"Os artistas dão os últimos retoques em suas roupas e os treinadores fazem uma última verificação em seus animais." (p. 137)
Embora isso não interesse a mais ninguém, passei as últimas duas semanas envolvido em um trabalho árduo que me pareceu interminável, e do qual não consegui me livrar antes de ver tudo dentro da ordem: organizei as 986 músicas do iPod que meu irmão me deu, separando-as nos devidos álbuns e inserindo as devidas capas de CD nas listas de reprodução.
E, paralelamente a esse trabalho de quem não tem o que fazer, consegui ler um livro que a querida Gleici Ketlem me deu de presente. O outro que ela havia me dado, também, foi A garota das laranjas, anteriormente resenhado aqui.
"Não comece a ler o outro livro sem mim. Ouviu?", ela disse. Indiscutivelmente, era uma ordem. De modo que só tive como acabar de lê-lo hoje. Estamos falando de Água para elefantes (Water for elephants, 2006), escrito pela canadense Sara Gruen, autora muito popular nos E.U.A, onde mora com o marido, os filhos e um mundaréu de bichos estranhos.
Sinopse: Aos 23 anos, Jacob era um estudante de veterinária. Mas sua sorte muda quando seus pais morrem num acidente de carro. Órfão, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ele deixa a faculdade antes de prestar os exames finais e acaba pulando em um trem em movimento - o Esquadrão Voador do circo Irmãos Benzini, o Maior Espetáculo da Terra.
Admitido para cuidar dos animais, Jacob sofrerá nas mãos do Tio Al, o empresário tirano do circo, e de August, o ora encantador, ora intratável chefe do setor dos animais.
É também sob as lonas dos Irmãos Benzini que Jacob vai se apaixonar duas vezes: primeiro por Marlena, a bela estrela do número dos cavalos e esposa de August, e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida que deveria ser a salvação do circo.
Cena do filme, com Robert Pattinson (Jacob) e a elefanta Rosie
O sucesso de Água para elefantes faz sentido. Digo isso porque gostei muito do livro (nos quesitos enredo e escrita), e quem me conhece de perto sabe que não tenho o costume de soltar muitos elogios aos livros mais vendidos segundo o New York Times. Sara Gruen, no entanto, construiu uma história que, embora tenha algo de clichê em sua essência, desperta certas paixões antigas. Eu mesmo tive vontade de ir a um circo logo após ter acabado a leitura.
A narrativa segue a mesma idéia de À espera de um milagre*, do Stephen King: temos um senhor muito, muito idoso que está em um asilo para inválidos e começa a contar sua história de quando era jovem, de maneira que o livro se torna um imenso flashback. De tempos em tempos, o texto volta para a vida atual do velho e para o que ele está fazendo no asilo. Foi assim com Paul Edgecombe – do livro de King –, e é assim com Jacob Jankowski – do livro de Gruen.
O romance é povoado por alguns personagens extremamente peculiares, como é o caso do palhaço anão Kinko (de longe o melhor personagem) e do velho Camel, um miserável funcionário do circo que não tem onde cair morto e que acolhe Jacob quando este pula no trem em movimento, abandonando de vez a sua vida pregressa e entrando no mundo do espetáculo circense. Os outros personagens que compõem a trama, embora menos peculiares e mais dados ao estereótipo, são também interessantes e possuem uma personalidade própria, o que confere verossimilhança àquilo que estamos lendo.
Diferente da maioria dos best-sellers românticos que já tive a oportunidade de ler, em Água para elefantes nós temos um texto que não subestima a inteligência do leitor. Em vez de ficar repetindo e explicando várias vezes certas passagens e detalhes de entrelinhas da trama, Gruen diz a coisa uma vez e pronto, o leitor que se vire para entender ou inferir os detalhes. Pelo menos eu fiquei com essa impressão e confesso que, por mais que às vezes você tenha que voltar páginas para conferir algo, é sem dúvida uma característica de mérito e tem seu bom valor.
O grande romantismo do livro está não na relação entre Jacob e Marlena – seu par romântico –, mas na variedade de detalhes presentes no universo que Gruen trouxe de volta: o universo dos circos lendários que se transportavam a trem, cruzando o país em apresentações sucessivas para o público das mais variadas cidades. Sem dúvida esse é o diferencial do livro e seu grande charme. Lendo Água para elefantes, também passamos a ter uma idéia do que havia nos bastidores dos espetáculos daquela época. Aliás, nos bastidores dos espetáculos em geral, de qualquer época.
Embora algumas partes do final não tenham sido muito do meu agrado, por parecerem soluções apressadas e algumas até exageradas, digo que adorei a experiência de ler este único livro de Sara Gruen publicado no Brasil. O pouco da decepção que tive nos momentos finais não estragou, nem um pouco, o prazer da leitura no miolo da história. Portanto, recomendo a quem ele interessar.
Como todo mundo já deve saber a essa altura do campeonato, Água para elefantes foi adaptado para o cinema sob o comando de Francis Lawrence, estrelando Robert Pattinson e Reese Witherspoon. Entre os trabalhos anteriores de Lawrence estão Eu sou a lenda e Constantine.
Eu não assisti ao filme e, logicamente, não sei o que os roteiristas fizeram da história, mas já ouvi dizer que mudaram muita coisa do original. Isso despertou mais ainda minha curiosidade.
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É isso. Obrigado pelo presente, Gle!
Tô com esse livro no gatilho, Marlo, mas ainda não tive saco pra ler, por causa do ôba-ôba que se criou em cima dele por conta do filme. Gostei da resenhar, certamente em 2013 ele terá a vez dele. :P
ResponderExcluirFala, Marco!
ResponderExcluirVocê sempre tem os livros que eu resenho aqui, né? Mas nunca leu nenhum... haha.
Esse é outro que você vai gostar. Eu gostei muito. Ele diverte e faz pensar em algumas coisas.
Obrigado pelo elogio à resenha. ;)
Grande abraço!
Caro Marlo,
ResponderExcluirDesta vez a leitura do livro lhe despertou o desejo de mergulhar no universo circense e ainda uma amiga que lhe presenteia com um objeto que você tanto gosta.
Veja que combinação legal, para quem gosta de ler, um livro é um belo presente.
Como diz um poeta que não lembro o nome: "quando alguém liga a TV na sala, vou para o quarto ler um livro".
Parabéns pela resenha.
abraços,
sou mandona mesmo!
ResponderExcluir:*
Olá, Gustavo!
ResponderExcluirÉ um imenso prazer ter você aqui com assiduidade.
Este livro realmente me despertou essas paixões, do universo circense especificamente.
Se você tem amor pelos livros, nada melhor que um livro de presente, não? :)
Grande abraço e obrigado!