Me deparo hoje com o nº 49 da revista Veja sobre o balcão da banca de jornal que eu freqüento. A capa anuncia uma matéria sobre nudez pública e suas conseqüências para a nossa sociedade "humanizada" - até que ponto a nudez é ofensiva?, perguntam os jornalistas da revista.
Como sempre acontece comigo (principalmente em se tratando de revistas e livros), puxo o dinheiro do bolso e levo a edição por impulso. Ainda caminhando, voltando para casa, abro-a e vou direto à matéria em questão (isso depois de ter passado pelos inevitáveis mini-artigos que os redatores ainda insistem em publicar sobre Britney Spears, Cristiano Ronaldo, Paris Hilton e etc.)
Na página 148, finalmente leio: "Puritanismo envergonhado". Olho em torno da praça na qual eu estou, avisto um banco, caminho até ele e sento. Ponho minha mochila de lado. Continuo lendo o lead, até que vejo: "É (...) intrigante que [a nudez] esteja sendo contestada agora no Brasil por atores e atrizes."
Observo novamente as redondezas da praça e, quando percebo que estou realmente sozinho, começo a rir. Realmente, é intrigante que os atores brasileiros estejam contestando a nudez. Dê uma olhada nos filmes nacionais que rodam por aí. A maioria deles têm, no mínimo, 1 minuto de pornografia. Não estou exagerando. Afirmo isso com toda a certeza possível.
Bem, de qualquer forma, decido não me precipitar e continuo lendo a matéria (por sinal, muito bem escrita por Marcelo Bortoloti). No texto, vejo que quem alavancou a discussão foi o ator Pedro Cardoso, quando palestrou sobre o assunto no lançamento do seu filme e escreveu algo em seu blog. Concordo plenamente com a iniciativa dele, principalmente ao dizer que "a pornografia tornou-se agora um modo de atrair o público. Temos visto cenas de nudez ou quase nudez em basicamente toda a programação dos programas de televisão brasileiros".
Algumas atrizes deram depoimento à reportagem da Veja e algumas delas - como Maitê Proença, que já posou 2 vezes para revistas masculinas - dizem que se expor para as câmeras sempre traz certo constrangimento.
Nota mental: se a comunidade cineasta brasileira é, de certa forma, contrária à nudez presente nos filmes e revistas, então por que os atores, atrizes e diretores ainda se submetem a essa prática?
Sentado no banco da praça, leio mais um pouco. "Não deixa de ser intrigante que essa questão esteja sendo discutida no Brasil nos dias atuais", escreve Marcelo. Concordo. O Brasil sempre foi (e não deixou de ser ainda) o país dos biquínis, do Carnaval, da pornochanchada. Agora, os atores brasileiros estão querendo criticar a nudez, quando, justamente, é o próprio cinema que mais endossa esse detalhe.
Finalizo a leitura, fecho a revista e volto a caminhar em direção à minha casa. Particularmente, eu nunca (nunca, mesmo!) gostei de nenhum filme que exibisse uma cena de sexo por mais de 1 minuto. Acho que essa tática é uma pura falta de criatividade, um puro alarmismo, uma pura tentativa forçada de fisgar o telespectador para a tela - quando na verdade não funciona, pelo menos não com o telespectador sensato, apreciador do bom cinema.
O que faz um bom filme não é a quantidade de sexo que existe nele, e sim a qualidade do roteiro pelo qual a trama é conduzida. Tenho a impressão de que os diretores brasileiros se esquecem disso, ou nunca aprenderam. Na verdade aproveito a deixa para reclamar que, no Brasil, as cenas eróticas pululam nas telas dos filmes nacionais, ferindo os olhos dos fãs de cinema como eu. Certo dia, assisti a um filme (brasileiro) que mostrava uma cena erótica por mais de 5 minutos. Imaginei ter entrado na sala errada, até que finalmente voltei a ver o rosto dos atores. Pensei com asco que aquilo era ridículo, porque o filme realmente não precisava daquela cena.
De qualquer forma, se os atores brasileiros continuarem contestando a nudez explícita e desnecessária nos filmes daqui e se recusarem a filmar qualquer coisa do gênero, eu dou o meu maior apoio. Mas, por outro lado, se isso for apenas uma modinha, se os atores brasileiros contestarem o erotismo nas telas e continuarem a filmar coisas afins, eu digo que isso é querer chamar atenção.
No entanto, deixando de lado a minha impiedade, fico satisfeito ao ver que alguém (mesmo que tardiamente) pôs a boca no trombone e retaliou a nudez do cinema brasileiro. Me refiro a Pedro Cardoso. Fico satisfeito ao saber que não sou o único a não gostar dessa falta de vergonha apelidada de "arte".
pós-escrito: o que mais me fez rir foi um depoimento da atriz Cristiana Oliveira na página 151. Diz ela: "Não fico nem um pouco à vontade atuando sem roupa. Já fui convidada para fazer trabalhos em cinema, no Brasil (...), que recusei por conta disso, achei apelativo. A nudez não pode ser maior que a história."
Bonito discurso. Eu concordo com essas palavras, mas, vindo da Cristiana, elas soam contraditórias: a atriz participa da reprise de Pantanal (a novela mais pornográfica da história do nosso país) e já posou nua para uma revista masculina.
muito bom este seu blog.tao bom quanto seu outro...:D
ResponderExcluirconcordo tambem.a nudez sempre foi algo apelativo no cinema.existem filmes que viraram classicos e nunca precisaram utilizar a nudez como recurso chamativo.o proprio conteudo do filme ja o torna chamativo,sem ser necessariamente apelativo ao sexo...
viajei... :P
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ... não gostei muito da forma que você fez a crítica. Isso era pra ser um parecer crítico, ou um artigo de opinião, você acabou dando uns toques meio de "conto". Ali naquele começo, ficou uma narrativa, não gostei desse aspecto.
ResponderExcluirSobre a crítica em sí, eu não concordei com algumas afirmativas. Exemplo : "Dê uma olhada nos filmes nacionais que rodam por aí. 99,9% deles têm, no mínimo, 5 minutos de pornografia. Não estou exagerando. Afirmo isso com toda a certeza do planeta." Isso não está nem perto da verdade, e mesmo que sua intensão tenha sido fazer uma hipérbole (que eu sinceramente acho que não) , ainda assim, não ficou muito legal, na minha opinião, é claro.
Também não concordo com o trecho que você afirma que são apelações as cenas pornográficas (quando duram mais de 5 minutos) dos filmes, e que aquilo é "falta de criatividade" do diretor. Acho que esse tipo de cena é, muitas vezes, necessário.
Por fim, acabei gostando de algumas partes, como nas críticas às atrizes que apesar de falarem o que falaram, já pousaram nuas em revistas, etc...
abraço.
A se eu soubesse há mais tempo que era um Crítico de primeira linha! ;D
ResponderExcluirParabéns pelo singelo, entrentando coeso e consistênte, alfarrábio, Gato Branco.
Abraço!
Cara, não concordo em nada com as palavras de Lucas Xavier de Melo..
ResponderExcluirO fato de criticar que coexistem, na crônica, aspectos de "conto", nada mais indica, no autor, a tendência pós-moderna que se insere em suas crônicas. Isso faz parte da pós modernidade e, digo mais, dá mais riqueza à crônica, dando uma dinamicidade a ela. Ao contrário de Lucas, eu elogio isso no autor..
E sobre a 'hipérbole', nada mais justo e coeso o que o Marlo escreveu;
Bela crônica, Marlo.