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06 fevereiro 2010

Após o Anoitecer, de Haruki Murakami

“(…) entre o último trem que parte e o primeiro que chega, este lugar se torna um pouco diferente do que é normalmente durante o dia.” (p. 61)

Após o Anoitecer Murakamidas

Hoje, pelo final da tarde, eu terminei a leitura do livro Após o Anoitecer (After Dark, 2004), escrito pelo japonês Haruki Murakami, célebre escritor contemporâneo reconhecido por publicar livros como Norwegian Wood (1987) e Kafka à Beira-mar (2002), ambos best-sellers no país do sol nascente.

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Sinopse: Neste romance magistral, Murakami costura uma série de encontros e desencontros pelas ruas de Tóquio, entre o anoitecer e os primeiros raios da manhã. O autor deixa sua marca registrada ao falar da solidão e das dificuldades das relações humanas, mesclando diversas referências ao pop, ao jazz e à vida contemporânea.

No centro da trama estão duas irmãs. Eri é uma top model que, como uma Bela Adormecida moderna, caiu em sono profundo e parece nunca mais acordar. Mari, a mais jovem, é uma garota reservada e solitária que deixou a casa dos pais para vagar sozinha pela madrugada. Mergulhada na leitura de um livro numa lanchonete da cidade, acaba se envolvendo em uma aventura com sujeitos estranhos.

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Já fazia algum tempo que eu não lia um livro do Murakami. O último foi Dance Dance Dance (1988), há quase oito meses; depois disso, pensei em ler Minha Querida Sputnik, mas acabei desistindo da idéia (a trama não me pareceu totalmente atraente) e esperei até que After Dark fosse traduzido e lançado aqui no Brasil.

Comprei o meu exemplar de Após o Anoitecer pela internet e, infelizmente, ele veio com uma tenebrosa linha amassada no meio da lombada (aquela linha que surge quando as pessoas abrem demais a brochura). Fiquei chateado com isso, porque esse detalhe não constava na descrição que o vendedor me forneceu, mas, pelo menos, o resto do volume estava bom: nenhum risco e as páginas em bom estado.

De qualquer forma, adorei o livro, adorei a história. Murakami se mostra em boa forma e nos apresenta um de seus raríssimos livros escritos em terceira pessoa. No texto, Murakami inova: descreve as cenas como se fôssemos todos espectadores e estivéssemos vendo a história através de uma câmera cinematográfica invisível manipulada por ninguém-sabe-quem, também invisível. Fica no leitor uma curiosa e inédita sensação de impassibilidade diante do que está sendo narrado.

Outra coisa interessante de notar é que o narrador sabe sobre a história o tanto quanto nós, leitores. Na verdade, o narrador se mostra uma espécie de “aliado” do leitor, de companheiro, e não é raro ver uma passagem no texto do tipo “Percebemos que Fulano é assim e assim”, ou “Podemos supor que Ciclana fez isso e isso”, ou ainda “Do ponto em que estamos, podemos ver tal e tal coisa.” Pessoalmente, achei bem interessante esse jogo de metalinguagem.

Percebi também que o final do livro é particularmente emocionante, mais do que os outros do autor. Gostei disso, até porque não é sempre que vemos Murakami narrar alguma coisa com toques bem dramáticos e sentimentais. As últimas páginas ficaram marcadas na minha memória; tiveram um gosto bem doce.

Os personagens do livro, embora superficiais, são bem cativantes. Simpatizei especialmente com a protagonista Mari Asai, irmã da Bela Adormecida moderna.

Quando termina, Após o Anoitecer é o tipo do livro que deixa uma impressão nostálgica no leitor.

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Embora as atividades acadêmicas estejam exigindo bastante do meu tempo nos últimos dias, ando planejando uma releitura de Norwegian Wood ou Kafka à Beira-mar. Reler Caçando Carneiros (1982) também pode ser uma boa idéia.

Um comentário:

  1. Como já conversamos antes compartilho boa parte das suas considerações sobre Após o Anoitecer. Pra mim o ponto alto é ele ser todo escrito em terceira pessoa e o fato das várias histórias interligadas. E o ponto fraco vem justamente dessas escolhas: personagens sub utilizados e não muitos profundos (tirando a própria Mari... e por que não Eri?) Sobre o final eu gostei do fato dele ser bem conclusivo, os outros livros do Murakami que li tinham finais meio nebulosos e inconclusivos.

    Oh, não se interessou por Minha Querida Sputnik?? Eu gostei muito dele (mais do que Após o Anoitecer), a história parece bem ordinária mesmo pela sinopse, mas como sempre Murakami surpreende...

    Abraço!

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