"Deixamos para trás o bulício da cidade, e não consigo nos imaginar voltando algum dia (…)" (p. 141)
Hoje, pelo finalzinho da tarde e início da noite, eu finalizei a leitura de uma coletânea de Contos da famosa escritora neo-zelandesa Katherine Mansfield, aquela da qual a célebre Virginia Woolf disse: "Eu tinha inveja dos textos dela".
Fui atrás de um livro da Mansfield porque vi que Erico Verissimo, escritor nacional pelo qual tenho verdadeira fixação, cita no seu romance Caminhos cruzados (1934) o nome da autora. Nessa passagem, o personagem Noel Madeira comenta com sua amiga Fernanda que está lendo contos da Katherine Mansfield, e acrescenta que está adorando. Então…
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Sinopse: Esta edição reúne contos da mais fina produção da escritora. Em relação às publicações anteriores no Brasil há correções importantes de erros de revisão e de tradução, que comprometiam às vezes a intelecção de passagens inteiras. Foram incluídas, também, notas esclarecedoras sobre contextos locais.
A edição traz, ainda, apêndice com trechos de seus diários comentando cada conto, bem como sugestões de leitura e fotos inéditas do arquivo Katherine Mansfield da Biblioteca Nacional da Nova Zelândia.
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Como geralmente acontece, eu encomendei o livro pelo site da Estante Virtual porque constatei que o preço das lojas é um absurdo, totalmente inacessível para mim. Quando constato isso, não perco tempo: procuro o título em sebos virtuais, confiro a qualidade do que estão vendendo (se o volume está rasgado, amassado, riscado etc.) e compro na mesma hora. Até agora, tem dado certo.
Quem for vasculhar com cuidado a minha estante no site Skoob, vai ver que demorei praticamente dois longos meses para acabar a leitura desse livro de contos da K. Mansfield. A demora foi por duas razões. A primeira razão tem sua origem em questões práticas: eu comprei o livro logo depois de voltar às aulas, e, sempre que isso acontece, leio o comecinho e deixo o resto para depois. A segunda razão surgiu porque não gostei do comecinho que li. Por essas, demorei a pegar no livro de novo.
Mas, ainda bem que o mundo dá voltas e, com isso, o sol se põe e se ergue cotidianamente. Como eu raramente abandono um livro, fui até o final dos contos da Mansfield, custasse o que custasse. E agora, terminada a leitura, confesso: adorei tudo. Impressionante.
Fotos ilustrativas: uma brochura de Mansfield e uma foto sua
Realmente, falando sério agora, foi impressionante o que me aconteceu com esta coletânea: achei o começo péssimo (eu não li os contos em ordem, vale ressaltar), mas depois de terminados os primeiros textos, o resultado final foi excelente. Inúmeras passagens memoráveis. Na história Conto de homem casado, por exemplo, a autora invoca a primeira pessoa masculina e traça várias reflexões sobre a vida conjugal decadente, reflexões que realmente deixam o leitor pensativo… digamos, com o coração mole.
Em As filhas do falecido coronel, excelente conto, as duas moças Constantia e Josephine tentam lidar com a figura ausente do recém-falecido pai. Fazem um inventário de seus pertences, convidam pessoas para visitá-las, mas mesmo assim não se vêem livres da autoridade do coronel morto.
Fotos ilustrativas: "Diário e cartas" de Mansfield e uma foto sua
O ponto-chave da coletânea são os contos que compõem a Trilogia da infância na Nova Zelândia (Prelúdio, Na Baía e A casa de bonecas), que contam um pouco do cotidiano da família Burnell, formada pelo típico homem de negócios, Steve, pela mulher sensível e devaneadora, Linda, e pelas suas três filhas pequenas, Isabel (a manda-chuva chata), Lottie (a novinha tola) e Kezia (preferida de Mansfield, nota-se desde o começo). Em Na Baía, a reflexão do personagem Jonathan – irmão de Linda –, sobre a vida mal-aproveitada que as pessoas levam dentro de escritórios, é belíssima.
Os contos que me deixaram traumatizado no início são, realmente, os menos atrativos: Alemães comendo, Uma viagem indiscreta e o razoável A mosca. Talvez com exceção deste último, os outros são completamente sem sentido, sem objetivo, como se a autora os tivesse escrito sem um planejamento prévio, apenas vomitando as cenas. São mesmo ruins. Até um amigo meu, fã de Mansfield, concordou.
Conclusão: eu diria que essa coletânea necessita de um leitor bem paciente e atencioso. Se você encarar os contos com boa vontade e pouca expectativa, com certeza vai gostar. Com certeza.
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"Aquilo era viver – sem se preocupar, sem pensar, generosamente. (…) Levar as coisas serenamente, não lutar contra a maré e o fluxo da vida, mas dar passagem a ela – era disso que se precisava. Aquela tensão é que estava errada. Viver – viver! E a manhã perfeita, tão nova e bela, deleitando-se à luz do sol, como que a sorrir de sua própria beleza, parecia sussurrar: 'Por que não?'". (p. 152)
Excelente escolha, parabéns pela resenha!
ResponderExcluirPrezado Marlo, parabéns pelo brilhante blog, realmente é uma inspiração para todos que dedicam um pouco do seu tempo precioso a leitura, que nos leva a viajar pelo tempo e pelo espaço.
ResponderExcluirGostei da dica que você escreve sobre o site de compra de livro e tambem do skoob,de forma que já me cadastrei lá também.
Siga em frente!
Olá, Kovacs! Obrigado pela sua visita e pelo elogio.
ResponderExcluirGrande abraço!
Olá, Gustavo!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas suas palavras e pela sua visita! É bom saber que o blog é admirado, porque tenho muito trabalho em mantê-lo. Obrigado!
O Skoob é, sim, uma boa dica. Vi seu perfil lá e já o adicionei!
Abraço.
Marlo!
ResponderExcluirRealmente, aqueles três contos que você citou são muito ruins! E olha que sou fã incondicional de Katherine.
Mas em compensação, a trilogia da Nova Zelândia dá um salto estratosférico, né?
Comprei o Contos Completos de Virginia Woolf, também pela Cosac, e tem umas coisas geniais por lá. Resenhei aqui:
http://orgialiteraria.com/?p=1698
(também comprei pela Estante, porque esse é mais caro ainda! Você já leu alguma coisa dela? Te aconselho começar por Rumo Ao Farol - capa dura, clássicos da Folha, tem às centenas na Estante - mas em livraria é quase impossível achar!)
abraço!
Olá, Enzo!
ResponderExcluirAntes de tudo, obrigado pela visita ao meu blog! Passei no seu para retribuir a sua visita aqui, e acabei ficando por um bom tempo por lá. O site é muito informativo e tem um conteúdo super bacana.
Não li nada de Woolf até agora. Sei que o estilo dela lembra um pouco o de Mansfield. Isso é bom, já que gostei bastante da neo-zelandesa. A 'trilogia da infância na Nova Zelândia' realmente faz o livro brilhar.
Vi as resenhas também sobre Murakami. Li os dois livros e gostei muito de ambos. Aliás, ele é um dos meus autores prediletos...
Grande abraço!