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14 fevereiro 2010

Fantoches e Outros Contos, de Erico Verissimo

“(…) Mário sentiu uma absurda revolta não contra si mesmo, por não ter fé, mas contra Deus, por não existir.” (p. 274)

Fantoches e outros contos Erico Verissimo

Hoje pela tarde eu finalizei a leitura da antologia Fantoches e Outros Contos (1972), uma coletânea peculiar de contos do brasileiro Erico Verissimo. É peculiar porque, convidado a reler seus textos de principiante para celebrar uma edição comemorativa do livro, o Erico de 66 anos de idade escreveu, à margem dos contos, pequenas e hilárias observações sobre o Erico contista da década de 30.

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Sinopse: Reconhecido como um dos clássicos brasileiros do século XX, Erico Verissimo estreou na literatura em 1932 com o volume de contos ‘Fantoches’. Décadas depois, fez apontamentos manuscritos e ilustrações à margem do texto, para a edição comemorativa do quadragésimo aniversário da publicação do livro. Nesses apontamentos, o escritor consagrado observa as narrativas do jovem principiante com olhar exigente, mas também com humor.

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Embriagado. Essa é a palavra que define muito bem o estado de espírito com que saio de uma leitura de Erico Verissimo. O escritor gaúcho consegue me envolver (tanto com as suas estórias quanto com o seu estilo de escrita) de uma maneira tão forte, tão plena, que eu acho difícil encontrar um outro escritor com que possa me identificar tão bem.

Considero Fantoches e Outros Contos simplesmente indispensável para os fãs de Erico. Contudo, não o aconselho aos que estão começando a ler a obra dele agora. Para ler a primeira parte de Fantoches e Outros Contos, acho que o leitor já deve estar adaptado há muito tempo ao universo do autor.

Essa primeira parte do livro (“Fantoches”) tem um valor evidentemente mais histórico que literário, embora lá haja algumas histórias interessantes. Encontramos nessas primeiras páginas um Erico ainda imerso em clichês, mas que procura, a todo custo, livrar-se deles, coisa que consegue com sucesso anos mais tarde. Achei muito interessantes os textos em que, no desenrolar da trama, as personagens se rebelam contra o autor da história. O ápice deste tipo de enredo está na peça “Criador versus Criatura”.

Aliás, uma coisa interessante de se notar é a profusão de textos escritos em forma de peça, forma esta com que o autor nunca simpatizou de todo. No mais, em resumo, “Fantoches” é uma boa experiência que fez com que Erico alçasse vôos mais longos, anos mais tarde.

A segunda parte do livro (“Os Outros Contos”) mostra-nos um Erico Verissimo muito mais maduro do que no início, já totalmente dono de sua escrita e suas idéias. Esses contos eu já aconselho aos que estão começando a ler a obra do autor agora. Lá encontramos histórias muito sensíveis, humanas, poéticas e reflexivas. Adorei particularmente do conto “A Ponte”, cuja filosofia é bem parecida com aquela que cultivo desde pequeno.

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Abaixo, transcrevo um trecho que retrata essa filosofia.

“Não quero que o senhor imagine que sou um papa-hóstia – sorriu o rapaz – e que acredite, como mamãe, num Deus barbudo que distribui prêmios e castigos… Minha religião tem muito mais a ver com a Arte do que com a Igreja Católica. Acredito numa Inteligência Superior, numa força luminosa que governa o Universo… Pode ser meio obscuro, mas é o que penso ou, melhor, o que sinto. Creio na existência duma Entidade cuja definição e explicação escapam à lógica humana de causa e efeito… O que quero deixar claro é que não aceito a gratuidade da vida. Se aceitasse, acho que ficaria louco… ou me matava… ou ambas as coisas. O absurdo da vida é apenas aparente. Há nas pessoas e nas coisas uma beleza e uma verdade imanentes.” (p. 289)

5 comentários:

  1. Ainda não li "Fantoches..." creio que li apenas 2 contos, que recebi no CD quando estive no Museu em Cruz Alta. Gostei daqueles e pretendo ler mais! Só por curiosidade: essa edição dos contos com comentários do próprio Erico alguém tem? pretende doar para alguém? gostaria de vender?
    Abraços

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  2. Confesso que o que me impulcionou inicialmente a ler a compilação de contos "Fantoches", foi o seu valor histórico, na verdade, mais do que isso, eu queria saber como Erico Verissimo escrevia no "início", o início do caminho que o levou a escrever livros inesquecíveis para mim. No entanto, como sempre, não me arrependi da sua leitura, concordo que alguns textos são interessantes.

    Parabéns pelo texto e pelo blog!

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  3. Comentário do autor do blog:

    Olá, Adriana Maria! Acho que muitas pessoas lêem o 'Fantoches' mais pelo valor histórico, realmente - e encontram um prato cheio. Mas, verdade seja dita, Erico consegue me encantar até com os seus escritos inexperientes!

    Muito obrigado pelos elogios ao blog e ao texto! Espero que você volte em breve. :)

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  4. Olá de novo!
    Como disse, até hoje nunca me arrependi da leitura de nenhum livro de Erico (muito pelo contrário!), acho que dizer que ele é meu autor preferido é pouco, sinto muita empatia pelos escritos dele.
    Achei seu blog muito bom, com certeza vou voltar sempre ^^
    Abraço.

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  5. Olá, outra vez!
    Concordo totalmente com você quando afirma que "dizer que Erico é meu autor favorito é pouco"! Eu me identifico tanto com o que ele escreve quanto com a própria personalidade dele, como pessoa. Para mim, Erico era um sujeito realmente íntegro, de caráter invejável. E nunca senti isso por nenhum outro autor, mesmo os melhores.

    Fico feliz que tenha gostado do blog! Então, sempre estarei esperando você por aqui. :)
    Abraços.

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