao preço. Analisando um pouco melhor, mudei de opinião, ao menos parcialmente: não achei as edições mais tão feias, embora, confesso, não tenha gostado de todas as caricaturas.

    Entretanto, conheço pessoas que foram ainda mais além e disseram pra mim o óbvio ululante, mas ainda assim, verdadeiro: seria impossível agradar a todos. Verdade, também. No geral, não achei as edições feias. Achei-as apenas mirradas, simples por demais. Mas não feias, e achei a ideia das caricaturas muito bacana e original. O resultado do esforço? Se a coleção for longeva, veremos que traduziu-se em sucesso, caso contrário, que, de fato, não agradou a todo mundo.

    O Tempo fará a sua devida observação.

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  3. Como leitores estamos comprando um produto e me parece justo darmos nossa opinião. A capa, embora não seja o essencial, é sim de extrema importância. No Brasil os livros tem preços exorbitantes, e às vezes só podemos ter contato com certas obras através das versões econômicas, pockets, ou edições mais simples. A qualidade tem que, sempre, ser a preocupação número 1 das editoras, e essa qualidade vai desde a capa, até a revisão do texto. Sobre as capas em questão de fato são feias, na minha opinião.

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