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24 abril 2013

Momo e o Senhor do Tempo, de Michael Ende

"Momo ouvia todos com atenção: gatos, cachorros, grilos e sapos, até a chuva e o vento nas árvores. E cada um falava com ela à sua maneira." (p. 17)

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No último sábado finalizei a leitura de Momo e o Senhor do Tempo (Momo, 1973), livro infanto-juvenil escrito por um mestre na área, o alemão Michael Ende, autor do famosíssimo A história sem fim. Nascido em 1929 e falecido em 1995, Ende deixou para trás uma magnífica literatura voltada para crianças e jovens, que encantou um público muitíssimo vasto em todos os países nos quais fora publicado, firmando-o como um dos autores mais queridos do século XX.

A história da garota Momo – uma doce menina de rua que luta para devolver às pessoas o tempo perdido de suas vidas – aproxima-se muito da temática que estudo no Laboratório Otium de pesquisa da Universidade de Fortaleza, na pós-graduação em Psicologia. Nele, nos debruçamos sobre conceitos como ócio, lazer, trabalho e tempo livre na sociedade contemporânea, e o romance de Ende não poderia ser mais próximo disso.

Resultado: leitura excelente e muito tocante. Vale a pena conferir.


Sinopse: O tempo é um enigma que intriga crianças e adultos que ainda não desaprenderam de se maravilhar com aquilo que parece evidente. A história de Momo se passa num reino de fantasia situado no nada e em lugar nenhum, ou numa região sem tempo. Não é uma história de príncipes, princesas e fadas. Seu contexto se baseia totalmente na vida atual.


Como toda obra infanto-juvenil de qualidade, Momo é um romance voltado tanto para crianças quanto para jovens e adultos. De maneira alegórica, divertida e emocionante, Ende levanta uma reflexão que só anda ganhando cada vez mais amplitude, principalmente nos dias de hoje: o que estamos fazendo com o tempo de nossas vidas? Será que estamos utilizando nosso tempo para nós mesmos? Ou estamos usando nosso tempo somente para os outros, sem que percebamos? É possível realizar milhões de coisas durante o dia e chegar à conclusão de que não estamos fazendo nada, na verdade?

Na obra, os Homens Cinzentos são os responsáveis por roubar o tempo das pessoas da cidade, que, sem perceber, não têm mais tempo para absolutamente nada, nem mesmo para os seus filhos, que são colocados em lugares chamados de Depósito de Crianças (qualquer alusão a creches não é coincidência). O resultado é que a cidade grande se transforma em um caos de pessoas aborrecidas com o trabalho, insatisfeitas com a vida e privadas de toda e qualquer experiência gratificante – o que emula nossa sociedade contemporânea. Sem tempo, ninguém é capaz de se enxergar e enxergar os outros, e todos estão preocupados unicamente em poupar horas e fazer tudo o mais rápido possível, mesmo que isso custe sua felicidade. Por trás desse cenário há a movimentação silenciosa dos Homens Cinzentos, que só sobrevivem alimentando-se do tempo poupado das pessoas.


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Michael Ende e Radost Bokel, a atriz que interpretou Momo no filme de 1986


A figura da protagonista Momo é o contraponto para todo esse frenesi caótico que se instala na cidade grande. Ingênua e simples, cheia de vida, repleta de sentimentos autênticos, a garota – espécie de Pequeno Príncipe do sexo feminino – começa a perceber que uma vida sem tempo significa uma vida sem amizades verdadeiras, sem espaço para a criatividade e sem significado. Aflita por ver seus amigos mais íntimos sendo seduzidos pelo discurso dos Homens Cinzentos, a menina começa a querer libertá-los do domínio desses temíveis ladrões de tempo. Gigi Guia, um dos melhores companheiros de Momo, é um exemplo de pessoa que, afundada em trabalho constante, economiza bastante tempo, enriquece e se torna famosa, mas não vê mais significado em sua existência agora vazia.

Uma das personagens mais carismáticas e engraçadas do livro é Cassiopeia, uma tartaruga capaz de prever o futuro com meia hora de antecedência e se comunicar através de palavras que aparecem em seu casco. Além dela, temos Beppo Varredor, um velhinho meigo que é o homem responsável por varrer as ruas da cidade; sempre ponderado e reflexivo, ele é o autor de boa parte dos melhores diálogos do livro.

Momo é uma leitura indicada para qualquer pessoa que queira pensar um pouco sobre o que está por trás do fenômeno do tempo. Romance metafórico, singelo e humano, como toda literatura do gênero deve ser, esta obra possui a impagável qualidade de permanecer em nossas cabeças mesmo muito depois de fecharmos o livro.


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Ilustração de Zuzanna Celej, aquarela e lápis sobre papel


20 comentários:

  1. Marlo,

    Parabéns pelo texto e pelo blog, sempre atraente e instigante para os amantes da boa leitura!

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  2. Gustavo,

    Muito obrigado pela visita e pelo comentário! Fico muito contente por ver que você aprecia o Blog.

    Abraços!

