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09 maio 2013

1Q84 | Tomo II, de Haruki Murakami

"O que estou querendo dizer é que no mundo há coisas que é melhor não saber." (p. 168)

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No último final de semana eu finalizei a leitura do segundo volume da obra 1Q84 (1Q84, 2009), trilogia esta que é até o presente momento o trabalho mais elogiado do escritor japonês Haruki Murakami, autor de clássicos como Norwegian Wood e Caçando carneiros. Murakami, conhecido pelo estilo limpo e cosmopolita, em cujos livros faz várias referências ao mundo pop ocidental, ingressa em 1Q84 nos universos fantásticos que os personagens Tengo e Aomame habitam e lutam por compreender.

Repleta de obras originais que se situam entre o cult e o popular, a bibliografia do autor alcança em 1Q84 o seu ponto mais ousado. Não só pela extensão do livro, enorme, mas por recorrer a uma complexa trama que mais deixa dúvidas no espírito do leitor do que traz respostas. Aliás, leitores que buscam histórias de fácil assimilação devem correr longe de 1Q84, que nos faz mergulhar em um mundo denso onde qualquer coisa é possível de acontecer e onde não há horizontes nítidos.

Até agora, depois de ler 1Q84 I e 1Q84 II, sinto que os dois livros poderiam ser um pouco melhores, principalmente este segundo. Mesmo assim – como grande admirador dos trabalhos de Murakami – aguardo ansiosamente a chegada do tomo final da história.


Sinopse: 1Q84 é um mundo real, mas as coisas não são exatamente como antes. Para começar, duas luas agora pairam no céu: uma grande, cinzenta, e outra menor, irregular, de tom levemente esverdeado. E há também o chamado Povo Pequenino, cujas intenções permanecem ocultas. Nesse mundo, paralelo a 1984, o destino de duas pessoas, Tengo e Aomame, está intimamente ligado. Cada um, à sua maneira, está fazendo algo perigoso, que pode colocar sua vida – e a de outras pessoas – em risco.

Para ler a resenha sobre o primeiro tomo, clique aqui.


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Uma jovem que desaparece na Grécia sem deixar vestígios, um velho capaz de conversar com gatos, uma garota que se encontra há meses dormindo profundamente, um homem misterioso que se veste de carneiro… Essas são algumas das personagens de livros anteriores de Haruki Murakami, que sempre primou pela inventividade e originalidade para tentar explicar o mundo das relações humanas normais. Em 1Q84 não poderia ser diferente, e aqui encontramos o jovem Tengo, professor de matemática do pré-vestibular que se encarrega clandestinamente de reescrever Crisálida de ar, um misterioso romance que narra uma história surreal e ao mesmo tempo verídica; e também temos Aomame, uma personal trainer solitária fria e metódica que esconde a sua segunda ocupação: assassinar por encomenda homens que maltratam mulheres.

Em 1Q84 II os acontecimentos e personagens do primeiro livro são aprofundados de forma mais aguçada, e a trama paralela dos dois protagonistas começam a se unir com grande força, aos poucos mas de modo veemente. No entanto, esse aprofundamento é lento e ladeado por situações que não parecem acrescentar muito à história, o que faz com que as 370 páginas do livro custem um pouco a passar. Prolixo, Murakami incrementa tanto o seu universo que ele parece ser ofuscado por situações banais e sem maior sentido, de modo que os grandes momentos da obra ficam esmaecidos e sufocados. Não entro em detalhes para não entregar spoilers.

É neste segundo volume que conhecemos melhor a história de Fukaeri, enigmática garota cujo passado permanecia envolto em grande mistério. Sua infância, recheada de elementos surreais, é narrada no livro Crisálida de ar, que Tengo reescreveu e que faz o maior sucesso comercial nas livrarias do Japão. O capítulo que narra a vida na comunidade Sakigake e o que ocorreu com a Fukaeri de 10 anos de idade está entre um dos melhores momentos de 1Q84 II. Além disso, a essência e as intenções do sinistro Povo Pequenino são melhor exploradas, mesmo que ainda estejamos cheios de dúvidas a seu respeito; porque na mesma medida em que Murakami tira alguns questionamentos do leitor, ele fornece mais e mais enigmas e becos aparentemente sem saída – o que dá uma certa agonia, não minto.

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Um bom exemplo de desenvolvimento é da personagem Aomame, que parece estar bem mais solitária e deprimida neste segundo episódio do que no primeiro. Em 1Q84 II ela é uma jovem com graves crises existenciais e uma densa sensação de vazio, agravada pelo fato de partir para uma missão cujos detalhes desconhece totalmente. Acho muito interessante a sua história pregressa, uma infância mergulhada no fanatismo religioso que para ela, criança de 10 anos, não fazia sentido – ser uma Testemunha de Jeová.

De modo geral, gostei muito de poder conhecer mais a fundo a essência das personagens, suas dúvidas e suas posturas. Por exemplo, é excelente o capítulo no qual Tengo desvenda alguns dos mistérios de sua própria vida na visita que faz ao pai, em uma casa de repouso que funciona como sanatório, à beira da praia. 

Tirando os vícios de sempre do autor – como inserir cenas de sexo sem sentido e várias referências eróticas, bem como lançar mão do mesmo estilo limpo e seco na fala de todos os personagens – o livro é bom e prende muito a atenção, fazendo mesmo jus ao adjetivo "envolvente". Mesmo que minhas obras favoritas de Murakami sejam Norwegian Wood (1987) e Kafka à Beira-mar (2005), admito que este japonês continua despertando o meu interesse por tudo o que ele escreve e publica. Recomendo seus livros para os leitores que gostam de sair da rotina literária de sempre, surpreendendo-se com uma literatura mais excêntrica.

E que venha o terceiro tomo de 1Q84.


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4 comentários:

  1. Excelente resenha, concordo com tudo. Também esperava mais nesse segundo livro.

    Mas Murakami me surpreendeu, nada aconteceu como eu previa. No final ele ainda coloca uma grande duvida com o que ocorreu com Aomame, enfim no geral gostei do livro.

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  2. Olá, Igor!

    Muita gente esperava mais desse segundo, mesmo. Infelizmente não foi do jeito que queríamos, mas teve seus grandes momentos, sim, a começar pelos vários elementos surpresa.

    Abraço, obrigado pela visita!

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  3. Christine Estrela25 junho, 2013 10:48

    Ganhei o vol.01 no meu aniversário,e já estou aguardando ansiosamente o último volume.Acabei de ler o vol.02 e estou achando,que fui, como Tengo, arrastada para o mundo da ficção, o que está me ajudando muito, devido a nossa realidade estar muito mais confusa do que a descrita pelo autor em 1Q84.

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  4. Christine, excelente comentário!

    Realmente às vezes nós ficamos nos perguntando qual é a realidade mais coerente e menos assustadora... Porque, sinceramente, não dá para saber se é esta em que vivemos ou se é a do universo murakamiano.

    Abraços, obrigado pela visita!

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