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06 junho 2010

Beleza e tristeza, de Yasunari Kawabata

"Mas um romance tem de ser necessariamente uma coisa bela?" (p. 72)

Beleza e tristeza Yasunari Kawabata

Mais uma vez, venho a escrever um artigo a título de tapa-buraco, visto que tenho de atualizar o blog regularmente e não tenho nenhum livro inédito para resenhar por enquanto. O livro que estou lendo atualmente possui quase 800 páginas em formato tradicional, e, até que eu o acabe, muitas semanas ainda se passarão.

Sendo assim, para que elas (as semanas) não passem sem atualizações no Artigos Efêmeros, estou sorteando livros da minha estante que merecem uma resenha aqui no site.

Dessa vez, indo contra as expectativas, o livro sorteado foi Beleza e tristeza (Ustukushisa to kanashimi to, 1961), escrito pelo japonês prêmio Nobel de Literatura Yasunari Kawabata, cujo famoso suicídio com gás de cozinha chocou toda a comunidade literária.

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Sinopse: Nesta história de paixão, ao mesmo tempo lírica e aterradora, narrada com a mais desconcertante serenidade, Oki Toshio, um escritor de meia-idade, faz uma viagem nostálgica a Kyoto para ouvir os sinos dos templos soarem na noite de Ano-Novo. É movido também por outro desejo: reencontrar Otoko, que fora a sua amante vinte e quatro anos antes e que agora é uma pintora de renome.

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Antes de tudo, quero fazer uma correção sobre algo que eu disse na resenha do livro Infância, de algumas semanas atrás. Eu disse que Coetzee era o segundo prêmio Nobel de Literatura que eu tinha lido, depois de Saramago. O problema foi que esqueci de contar com Kawabata, que conquistou o título em 1968, e o qual eu havia lido antes mesmo de Coetzee. Pois é.

Li Beleza e tristeza numa época em que eu ainda estava sendo muito influenciado pelos livros de Haruki Murakami e Natsume Soseki, dois autores que considero excelentes e, até certo ponto, muito parecidos entre si, embora pertençam a épocas e estilos tão distintos. Surfando ainda nessa mesma onda de obras nipônicas, flertei com esse último romance escrito por Kawabata (Beleza e tristeza) e pensei que fosse encontrar algo que lembrasse Murakami ou Soseki. Não encontrei.

Que os fãs do autor e a banca julgadora da Academia me desculpem, mas Beleza e tristeza foi um romance que me decepcionou. Embora a história tenha, sem dúvida, uma premissa interessante, Kawabata a tratou de uma forma maçante, obstruída, lenta. Posso estar cometendo uma heresia literária ao falar isto, mas nunca fui fã de romances essencialmente densos, essencialmente subjetivos. Valorizo bastante a ação calculada, valorizo o comportamento dos personagens, e não unicamente o que eles pensam ou deixam de pensar. (Será isso um sinal da minha preferência pela Análise do Comportamento na Psicologia?) Enfim, valorizo mais os textos de autores que abordam as coisas objetivamente.

Não quero dizer que Beleza e tristeza seja um desses romances absolutamente subjetivos, mas nota-se, desde as primeiras páginas, uma preferência pelo psicológico, pelo interior das personagens. Há também o fato de que as muitas passagens referentes a arquitetura e a pintura, ao longo do texto, chateiam o leitor, principalmente porque vêm acompanhadas de notas de rodapé explicativas (coisa que atrapalha a leitura, na minha opinião). Kawabata sonhou ser um pintor reconhecido, mas, frustrado, decidiu transportar técnicas de pintura (e referências à pintura) para os livros.

Autores como Soseki, por exemplo, conseguem levar o leitor para dentro da história; conseguem fazê-lo se identificar com os pensamentos dos personagens, com o que eles fazem e com o que eles sentem. Haruki Murakami também consegue isso, em maior grau até. Mas no caso de Beleza e tristeza, a história parece não engatar mesmo.

O.K., basta de falar mal do livro. Ele não chega a ser tão decepcionante assim; para quem gosta do estilo e da técnica de Kawabata, é um prato cheio. Não sei por quê, sempre chego a me arrepender um pouquinho por criticar um livro (a frase da página 72, lá em cima, não foi escolhida por acaso). Sendo assim, que tal citar os pontos positivos da obra? Kawabata escreve bem, tem ótimo domínio sobre as palavras e seus personagens possuem personalidade forte.

Por fim, resta dizer que a capa da edição brasileira da Globo está muito bonita (mas muito bonita mesmo). É umas das capas mais bonitas que possuo aqui em casa. Esse desenho nostálgico que parece ter saído de algum mangá da década de 60 é mesmo belo e bem traçado. Embelezou e muito a obra.

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Conclusão: Que o leitor se informe melhor antes de lê-lo.

2 comentários:

  1. Bem, eu não sou mais enganado por prêmios. Tem coisas que são simplesmente intragáveis e a gente se força a ver/ler/ouvir por conta dos prêmios... É o que pareceu ser o seu caso.

    Deu pra notar que você não gostou do livro, o que pra mim não é nenhum pecado. Acho que a leitura (e qualquer outra atividade de entretenimento) tem que ser prazerosa, senão perde o sentido. Você ainda tenta se redimir de ter falado mal de um Nobel falando de alguns pontos positivos - pontos esses que pra mim foram eclipsados pelos pontos negativos facilmente. No fim das contas acho que não é meu estilo de livro não.

    Sobre a capa, se não me engano, é desenhada numa das vertentes do estilo tradicional de pintura japonês chamado sumi-e (水墨画). É realmente bonita, por mais que eu me apeteça mais por cores mais fortes, hehehe :D

    Abraço!

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  2. Olá, de novo! :D

    Ah, eu não sou muito enganado por prêmios também não... hehe. Por exemplo, eu só soube que o Kawabata era Nobel depois de ter comprado o livro; comprei mais porque estava admirado com obras nipônicas, mesmo, com Murakami e Soseki.

    Eu não gostei mesmo do romance, mas, como eu disse na resenha, fico meio reservado por criticar tanto um livro... Sei que, de alguma forma, ele tem a sua beleza, mas é uma beleza de que eu pessoalmente não gosto, entende? Mas tem o seu valor num juízo mais abrangente. (Sei lá, difícil explicar XD)

    Obrigado pela informação da capa, muito boa! :D

    Abraço!

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