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04 junho 2012

Estado de medo, de Michael Crichton

"É claro, sabemos que o controle social é mais bem exercido através do medo." (p. 471)

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Na falta de um livro inédito sobre o qual comentar esta semana, resolvi escolher aleatoriamente da minha estante um romance que eu já tivesse lido há algum tempo, a fim de escrever sobre ele e, em suma, revisitá-lo. É sempre bom, se não reler, pelo menos revisitar os bons livros de nossa coleção; assim, impedimos que eles caiam no esquecimento e fiquem apenas acumulando poeira. Emprestá-los também é uma excelente opção para evitar isso.

Hoje, venho aqui compartilhar com vocês minhas idéias acerca de um dos mais polêmicos romances do escritor norte-americano Michael Crichton (que, como seus leitores sabem, escreveu algumas obras belicosas no fim de sua carreira). Estado de medo (State of fear, 2004) é um desses romances controversos, tendo lhe rendido muitas críticas negativas por parte de grupos ambientalistas, uma vez que, na sua análise de dados, a existência do aquecimento global é mais pautada em exagero do que em provas concretas. Uma afirmação ácida, sem dúvida.


Sinopse: A história do livro gira em torno de uma ação contra a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Os habitantes da ilha Vanutu, localizada no Pacífico, corriam o risco de ter de evacuar o país por causa da elevação do nível do mar, resultado do aquecimento global provocado pelo maior e mais descuidado emissor de dióxido de carbono do mundo, os EUA. Os moradores da ilha tinham grandes chances de ganhar o caso, especialmente depois que o Fundo Nacional de Recursos Ambientais se ofereceu para ajudá-los. No entanto, o processo jurídico nunca foi levado a cabo, e as circunstâncias da ação processual foram encobertas por uma rede de mistérios e assassinatos calculados.

Para uma resenha bem mais completa (site da Rocco), clique aqui.


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Estado de medo é um dos muitos livros de Michael Crichton que eu senti prazer em reler: não só porque alguns detalhes do enredo ficaram mais claros na segunda leitura, mas também porque pude curtir outra vez a intrincada e emocionante trama do livro, que inclui excursões à Antártica, cenas na França, na Malásia e em uma remota ilha insular do Oceano Pacífico, a nação fictícia de Vanutu. Outra obra de Crichton que gostei muito de reler foi Next (o último e mais irônico livro do autor), que oferece um panorama sombrio de como as coisas podem ficar no mundo caso a engenharia genética continue seguindo os caminhos inescrupulosos que parece estar tomando.

Eu diria que a leitura de Estado de medo não fica nem um pouco comprometida se você abrir mão de suas visões pré-formadas e se deixar espantar com algumas das informações divulgadas no livro –receptividade esta que nem todos tiveram, já que a principal crítica dirigida à obra diz respeito à reação furiosa das pessoas diante da negação do aquecimento global. Embora o romance seja de ficção, todos os dados apresentados nele são verídicos e comprovados em agências de investigação climática – como, por exemplo, o fato de a Antártica vir esfriando paulatinamente nas últimas duas décadas.

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A opinião de Michael Crichton (que, verdade seja dita, não pode ser considerado um homem conservador) é bem embasada e interessante se for analisada sem estarmos antes com pedras nas mãos, apenas esperando o livro terminar para arremessá-las. Receptividade e abertura à opinião do autor é a chave para o bom aproveitamento da leitura desse romance.

Mesmo assim, ler o livro sem um julgamento prévio na cabeça não implica necessariamente concordar com tudo o que o autor afirma. Em certo momento, por exemplo, Crichton parece ser simpático à idéia absurda de que a Natureza não está sofrendo tanto com o processo de industrialização como se costuma supor. Essa hipótese é facilmente subjugada pelos argumentos da teoria sistêmica capriana, que enfatiza claramente e comprovadamente a influência maléfica do ser humano no meio natural nesta virada de século.

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De um modo mais amplo, a mensagem fundamental que Estado de medo traz ao leitor é a de que muitos dispositivos sociais maquiam e enfeitam a realidade cotidiana para deixar a população em um perpétuo "estado de medo", que garante a docilidade e a cooperação das pessoas no mundo todo. Cita-se a Guerra Fria, o medo da poluição ambiental e alguns aspectos do medo do terrorismo; de fato, realmente há o que temer nesses assuntos, mas as agências de maior relevância que operam no Sistema (mídia em especial) manipulam os dados a fim de obter aquilo que se quer. É um discurso maquiavélico meio batido que, aqui, adquire uma roupagem nova e interessante quando aplicado às questões climáticas.

Costumo dizer que eu recomendo Estado de medo para as pessoas que gostam de debater sobre assuntos polêmicos de maior importância nesse nosso início de século. Em meio a essa reflexão bem-vinda, somos mergulhados em uma trama que mistura ciência, suspense e ação, bem ao estilo dos melhores livros do autor, tais como Jurassic Park e Linha do tempo. O entretenimento sem dúvida é garantido. Estar de acordo com o que Crichton apresenta, talvez não. Mas o que importa é o percurso: os debates, os pontos de vista e, sobretudo, a reflexão levantada sobre o tema. É melhor do que ficar calado e aceitar tudo o que vem da televisão como verdade.

5 comentários:

  1. Excelente, tive o prazer de um amigo me emprestar esse livro. Ele é enorme..confesso que o inicio a leitura eh até um pouco chata mas a medida que avança começa a ficar empolgante e viciante com a marca do mestre Crichton.

    Muito bom a parte do "PLM" e a nota final de Crichton. Varias frases dele marcantes.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá, Igor!

    Se não me engano, este é o romance mais extenso do Crichton, algo por volta das 600 páginas. Sem dúvida é um livro muito empolgante, principalmente nas partes de aventura e ação!

    As notas finais do autor realmente são bem esclarecedoras.

    Grande abraço!

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  4. Olá,

    Não sei se você já leu Linha do Tempo, estou lendo agora e estou achando impressionante a riqueza de conhecimento que Crichton passa ao misturar idade média e ficção científica com a física quântica, a narrativa é emocionante é dificil consegui para de ler.

    Queria saber sua opinião a respeito dessa excelente obra.

    Abraço

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  5. Olá!

    Igor, já li 'Linha do Tempo', sim. Coincidentemente, estava pensando nele hoje mesmo. É um livro impressionante justamente por causa disso que você falou: a mistura entre ficção científica, Idade Média e física quântica.

    Na minha opinião, a aventura de 'Linha do Tempo' é comparável à de 'Jurassic Park', em termos de ação e reviravoltas. Li esse romance duas vezes, e lembro que na releitura eu captei uma série de detalhes que não tinha percebido na primeira vez.

    Enfim, é um livro marcante na bibliografia do Crichton. Que bom que está gostando!

    Abraços!

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