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13 junho 2011

Quinze dias em setembro, de Ryoki Inoue

"Estes, sim, precisavam enxergar que o mundo não tinha acabado e que a vida, como num espetáculo circense após a queda fatal da trapezista, teria de continuar." (p. 313)

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O caso é freqüente: muitos médicos abandonam a sua exaustiva e honrada profissão para tentar o reconhecimento como escritores. São vários os exemplos de personalidades que entraram nessa empreitada e conseguiram sucesso, como é o caso de Michael Crichton, Tess Gerritsen e Arthur Conan Doyle*. Todos esses ex-médicos conseguiram alavancar um grande número de leitores, e seus livros são bastante lidos inclusive no Brasil.

Temos também os exemplos não tão famosos, como por exemplo o do brasileiro Ryoki Inoue, paulista formado em medicina que, desde 1986, deixou o estetoscópio de lado e pôs as mãos na máquina de escrever. Até agora, publicou mais de 1.000 livros, e é por esse feito impressionante que seu nome está no Guinness Book.

Depois que eu descobri esse autor e soube desse detalhe, achei de boa política ler alguma coisa do escritor mais prolífico do mundo. Por que não? Será que ele tem qualidade, ou é só quantidade, mesmo?Escolhi um de seus romances mais famosos, Quinze dias em setembro (2008), e matei minha curiosidade.


Sinopse: Fefê é um playboy paulistano. Donovan e Steinberg são investigadores do FBI. Amina é médica. Samira sonha em ser modelo. Mathew e Natalie são jornalistas. Hafez, Mohamed e Ibrahim são religiosos extremistas. O que todos têm em comum? Suas vidas se encontram por causa de um único evento: o ataque terrorista às Torres Gêmeas do World Trade Center.

Com uma narrativa que transcorre simultaneamente em São Paulo e Nova York, Quinze dias em setembro possui uma trama repleta de ação, suspense e reviravoltas.


Desde o começo, uma coisa fica clara: o livro deve ser tratado como um romance de puro entretenimento. A escrita de Inoue é objetiva, sem floreios sofisticados. No início a narrativa alterna trechos rápidos que focam em diferentes personagens, apresentando-os ao leitor. Logo no prólogo, fica um tom de mistério suspenso no ar, porque a história começa já avançada para o atentado às Torres Gêmeas, e o leitor fica sem entender as motivações dos personagens que estão sendo apresentados. Só depois, quando o primeiro capítulo começa, é que o tempo retrocede até o início de tudo. E, então, a história efetivamente começa.

Logicamente, não é por ser um romance de puro entretenimento que o livro de Inoue é ruim. Pelo contrário, consegue prender bastante a atenção, principalmente da metade para nos capítulos finais. O problema, nesse caso, talvez esteja nos primeiros capítulos: fica a sensação de uma história que tem pouco a ver com a sinopse, que se arrasta. Além do mais, o personagem Fefê, principal protagonista no início, tem um caráter muito desagradável, e é duro ter que continuar a leitura sendo guiado só por esse jovem playboy imaturo.


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Escritor brasileiro Ryoki Inoue figura no Guinness como o autor mais prolífico do mundo


O segundo defeito sério do livro está na insistência do autor em utilizar a técnica de fazer os personagens verbalizarem explicitamente os seus pensamentos. São muitos os exemplos em que, no meio do texto, as aspas se abrem e o pensamento do personagem começa a ser destilado minuciosamente em primeira pessoa, o que é muito maçante na maioria das vezes. De repente, mesmo estando sozinho, alguém começa a murmurar consigo algo do tipo: "O que farei agora? Não posso deixar transparecer isso! Já sei! Vou fazer tal coisa, para que Fulano não pense mal de mim. Agirei assim e assim, e espero que nada dê errado…"

Esse recurso muito usado por novelas estraga (bastante) uma boa parte da experiência da leitura, pelo menos na minha opinião. Nas novelas até que o recurso se justifica, já que elas não têm outro meio de deixar claro o que vai pela cabeça do personagem… mas em um livro?

Bem, por mais que não pareça, eu garanto que, tirando esses dois defeitos (começo arrastado e a insistente "verbalização de pensamentos"), o livro consegue prender a atenção e ser bom. A trama intrincada e o submundo dos grandes milionários como João Antônio, aliados a falsidade ideológica e uma miríade de outros crimes, atrai e muito os admiradores de romances policiais. E, nesse caso, o romance de Ryoki tem sucesso e não desaponta.


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Juro que só depois de bater a foto é que eu me dei conta da coincidência do avião no marcador


Recomendo Quinze dias em setembro para quem quer uma leitura leve. Para quem não está a fim de quebrar a cabeça com conflitos psicológicos sérios, mas com intrigas policiais envolvendo o FBI, com direito a trapaças e dinheiro sujo. Nas mãos de Inoue, esses ingredientes de trama policial me entreteram muito.

Por fim, eu queria dizer que o romance ganha pontos quando analisa criticamente o atentado do dia 11/09. Os personagens Natalie e Mathew, como jornalistas, discutem em muitos trechos as conseqüências do ataque terrorista para o mundo – conseqüências econômicas e políticas. Com essa análise, o "entretenimento" ganha um toque mais sofisticado, já que não usa o trágico acontecimento como mero fio condutor.


* Conan Doyle abandonou a carreira de médico em 1891, quatro anos depois de ter escrito Um estudo em vermelho, primeira aventura de Sherlock Holmes.

5 comentários:

  1. Me interessei pelo livro, ótima resenha.

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  2. Fabiana não minta seu nome, minina

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  3. Olá!

    Recomendo a leitura do livro, sim. É bem divertido, você não vai se arrepender. :)

    Abraços, volte sempre!

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  4. Também achei, o início, meio arrastado. Mas a trama é realmente bem divertida. A gente fica torcendo pelo babaca do Fefê que, ao final, tem um fim merecido.

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  5. Olá, dormidela!

    Realmente, fica um desejo no leitor de que o destino do Fefê não seja dos melhores... haha
    E a história é bem divertida, sim :)

    Seja bem-vinda ao Blog, e volte sempre!

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