Depois de uma longa conversa que tive hoje com alguns de meus amigos mais esclarecidos, e depois de ler um texto em um blog que elogiava copiosamente o Twitter, senti certo interesse -- e por que não dizer, certa necessidade -- em escrever algumas palavras sobre essa ferramenta da Internet que já rendeu milhões de usuários no mundo todo.
Antes de tudo, eu queria deixar bem clara a minha posição acerca do assunto. Porque às vezes eu falo quilos sobre uma coisa e, no final das contas, ninguém sabe se sou contra ou a favor da coisa em questão. Portanto, já vou logo adiantando que a minha posição sobre o Twitter é exatamente esta: não vejo criatividade nenhuma nesse sistema de "microblog" criado por um ex-funcionário do Google.
De qualquer forma, não estou aqui para bancar o céptico conservador extremista e criticar acidamente o passarinho azul só porque é algo novo a que as massas aderiram rapidamente, quase que sem refletir. Não quero, de modo algum (e que isso também fique bem claro), depredar o Twitter, nem criticar as pessoas que o utilizam, e nem criticar a necessidade que elas têm de se comunicar com outras pessoas. Não é esse o objetivo. Eu queria apenas dizer que, para mim -- e para muitas outras pessoas, sei bem -- o Twitter é um negócio inútil e nada criativo. Só isso.
Essa história de querer se comunicar virtualmente com outras pessoas, criando amigos à distância ou não, já é bem antiga. Na verdade, a sua origem se confunde com a da própria Internet. Desde os primórdios do "www" nós já tínhamos sites especializados em bate-papo e coisas parecidas, que, por sinal, arrecadavam milhões de usuários por aí (tudo bem, não tanto porque naquela época os que tinham acesso à internet ainda eram poucos), todos eles atravessando a madrugada nos chats porque, depois da meia-noite, a conexão com a Internet era de graça. Há lendas vivas sobre episódios no bate-papo UOL, no mIrc, no Encontros Amorosos do Yahoo! (sim, isso é muito antigo) e em outros serviços de relacionamento obsoletos.
Pois bem. Depois de algum tempo de especulação e tentativas, evoluímos para o MSN Messenger (o mensageiro instantâneo mais utilizado no planeta) e, anos depois, para o Orkut em sua forma mais decente -- aquela que permite a privacidade seletiva. Sim, repito, evoluímos. Não sou cínico absoluto a ponto de negar ou afrontar os avanços da Internet e as possibilidades de sociabilidade que daí surgem. Comunicar-se com outras pessoas é fundamental para qualquer um; até comunicar-se com quem não conhecemos. Quanto a isso, não tenho nada a falar.
Ainda seguindo a escala cronológica, temos, depois dos dois mais importantes supracitados, o serviço pioneiro sério em questão de redação e publicação de textos longos na web -- o blog. Esta é a ferramenta ideal para quem quer expor na Internet aquilo que pensa todos os dias, todas as horas e todos os minutos, se for o caso -- e, ainda, faz-se isso para o mundo inteiro, pois o blog é um site. A essência é parecida com a do Twitter, não? No blog as pessoas encontram um verdadeiro diário universal. Escreve-se sobre os filmes que se vê e os livros que se lê. E há a possibilidade, ainda, de "seguir" um blog de sua preferência, só para usar o termo mais freqüente do Twitter.
Portanto... Quer conversar com os amigos, a sós? MSN Messenger. Quer se relacionar com outras pessoas, desconhecidas, trocar idéias, se reunir em grupos de discussão e produção? Orkut. Quer publicar, sozinho, as suas idéias (textos) e as suas fotos na web? Faça um blog.
Tudo bem, não estou ganhando um centavo sequer nem da Microsoft nem do Google (seria tão bom se estivesse...), mas o que quero deixar claro aqui é que, depois que essa tríade de serviços virtuais foi inventada -- mensageiros instantâneos privados, Orkut e blog --, ainda há algo mais a se fazer? Pensem bem. Tudo o que se origina daí são derivados. Derivados... supérfluos. É o caso do Twitter.
