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09 janeiro 2011

Filme: Um olhar do Paraíso

Uma boa história e efeitos visuais fantásticos fazem de Um olhar do Paraíso um filme imperdível

Um Olhar Do Paraiso

Entre os meus amigos mais chegados, já virou motivo de piada o fato de eu só gostar de filmes mal-recebidos pela crítica cinematográfica. Foi assim com A vila, de M. Night Shyamalan, Fim dos tempos (do mesmo diretor, diga-se de passagem)… e agora, para completar o quadro, adorei o mais recente filme do neozelandês Peter Jackson, Um olhar do Paraíso (The lovely bones, 2010).

Que, infelizmente, tanto a crítica quanto o público não hesitaram em massacrar.


Sinopse: Susie Salmon é uma garota de 14 anos que vive no subúrbio da Filadélfia, com os pais e dois irmãos – uma pré-adolescente da idade de Susie e um menino menor. A família é mergulhada em uma rotina perfeita e comum, com pais adoráveis e filhos adoráveis; mas tudo muda quando, certa tarde, Susie é estuprada e brutalmente assassinada por um dos vizinhos, o psicopata George Harvey.

Depois de sua morte, Susie passa a habitar um mundo fantástico (o Céu?), em que, na companhia de uma garotinha também pós-morte, poderá acompanhar o drama das pessoas que ela deixou para trás.


Assisti ao filme na semana retrasada, poucas horas depois da primeira meia-noite de 2011, e já posso afirmar, sem medo, que Um olhar do Paraíso foi um dos melhores filmes que vi até hoje. Pode parecer uma afirmação leviana e impulsiva, fanática, mas não é. Mesmo depois de vários dias, continuo dizendo que ele é um dos melhores.

Às vezes é difícil para mim entender por que um longa-metragem tão bom (pelo menos, normal) pode ser tão duramente criticado pela maioria das pessoas, a ponto de o chamarem de "o pior de 2010", "vergonhoso" e "puramente vazio". Por que tamanha aversão por um filme que é, repito, pelo menos normal?

E o pior de tudo é que, de todas as críticas negativas que li, nenhuma me pareceu ter argumentos suficientemente convincentes. Falarei delas mais adiante.

umolharnoparaiso_

Para começo de história, os produtores do filme tiveram a felicíssima idéia de não inserir o pós-morte de Susie no mesmo plano clichê daqueles fantasmas que estão circulando entre os vivos, mas que não conseguem interagir com eles porque são invisíveis e não podem mexer nenhum objeto (como o espectro de Patrick Swayze em Ghost, embora Ghost seja um filme excelente).

Em Um olhar do Paraíso, a coisa não é assim, o que torna o filme muito mais original: o mundo fantástico em que a protagonista está inserida interage com o mundo "dos vivos" de uma maneira muito mais simbólica, quase junguiana, e assim o telespectador vai captando pistas interessantes que fazem o elo entre o mundo de lá e o de cá. Por exemplo, a cena das garrafas-caravelas se quebrando na orla da praia, que é impagável. Há também a cena do reflexo da chama da vela no vidro da janela, belíssima, em que o pai "entra em contato" com Susie pela primeira vez.

Idéia semelhante pode ser vista no filme Amor além da vida, com Robin Williams. Aliás, paralelos entre esses dois filmes são quase que obrigatórios. Um olhar do Paraíso pega emprestado muitos cenários do filme de Williams, incluindo a evidente sugestão das cores vivas. Até mesmo algumas cenas são parecidíssimas, como a da árvore se desfolhando ou da protagonista sendo tragada por uma espécie de grama aquática.


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Pela seleção de fotos que eu estou colocando aqui, acho que dá para ter uma idéia da qualidade visual do longa. E me refiro não só ao tocante aos efeitos especiais, mas à fotografia de um modo geral: à imagem do filme. Movimentações de câmera agradáveis, iluminação fora de série, paisagens de tirar o fôlego, seqüências de prender a atenção de qualquer um.

Na minha opinião, uma das características mais marcantes do filme é a coexistência de elementos chocantes e belos ao mesmo tempo, em um mesmo plano narrativo. Embora Um olhar do Paraíso seja por demais açucarado (e essa foi uma das maiores críticas a ele), os elementos violentos continuam lá, assombrando o telespectador – pelo menos, assombraram a mim.

