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25 fevereiro 2009

Factótum, de Charles Bukowski


Na semana passada reli um dos clássicos da literatura beat norte-americana: Factótum (Factotum, 1975), do escritor free-lance Charles Bukowski, nascido em 1920 na Alemanha e criado a vida inteira nos Estados Unidos.


Sinopse (L&PM Pocket): Em Factótum, segundo romance de Charles Bukowski, publicado em 1975, encontramos mais uma vez Henry Chinaski, alter ego do autor, protagonista de vários dos seus livros e um dos mais célebres anti-heróis da literatura americana. Durante a Segunda Guerra Mundial, o loser Henry é considerado "inapto para o serviço militar" e não consegue entrar para o exército. Assim, enquanto os Estados Unidos se unem em torno da guerra e os homens alistados são vistos como heróis, Chinaski, sem emprego, sem profissão nem perspectiva, cruza o país, arranjando bicos e trampos, fazendo de tudo um pouco - daí o nome do livro -, na tentativa de subsistir com empregos que não se interponham entre ele e seu grande amor: escrever. Em meio a tragos, perambulações por ruas marginais, tentativas de ser publicado, vivendo da mão para a boca, o autor iniciante Henry Chinaski come o pão que o diabo amassou.

Devo admitir que Factótum não é um livro para qualquer pessoa. Antes de tudo, fala sobre vagueação sem eira nem beira, sexo explícito e selvagem, bebedeiras insanas, personagens indolentes sem a mínima ambição de vida, protagonistas que namoram prostitutas, etc. Não é um texto que seria elogiado por muita gente, tampouco por muitos críticos. E de fato, algumas cenas são tão pesadas que alguém poderia se perguntar o que levou uma editora a publicar aquilo. Um leitor de Stephanie Laurens ou Nora Roberts, por exemplo, ficaria boquiaberto ante tamanha sordidez num único lugar. Mas, sobretudo, é nessa base sórdida que os romances de Bukowski se sustentam, e é nela que a obra Factótum se apóia com glamour. Porque, como diria alguém, o diamante pode ser encontrado até mesmo na mais suja pocilga.


O mérito do livro consiste em apresentar, nua e cruamente, a realidade periférica dos Estados Unidos no final da 2ª Guerra Mundial, do ponto de vista dos excluídos e desafortunados, sem eufemismos ou efemeridades; e ruindo por terra todo e qualquer tipo de sonho americano, mostrando que qualquer lugar pobre e miserável é pobre e miserável do mesmo jeito. Gente suja, feia, ímpia e maltrapilha pulula nas páginas - e deixa para trás essa visão de que toda literatura deve ostentar, ao menos, um personagem bonitinho e moralmente correto.


Apesar disso, um dos pontos fortes do livro é o toque de humanismo dentro do protagonista Henry Chinaski, que, mesmo bebendo desvairadamente e transando com mulheres selvagens como ninguém, possui um toque de bom-senso e - podemos dizer - filantropia. É cômico observar certo ar romântico que surge dentro dele em alguns momentos: "Numa manhã de domingo, me peguei no meio do gramado frontal com Gertrude e Hilda. As garotas faziam bolas de neve, gargalhavam e gritavam, jagavam-nas em mim. (...) Gertrude lançava uma, gritava. Ela era deliciosa. Toda fogaréu e luz". É esse viés levemente romântico - que aparece só de vez em quando - que equilibra o texto de Bukowski.


Além de tudo, Factótum é um livro extremamente bem-humorado, o que faz com que suas páginas indecentes se tornem muitas vezes engraçadas ao invés de aquerosas. Algumas passagens são tão absurdas e extravagantes que nos fazem rir: "Ela me obrigou a deitar no chão, dando um tremendo puxão no meu saco, quase partindo meu pau ao meio com os dentes. (...) Era como se eu estivesse sendo devorado por um animal impiedoso. Meu pau endureceu, coberto de cuspe e sangue. A visão daquilo a enlouqueceu. Era como ser devorado vivo. Se eu gozar, pensei, jamais me perdoarei".


O que difere Bukowski dos outros autores do gênero é o seu estilo de escrita, muito bem delineado e estruturado, o que, mais uma vez, faz com que Factótum tenha seu brilho próprio. É verdade que é um brilho distorcido, esmaecido, mas, ainda assim, é um brilho. Alguma coisa chama atenção no livro, e dizer o que é não é fácil. Talvez seja a sinceridade com que ele foi escrito, ou os diálogos que são memoráveis; mas a verdade é que Factótum nunca poderá ser considerado "lixo literário", como certos críticos definem.


P.S.: Para provar que a história não é "qualquer coisa", basta lembrar que o livro se transformou em um filme homônimo estrelado por Matt Dillon e Lili Taylor. Chegou até mesmo a ser premiado. A seguir, disponibilizo o trailer da película. Vale a pena conferir.


http://www.youtube.com/watch?v=ZYFT5RNW47I


É isso. Até mais.

4 comentários:

  1. melhor critica do livro que li até agora.

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  2. Olá, DaniloV!

    Muito obrigado pela passagem no meu blog... Bukowski é um dos meus autores preferidos, e 'Factótum' é, para mim, a melhor prosa dele.

    Abraços.

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  3. pois bem, não sei se vai ver meu comentário, mas adorei seu ponto de vista sobre esta obra e sobre o autor. muito obrigada por compartilha-la!

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  4. Olá! Li seu comentário, sim, e muito obrigado por visitar o blog! :)

    Grande abraço,
    Marlo.

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