“Sentia uma real necessidade de rejuvenescimento, de experiências que me afastassem das coisas que fazia habitualmente, da vida rotineira que levava.” (p. 9)
Principal característica do post: conversa descontraída.
O quadro Vale a Pena Ler de Novo é um tópico novo do blog que se destina a mostrar às pessoas (leia-se: meus amigos) aqueles livros que eu li e que são interessantes para uma releitura posterior. Existem vários títulos por aí afora que demandam uma nova leitura, seja para uma melhor assimilação do conteúdo ou simplesmente porque o leitor o achou muito bom e quer lê-lo uma segunda vez. O objetivo do Vale a Pena Ler de Novo é servir de guia para mostrar que livros são esses e falar um pouco sobre a minha experiência pessoal com eles.
Partindo do princício de que os blogs são espécies de diários virtuais, tão pessoais, eu devo bater na tecla que diz que os livros aqui expostos são expostos por conta do meu gosto pessoal, e não necesseriamente fazem parte dos títulos que eu julgo universalmente clássicos.
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Eu tenho o costume de dizer para os meus amigos e familiares que foi Michael Crichton quem me ensinou a ler livros de literatura. Como eu já andei dizendo por aqui, Jurassic Park foi o primeiro livro “para adultos” que li, e ele foi o bastante para que depois viessem, em rápida sucessão, os outros volumes do autor: Mundo Perdido, Linha do Tempo, Esfera, Estado de Medo, Next, Um Caso de Necessidade, etc.
Pode-se dizer que é por conta de Michael Crichton que, até hoje, eu gosto de livros de aventura. Certas coisas surgem na nossa infância e não mudam nunca. Se eu pegar um livro hoje e constatar que ele tem boas doses de aventura, eu logo associo o gênero a Crichton.
Li Álbum de Viagens pela primeira vez quando tinha 16 anos, e posso dizer que ele mudou uma parte significativa da minha filosofia de vida. (Que filosofia de vida um cara de 16 anos pode ter? Mas tudo bem.) Naquela época, todos os relatos de Crichton – suas idas ao Oriente, seus mergulhos em águas de Bornéu, suas escaladas em pirâmides astecas no México, suas jornadas nas savanas africanas – tudo isso abriu meus horizontes até então diminutíssimos, resumidos às paredes do meu quarto e da sala de aula.
Eu lia o livro avidamente e, à medida que o lia, via quão insignificante a minha vida iria continuar sendo até que eu tomasse a resolução de não deixar que ela seguisse esse curso monótono de rotinas e hábitos. Essa idéia persiste até hoje dentro da minha cabeça, e posso dizer que ela veio junto com esse livro. Lendo as excurssões perigosas de Crichton – que já era meu ídolo literário há seis anos – eu sentia invejas e ansiava por ter uma existência cambiante como a dele.
Inclusive, embriagado pelo desejo de viver experiências novas e arriscadas, cheguei a convidar minha namorada da época para uma excurssão até o litoral do estado via ônibus, onde daríamos um passeio tal qual o passeio de Crichton pelas praias de Cingapura. (O plano obviamente não deu certo, por vários motivos; dentre eles, o da consciência de que uma viagem de ônibus não seria nem um pouco empolgante).
Embora hoje eu continue achando que as aventuras de Crichton realmente foram empolgantes e epifânicas, passei a interpretá-las por um outro ângulo (isso depois da releitura do livro). Vejo-as agora como viagens feitas por um escritor de best-sellers bem sucedido e cheio da grana, que, junto com um punhado de outros turistas estribados, brincava de Indiana Jones. Pode parecer uma visão talvez cruel e sem dúvida decepcionante, e vocês podem ainda estar se perguntando “Se Marlo Renan se decepcionou em parte com a releitura do livro, por que a recomenda?” mas a verdade é que, mesmo com o defeito que indiquei no começo deste parágrafo, uma segunda leitura de Álbum de Viagens vale a pena.
Eu poderia citar vários motivos para explicar isso, porém vou me deter apenas aos principais: (a) Crichton é dono de uma escrita cristalina e perfeita, e dar uma reolhada no jeito como ele escrevia não é demais, não mesmo. (b) O livro não conta apenas as peripécias do autor ao redor do mundo, mas também mostra o que Crichton pensava durante a universidade de medicina, como lidava com os professores carrascos e, o mais legal de tudo, como ele abandonou a faculdade perto do final para se tornar escritor. (c) Essa é a obra mais estritamente pessoal dele. E isso, por si só, é impressionante, porque Michael Crichton era autor de best-sellers conhecidíssimos e era tido como alguém destituído de vida pessoal. É como se, nos dias de hoje, um Dan Brown da vida lançasse um livro falando sobre suas experiências pessoais e fosse totalmente sincero contando-as.
Mesmo achando agora que as excursões de Crichton eram, na verdade, “passeios” de alguém rico, a releitura do livro Álbum de Viagens vale a pena para se deparar outra vez com as belas lições que o autor extraía de cada experiência.
Acho que a idéia é essa, mesmo.
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“Freqüentemente, tenho a impressão de que busco uma região distante no mundo para me lembrar de quem realmente sou. Não há qualquer mistério sobre a razão dessa atitude. Deslocado do seu ambiente habitual, privado de seus amigos, de suas rotinas diárias, de sua geladeira cheia de comida, de seu armário cheio de roupas – destituído de tudo isso, você é compelido à experiência direta.” (p. 10)
Pra mim, Michael Crichton foi uma daquelas boas surpresas. Peguei Parque dos Dinossauros completamente incrédula e achei muito bom! Mas este foi o único que li dele. Vou dar uma olhada em outros qualquer hora, gostei do teu texto.
ResponderExcluir'O Parque dos Dinossauros' realmente é muito, muito bom. Li-o duas vezes, assim como quase todas as outras obras de Crichton! Se você quiser dar uma olhada em outros livros dele, veja 'Esfera' e 'Presa', dois dos melhores na minha opinião.
ResponderExcluirObrigado pela visita. Abraço! :)
Interessante o post =D (mesmo que o nome da categoria seja meio cliché, hahaha...)
ResponderExcluirLegal o fato de você recomendar uma releitura do livro mais por conta da sua relação com ele do que pela obra em si (por mais que você deixe claro que existem vários méritos no texto a serem observados). E me identifiquei com a parte que você fala dos seus 16 anos, a inquietude e a vontade de sair da rotina... algo que até hoje me inquieta.
Já eu não gosto muito da idéia de fazer algo duas vezes, a não ser que realmente valha a pena. Mas vale aqui pelas recomendações =D
Té mais!
Que o nome da categoria é clichê, quanto a isso não restam dúvidas! (haha :D)
ResponderExcluirEu gosto bastante de falar sobre a minha relação com os livros, especificamente, em vez de falar apenas sobre eles em si. Acho que isso dá um caráter mais pessoal às resenhas (coisa de que gosto) e um dinamismo maior, além de chamar mais a atenção do leitor - na minha opinião. ^^
Essa vontade de sair da rotina também me inquieta até hoje. Acho que um dia (quem sabe?) irei saciá-la.
Não é raro eu reler um livro por acaso. Pego um deles a esmo da minha estante, folheio as primeiras páginas de forma despretensiosa, leio o prólogo e, quando vejo, já estou lá na frente. ^^
Valeu pela visita! Até mais! ;D