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  3. Por muito tempo procurei este livro em português! Tive a oportunidade de ver o filme na Itália em 2006 e fiquei impressionado com a sutileza da idéia e da reflexao sobre o tempo!
    Se voce souber onde encontrar o filme eu agradeço!
    Clemilson Teodoro

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    1. aí está o filme
      https://vimeo.com/user12078519/videos/page:4/sort:date

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  4. Olá, Teodoro! Obrigado pela visita!

    Sei da existência do filme, mas nunca tive a oportunidade de assisti-lo. Já me falaram que é muito, muito bom.

    Se um dia eu encontrá-lo, entro em contato contigo!

    Abraços,
    Marlo López.

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    Respostas
    1. Ola Marlon, segue um link para assistir ao filme e compartilhar
      https://vimeo.com/user12078519/videos/page:4/sort:date

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  5. Li Momo a primeira vez quando tinha 12 anos e foi, sem dúvida, um livro que mudou minha vida. A ideia de ninguém mais saber ouvir no mundo de hoje me fez tentar refletir mais sobre o silêncio na época, e notadamente gerou efeitos no adulto que me tornei. Recentemente meu namorado encontrou a obra e leu a para mim, e ambos ficamos emocionados com sua conteporaneidade. Deveria ser uma leitura mais difundida, e até obrigatória para jovens e adultos. Obrigada por divulgá-la.

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  6. Olá, Camila!

    'Momo' sem dúvida é uma obra muito atual, e eu diria até que ela vem se tornando cada vez mais pertinente com o passar do tempo. As pessoas de hoje estão facilmente se deixando guiar pelos Homens Cinzentos, e, pior, estão vendo esse processo nocivo como natural e até desejável.

    Fico feliz que tenha gostado da postagem. Muito obrigado pela visita e pelo comentário!

    Abraços,
    Marlo.

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  7. Uau, que blog fantástico! Indiquei o livro "Na natureza selvagem" para uma amiga e ela gentilmente compartilhou o link do blog (falavamos sobre a carta do Chris para o Ron).E agora já fiquei fã! Momo e o senhor do tempo...eu tinha até esquecido que um dia, acrescentei este livro a minha lista. Preciso dele urgente rs (como sempre preciso de todos rs). Parabéns pelo blog!

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  8. Olá, Enya!

    Fico muito lisonjeado por sua amiga ter compartilhado o link do blog! Aliás, estou extremamente lisonjeado pelas suas palavras. Muito obrigado!

    Muitas pessoas chegam até aqui por causa do 'Na Natureza Selvagem', que é um livro/filme que mexeu muito comigo. Houve uma época em que eu postava muitas coisas relacionadas a ambos, tanto ao livro quanto ao filme.

    A carta de Chris para Ron é um dos momentos mais marcantes dessa história. Sem dúvida!

    Grande abraço, e se sinta sempre bem-vinda por aqui! (:

    Ass.: Marlo Renan.

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  9. Gente! AGora que vi que o meu comentário saiu com o nome errado! Não sou Enya, sou Juliana! Desculpe-me! como eu mudo?!

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  10. Juliana! Acho que não é possível mudar o nome nos comentários já publicados, mas não se preocupe. Se for comentar outra vez, basta selecionar a opção Nome/URL em "Escolher uma identidade". Essa opção aparece no final da janela que abre quando você clica em "Postar em comentário". É simples.

    Grande abraço!

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  11. Valeu pela instrução, Marlo. Aliás, Momo chega essa semana. Oba!
    Abraços!
    Juliana

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  12. Olá,
    Li "Momo e o senhor do tempo" quando era adolescente, e nunca mais esqueci. Foi por causa desse livro que decidi ser escritor. Mas publicar não é tão fácil, e hoje sou professor e escritor amador. A essência da história, contudo,continua em mim.

    Abraços

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  13. Olá!

    'Momo' realmente é um desses livros que ficam na nossa memória por anos a fio. Desses que a gente lê e fica com vontade de escrever também!

    Muito obrigado pelo comentário.

    Abraços,
    Marlo.

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  14. Olá Marlon, comprei o livro, vou ler, certeza que vou gostar. Gosto muito do seu blog. Abraços
    Geane

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  15. Olá, Geane! Fico contente pelo fato de você gostar do blog.

    Boa leitura!

    Abraços,
    Marlo.

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  16. Olá, Marlo! Após meu último comentário em Julho/2013, vários livros depois rs e eis que finalizei Momo. Você tem razão: permanece em nossa cabeça mesmo depois que fechamos o livro. Beppo Varredor se tornou uma amigo, acho que até mais que Momo. Mas, talvez "eu o tenha reconhecido".

    Grande abraço
    Juliana

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Olá, Juliana! Grande prazer em vê-la por aqui de novo!

    Beppo Varredor está entre os personagens mais agradáveis do livro. Gosto quando o narrador menciona que o Beppo não se importa de ficar calado por muito tempo, contato que, quando for falar, diga alto interessante e proveitoso. É um estilo de vida que procuro adotar em várias ocasiões.

    Isso sem mencionar a filosofia dele de "varrer um passo de cada vez". Muito bom.

    Obrigado pela visita!

    Grande abraço,
    Marlo.

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