A questão do estupro, mesmo não tendo sido mostrada de maneira explícita, é óbvia, e isso mexeu comigo. Além do mais, a garota foi esquartejada, que é outra coisa que salta aos olhos durante o filme. Então, o que mais queriam? Sexo explícito? Violência gratuita? (Diga-se de passagem, uma das cenas é banhada em sangue.)

Achei de muito bom gosto – e é algo que evidencia a habilidade de Jackson – apenas sugerir as coisas, poupando tomadas violentas desnecessárias, que em nada acrescentariam à história. E, ainda assim, chocar o telespectador.

Outra crítica muito freqüente e pouco convincente afirma que o filme é desprovido de propósito e muito confuso. Falando com franqueza, não consegui achar nada de confuso em Um olhar do Paraíso (e não me considero nenhum expert em filmes), até porque a trama toda é encaixada e arrumada de um jeito que o telespectador sempre consegue acompanhar. No mais, a história despertou em mim reflexões sobre a inesgotável questão da vida após a morte (se existe, como será), de modo que taxá-lo de "vazio" também não me pareceu cabível.


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Por fim, é preciso confessar que não acho o filme totalmente desprovido de defeitos. Algumas coisas no roteiro (especificamente no roteiro) poderiam ser aparadas e modificadas, claro. Isso eu não nego. E só não menciono aqui o que eu queria que mudasse porque estaria revelando informações do enredo – em outras palavras, spoilers. Portanto, fica só a menção: uma ou duas cenas finais poderiam ser mudadas.

Além disso, a interpretação de um determinado ator poderia ser mil vezes melhorada e mais convincente. Estou falando dele mesmo, Mark Wahlberg (pai de Susie), cujas atuações são sempre muito criticadas por todos – e com razão. Desde muito tempo eu acho que Wahlberg força a barra em querer continuar sendo ator de cinema.

Porém, mesmo levando em conta essas pequenas falhas, incluindo cenas que certamente poderiam ser modificadas, o filme não perde seu brilho, e é, pelo menos para mim, uma das notáveis produções de 2010.


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2 comentários:

  1. Olá :)

    Bem, também assisti o filme, logo assim fica fácil de comentar. Um primeiro fato que percebi no seu texto é que você, em nenhum ponto, menciona o fato que esse filme é baseado no livro "Uma Vida Interrompida" (The Lovely Bones, no original), de Alice Sebold. E como eu li o livro também acabou que fiquei comparando com o livro (que já não era muito bom, acrescento).

    Como falei nas minhas curtas impressões, o maior destaque desse filme ficou por conta do elenco muito bem selecionado, assim como a fotografia e ambientação. Já a história, que já tinha problemas no livro, ficou muito diluída e no fim realmente parece que as coisas são meio sem propósito.

    O pior que era possível um resultado melhor sim, como você mesmo dá sugestão no texto. Tem certas partes que poderiam ter sido excluídas em favor de outras que não estão presentes, ia melhorar muito a história. E alguns personagens ficaram tão subdesenvolvidos que certas cenas com eles parecem sem sentido: Ruth Connors, a amiga da Susie; Ray Singh, o namoradinho da Susie; a Sra. Salmon, pra citar alguns. Faltou tato pra balancear melhor tudo e deixar a história mais homogênea e agradável.

    Olhando assim fica parecendo que não gostei tanto do filme... mas achei bem agradável. As cenas no "céu" são bem interessantes e Saoirse Ronan como Susie Salmon ficou simplesmente incrível.

    Abraço!

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  2. Olá! :D

    Que bom que você assistiu ao filme... fica mais fácil comentar, mesmo. ^^
    Ah, é verdade. Em nenhum momento eu digo que o filme é baseado no livro de Alice Sebold... e, até agora, não sei se fiz isso de propósito ou não. oO'
    hahaha... e eu que sempre gosto de comentar livros em tudo o que é lugar. x)

    Li as suas curtas impressões. Foi, diríamos, curto e grosso! :)

    É, você chegou à mesma conclusão que eu: o filme poderia ser melhorado em alguns pontos, mais desenvolvido etc. Mesmo assim, não sei por conta de quê (talvez do meu histórico de vida, como diz a corrente psicológica behaviorista, haha) eu achei o filme ótimo, incluindo a história. ^^

    Saoirse Ronan como Susie Salmon ficou realmente incrível; interpretação digna de nota. :)

    Abraço! :D

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