Na última terça-feira, meu professor de Psicologia Social II resolveu passar para os seus alunos uma exibição do filme Na Natureza Selvagem, dirigido por Sean Penn e estrelado por Emile Hirsch.
O filme conta a história verídica de Christopher McCandless, jovem americano de família rica que abandonou toda a sua vida burguesa de conforto para partir rumo ao Alasca, numa aventura de provação e auto-descobrimento. Ao longo do caminho, ele encontrou várias pessoas dispostas a ajudá-lo em sua jornada; Ron Franz foi uma delas, um velhinho solitário de 70 e poucos anos, que se afeiçoou muito a Chris.
Além de ter uma história muito interessante e instigante, o filme em si é visualmente lindo, e talvez tenha sido por esse motivo que já o assisti 8 vezes. A idéia deste post é mostrar a carta mais famosa que Chris escreveu a Ron, carta que está publicada no livro Na natureza selvagem, de Jon Krakauer. Acho que vale a pena lê-la.
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Ron, eu realmente gostei de toda a ajuda que você me deu e do tempo que passamos juntos. Espero que não fique muito deprimido com nossa separação. Pode levar um bom tempo até que a gente se veja de novo. Mas desde que eu saia inteiro desse negócio do Alasca você terá notícias minhas no futuro. Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: acho que você deveria realmente promover uma mudança radical em seu estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.
Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol.
Se você quer mais de sua vida, Ron, deve abandonar sua tendência à segurança monótona e adotar um estilo de vida confuso que, de inicio, vai parecer maluco para você. Mas depois que se acostumar a tal vida verá seu sentido pleno e sua beleza incrível.
Em resumo, Ron, saia de Salton City e caia na estrada. Garanto que ficará muito contente em fazer isso. Mas temo que você ignore meu conselho. Você acha que eu sou teimoso, mas você é ainda mais teimoso do que eu. Você tinha uma chance maravilhosa quando voltou da visita a uma das maiores vistas da Terra, o Grand Canyon, algo que todo americano deveria apreciar pelo menos uma vez na vida. Mas, por alguma razão incompreensível para mim, você só queria voltar correndo para casa, direto para a mesma situação que vê dia após dia. Temo que você seguirá essa mesma tendência no futuro e assim deixará de descobrir todas as coisas maravilhosas que Deus colocou em torno de nós para descobrir.
Não se acomode nem fique sentado em um único lugar. Mova-se, seja nômade, faça de cada dia um novo horizonte. Você ainda vai viver muito tempo, Ron, e será uma vergonha se não aproveitar a oportunidade para revolucionar sua vida e entrar num reino inteiramente novo de experiências.
Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de viver não convencional.
O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa em volta para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está simplesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é você mesmo e sua teimosia em não entrar em novas situações.
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Você verá coisas e conhecerá pessoas e há muito a aprender com elas. Deve fazer isso no estilo econômico, sem motéis, cozinhando sua comida como regra geral, gastando o menos que puder e vai gostar imensamente disso. Espero que na próxima vez que o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas aventuras e experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça isso. Simplesmente saia e faça isso. Você ficará muito, muito contente por ter feito."
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Nada como um empurrão para sair da zona de conforto, não é?
ResponderExcluirPena que no fim das contas somos criados e condicionados a continuar na mesma...
Olá, Alex!
ResponderExcluirRon seguiu mesmo o conselho... De maneira tímida, mas seguiu.
É uma das melhores partes do livro, sem dúvida.
Grande abraço!
Farley! Bem-vindo!
ResponderExcluirJá tivemos algumas conversas sobre essa questão da liberdade e da saída da zona de conforto, né? Assunto muitíssimo instigante!
Belíssima carta de Chris para Ron, eu fico pensando em que tipo de livro ele escreveria quando retornasse de sua viajem ao Alaska. Eu particularmente adoraria ter lido algum livro dele se ele tivesse vivido mais tempo para escreve-lo. E belíssimos trechos de Tolstói nos livros "A Última Estação" e "A Felicidade Conjugal". Tolstói descreve com clareza a alma de todos aqueles que não se contentam em viver uma vida medíocre e de conformismo, pois sabem que a vida esconde uma beleza muito maior para um homem, e essa vida é a única que merece ser vivida.
