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13 janeiro 2009

Kafka à Beira-mar, de Haruki Murakami



Ontem pela tarde finalizei o mais recente romance do japonês Haruki Murakami: Kafka à Beira-mar (Umibe No Kafuka, no original japonês), escrito em 2005.

Antes de tudo, devo dizer: o livro é maravilhoso. E me agradou mais que o best-seller do autor, Norwegian Wood, anteriormente resenhado aqui - não que este último seja ruim, claro, longe disso. Acontece que em Kafka à Beira-mar temos uma história magistralmente bem construída, muito cativante e essencialmente imaginativa, o que faz com que suas pródigas 571 páginas não sejam nem um pouco cansativas.

A história (narrada em 1ª pessoa) é a seguinte: aos 15 anos de idade, Kafka Tamura decidir abandonar a casa onde morava com o pai, justamente para fugir de uma terrível profecia que este lhe lançou, além de tentar encontrar a mãe e a irmã, que o abandonaram quando pequeno. Viajando pelo país, Kafka chega à Biblioteca Memorial Komura, e lá muitos segredos sobre sua vida serão revelados.

Paralelamente a isso (e narrada em 3ª pessoa), temos a história de Satoru Nakata, um homem idoso que sofreu um estranho acidente na infância e que, conseqüentemente, adquiriu alguns poderes paranormais - como ter a capacidade de conversar com gatos e fazer chover peixes do céu.

De início, pode-se imaginar o que essas duas histórias tão díspares teriam em comum para terem sido colocadas no mesmo livro. Mas, ao longo do romance, o mestre Murakami nos mostra que ambas têm muita semelhança e que praticamente não poderiam viver separadas. Pontilhada de diálogos e situações inesquecíveis, a história cativa qualquer leitor de bom gosto. "Isso aqui não é nenhum conto de fadas. Em nenhum sentido", diz o personagem Kafka. Mas, contradizendo-o, eu diria que o livro é uma parábola. Uma grande parábola moderna e criativa.

O estilo de escrita segue um ritmo bonito e envolvente, e como conseqüência a leitura torna-se agradabilíssima. E, o que é mais interessante, os acontecimentos fantásticos (conversar com gatos e fazer chover peixes do céu) nunca nos parecem absurdos ou forçados. Muito pelo contrário, conseguem fazer todo o sentido. Mais que em Norwegian Wood, em Kafka à Beira-mar Murakami nos revela todo o seu potencial de escritor.

Sempre me sinto desconfortável para falar de um livro de que gostei tanto. Acho que é porque, pelo fato de ter adorado, muita coisa me vem à mente, e fica difícil pôr tudo em ordem. No entanto, recomendo a leitura sem restrições. Tenho certeza de que qualquer apreciador da boa literatura irá gostar bastante, tanto quanto eu gostei.

"Sou livre, penso. Fecho os olhos e considero por instantes a idéia de liberdade. Não consigo entender direito o que significa ser livre. Entendo apenas que, neste momento, estou sozinho. Estou sozinho em terra estranha. Como um explorador que perdeu bússola e mapa. Ser livre é isto? Não sei. Desisto de pensar." [página 58]

4 comentários:

  1. Gostei da resenha, mas eu ainda queria saber mais sua opinião sobre a história do livro (com spoilers) rsrs.

    Estou finalizando a leitura, e que livro incrível, prazeroso de ler (vou terminar de ler hoje). Os diálogos, acontecimentos, personagens (Nakata disparado o melhor deles). Está faltando apenas uns 3 capítulos, mas ainda tem muitas perguntas sem respostas... já me acostumei, é típico de Murakami, e torna o livro mais especial.

    Ah, comprei o livro na promoção por apenas 36 reais

    Abraços.

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  2. Olá, Igor!

    Bem, você pegou uma das minhas resenhas mais antigas (acho que esta foi a terceira resenha deste blog) e, como o fluxo de leitores aqui nestes confins é quase zero, posso comentar 'Kafka à beira-mar' com spoilers sem problemas. rs

    Este é, ao lado de 'Norwegian Wood', meu livro preferido do Murakami. Como você disse, é um livro delicioso de ler: os diálogos, as descrições de cenários, as mensagens e tudo o mais. Lembro que eu quase sonhava à noite com aquela cabana na floresta, pensando em como aquele lugar soava aconchegante. E a premissa da obra - a ideia de fazer uma espécie de releitura do Édipo de Sófocles - deixa tudo muito mais interessante.

    Quanto ao conteúdo sobrenatural, lembro de ter gostado muito dele, principalmente do "poder" de Nakata de conversar com gatos e fazer chover peixes. Algumas coincidências e aparições fantásticas ao longo da história também são interessantes, porque fazem sentido dentro do contexto da trama. As perguntas não respondidas não me incomodaram (como acredito que não estejam incomodando você) porque a viagem pelo livro já vale muito mais que o destino final.

    Acho que 'Kafka à Beira-mar' foi o último livro de Murakami com o qual realmente me empolguei bastante. 'Após o anoitecer' é muito bom também, mas muito curto; está mais para conto. 'Minha querida Sputnik' também vale a leitura.

    Mas o fato é que ultimamente ando me decepcionando um pouco com Murakami, achando seus livros bastante repetitivos e semelhantes uns aos outros. Para você ter uma ideia, sequer consegui começar o terceiro e último volume de '1Q84'.

    Abraços!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Sem exageros, Kafka a beira-mar é um dos melhores livros que tive a oportunidade de ler, mas apesar disso, não sei por qual motivo, é um livro do qual não tenho vontade de reler.

    Estou com Norwegian Wood em mãos, mas vou dá um tempo para a literatura surrealista de Murakami, já li 'Minha querida Sputnik' e como o livro é pequeno, finalizei a leitura em dois dias.
    Em relação a 1Q84, tenho a mesma opinião. A historia do meio p\ o fim decepcionou bastante.

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