No blog que eu citei no primeiro parágrafo deste artigo, a dona do texto disse que houve inúmeros mitos criados em torno do Twitter, desde a sua criação, e que esses mitos pejorativos foram responsáveis pelo fato de o Twitter ser tão duramente criticado por alguns hoje em dia. Por exemplo, lá ela diz que o Twitter não deve servir de modo algum para responder à pergunta inicial "O que você está fazendo?", proposta pelo próprio Twitter.
Cá penso eu: Graças a Deus ele não foi feito para responder a essa pergunta. Imagina-se a torrente de coisas inúteis que se seguiriam daí. Aliás, essa não foi a idéia original?
É, na verdade, um bar -- diz o blog em questão. O Twitter é um bar, aquele seu barzinho preferido da esquina, aonde você vai todas as noites para se reunir com os amigos, tomar aquele chope e conversar abobrinhas. Tudo bem, penso eu, gostei muito da analogia. Na verdade, ela esclarece bastante as coisas. No bar, naturalmente, existem aquelas pessoas que aparecem só para brigar, só para criar confusão e denegrir a imagem dos outros. Existem também, no bar, os momentos de solidão, os momentos em que você se encontra numa roda que não é a sua e o momento em que você gostaria de sair porta afora, mas não consegue.
Essa relação com o bar é a imagem perfeita de alguns sites de relacionamento comunitário; inclusive, claro, o Orkut. No entanto, o ponto positivo do Orkut é que você pode se esquivar das coisas desagradáveis, ignorando-as completamente, até banindo-as, e se dedicar a outras coisas de seu interesse. A área lá dentro é muito mais ampla. O Twitter, por seu lado, é exclusivamente voltado para uma única atividade: escrever, em um espaço limitado por 140 caracteres, alguma coisa relacionada à sua vida -- ou, como diria alguém, "dar voz ao lado sombrio da sua personalidade".
Se eu, particularmente, fosse dar voz ao lado sombrio da minha personalidade, diria apenas uma única coisa de antemão para os que se apresentam: que saiam todos da frente.
Já ouvi alguém falando que o Twitter serve também, e especialmente, para ver o que as pessoas famosas fazem em suas vidas. Acho que sei o que responder a essa observação: elas tomam banho, escovam os dentes e levam as crianças à escola. Não, não, diriam os mais radicais, o Twitter não serve para ver o que as outras pessoas estão fazendo: serve para ver o que elas estão pensando. E respondo: elas pensam as mesmas coisas que você. As celebridades que são inteligentes pensam coisas inteligentes; se você é inteligente que nem elas, não precisa do Twitter para lê-las. Quanto às celebridades desprovidas de cérebro... melhor nem comentar.
Aliás, o Twitter serve mais para criar problemas que antes não existiam. O próprio criador da ferramenta disse que a idéia do Twitter não era necessária até ser inventada. Quanto aos escândalos que são criados a partir de coisas que antes não eram necessárias, basta lembrar do "Caso Sasha". Cena com S.
Bem, é isso. Eu não gostaria de deixar este texto mais longo do que ele já está. Aliás, nem queria que ele tivesse ficado tão longo, por que sei que muitas pessoas não o lerão, e aí eu terei perdido 20 minutos da minha vida trabalhando nele. Mas, bem, estamos na Internet, e perder tempo é uma das suas maiores virtudes, não?
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Falando sobre esse negócio do Twitter e de relacionamentos abertos, eu lembrei de uma das primeiras frases ditas no filme O Show de Truman (The Truman Show, 1998). Seria conveniente citar aqui essa passagem, em que uma das personagens diz o seguinte: "Hoje em dia praticamente não existe diferença entre a vida pública e a privada. Isto é, não se sabe onde termina uma e onde começa a outra."
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