ResponderExcluirAs resenhas estão também muito bem escritas, bem pessoal como toda resenha literária deveria ser escrita. Não entendo esses blogs de resenha que, ao invés de escreverem o que sentiram, se choraram, se se comoveram, o que sentiram ao ler determinado trecho ou ao terminar de ler o livro, etc etc... escrevem uma interpretação, um tratado hermenêutico da obra de uma maneira, pode-se dizer jornalística. Que maneira tão fria de escrever sobre obras tão profundas e comoventes! Se tiver chance, não deixe de ler W. Somerset Maugham!
Olá!
ResponderExcluirAntes de tudo, agradeço muitíssimo a sua visita ao blog. E agradeço também aos elogios. Seja sempre bem-vindo aqui!
A história de McCandless mexeu muito comigo... de modo que, vez por outra, posto alguma coisa sobre ele por aqui. Dessa vez foi a carta, que, como você disse, é belíssima. Realmente dá vontade de sair viajando pelo mundo.
Tolstói é um escritor bastante apreciável. Quando puder, lerei mais coisas dele.
E concordo com você. Muitos blogs se propõem a escrever sobre literatura e tratam dos livros como objetos frios, desprovidos de calor. As análises às vezes são muito "secas". Procuro fazer algo diferente aqui.
Grande abraço, volte sempre! :)
...Andava no "rastro" de Tolstoi e descobri o teu blog. Muito bom, muita qualidade! E ainda vejo q curte a história do Cris( Chamo assim pq prá mim ele é quase um irmão), pois recomendo " A morte de Ivan Ilitch" do nosso amigo Lev. Ainda não vi todo o blog ,mas os livros do Alain de Botton são excelentes e leves...Que tal uma resenha de "Desejo de Status?"
ResponderExcluirabração,
Lutero
Olá, Lutero!
ResponderExcluirObrigado pela visita ao blog e pelos elogios, cara!
Curto muito a história do Chris... Ele realmente é um sujeito para admirar e estudar a fundo. Minha concepção sobre natureza e sociedade partem de histórias como a dele.
Lev Tolstoi, escritor excelente! Já li 'Felicidade conjugal', livro que Chris lê no filme. 'A morte de Ivan Ilitch', vou atrás... rs.
Não conheço Alain de Botton, mas deve ser bom também! Vou tentar pesquisar sobre ele. ;)
Abração, cara!
Marlo.
'esse filme é simplesmente maravilhoso...perdi as contas de quantas vezes o vi e não me canso nunca...esse filme despertou em mim algo que jamais pensei que fosse sentir...agora embarco rumo a maior das aventuras,e a maior das experiencias pra descobri realmente o que é liberdade
ResponderExcluirOlá, Anônimo! :)
ResponderExcluirObrigado por compartilhar sua experiência. Na Natureza Selvagem realmente contém uma história incrível. Mexe com todos que entram em contato com ela!
Abraços.
Assisti ao filme e vou comprar o livro, é uma história de vida que mexeu muito com a minha, percebi e entendi que a vida nos condiciona ao óbvio, mas temos a liberdade de escolha e podemos buscar através da liberdade de pensamentos quebrar as amarras que nos prendem ao comodismo das situações e momentos rotineiros da vida, onde as pessoas não entendem que podemos encontrar a liberdade dentro do "EU" que habita em nós.
ResponderExcluirUm forte abraço para todos, paz, bem e liberdade para todos os corações!
icaro.pablo
Paulo, valeu pelo comentário!
ResponderExcluirAbraço forte e muita luz pra você também! :)
Olá, Marlo!
ResponderExcluirLembro que quando li o livro pela primeira vez, fui da raiva inicial (ainda sem conseguir compreender a essência da decisão do Chris) ao entendimento e respeito por aqueles que se jogam no mundo, abandonam o considerado certo e seguro. É uma decisão para poucos, pois não implica somente em ir, mas em estar em paz com a própria escolha. Este livro mudou minha percepção a respeito de muitas coisas em minha vida...Ainda bem!
Juliana, olá!
ResponderExcluirÉ exatamente isso o que você falou: vamos da incompreensão pelo que Chris fez à certeza de que a atitude dele nos transmite uma lição de vida. No entanto, é preciso ter a mente aberta para enxergar a beleza, não só do filme, mas da vida de 'Alex', da sua coragem e da sua determinação.
Acho que essa história nos devolve o romantismo essencial que estamos perdendo nos últimos anos.
Grande abraço!
Assisti ao filme e gostei demais. Ancioso para ler o livro!
ResponderExcluirOlá, Felipe!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Tenho certeza de que você vai gostar do livro. (:
Abraços.