Pesquisar neste Blog

16 julho 2012

Noite em claro, de Martha Medeiros

"(…) eu não confio muito em suas noções de amor, e ele não confiou nas minhas quando amor era tudo que eu sentia."

Noite-em-claro MARTHA MEDEIROS - FOTO 2

Esperar pelo metrô ou pelo programa de televisão que só vai começar daqui a uma hora pode ser divertido quando, no lugar de não encontrar nada para fazer, você tem um livro de pouco mais de 50 páginas nas mãos. A literatura fast-food, como é chamado esse grupo de pequenos romances (ou grandes contos) sem maiores pretensões, constitui um dos meus passatempos prediletos enquanto leitor que, às vezes, para saciar sua sede, recorre a qualquer coisa que tenha uma capa e uma sinopse.

O livrinho que arranjei para passar o tempo foi, dessa vez, nacional: Noite em claro (2012), a mais recente prosa de Martha Medeiros, gaúcha que é conhecida como uma das cronistas mais populares do Brasil. Já chamada de literata feminista pela crítica especializada (rótulo que a autora rejeita com ênfase), Martha dá voz em sua novela recém-publicada a uma entrevistadora de programa de TV a cabo: assaltada por lembranças de sua vida amorosa passada, a protagonista – que não tem nome – faz um inventário dos homens que já passaram pela sua vida e resolve escrever um livro sobre isso, em uma noite chuvosa de insônia.


Sinopse: Na solidão do seu apartamento, uma mulher escreve sobre a sua história numa noite de insônia. Uma história plena de relacionamentos marcados por frustrações, dor e prazer. Encorajada pelo champanhe, sem nenhuma censura, ela vai contando sua vida enquanto chove lá fora. E o livro só terminará com o último pingo de chuva. Martha Medeiros, a poeta de Cartas extraviadas, a cronista de Feliz por nada, a romancista de Divã, está inteira nesta novela visceral que é um verdadeiro convite à reflexão.


O livro, que é curtíssimo, aproveita bem as poucas páginas que possui e fala somente o essencial: nenhum parágrafo parece sobrar, nada de devaneios arrastados (embora estejamos falando de uma personagem insone), nenhuma ponta solta, nenhuma idéia muito dispersiva. Aliás, o estilo seco e direto é uma das características mais notáveis da narrativa da protagonista (e de Martha), que não hesita em colocar no papel a história de sua muy caliente vida passional nos mínimos detalhes, sem, no entanto, encher lingüiça e aborrecer o leitor.

Em Noite em claro, a agilidade da narradora e a sua linguagem despreocupada (leia-se "despudorada") faz com que o leitor se atenha às páginas e procure saber afinal o que a protagonista quer transmitir com tanta urgência. Não querer transmitir nada também é uma opção válida, a propósito. Porque, de um modo geral, parece que a mulher principal desta novela deseja apenas desabafar, do modo mais ligeiro e econômico possível, seus prazeres e suas frustrações relacionadas às experiências amorosas por que passou.

13518376

Embora seja cansativo ler dezenas de vezes nas cinco primeiras páginas que a protagonista "transou pela primeira vez há exatos 21 anos, no dia dos namorados", o livro é bom. É bom porque, ao expor seu íntimo, ao mostrar um relato pessoal das impressões e dos sentimentos que permeiam a consciência de uma mulher de meia-idade, a protagonista de Noite em claro permite que boa parte do público feminino se identifique com ela. Este é, por sinal, um dos motivos pelos quais a autora é tão lida pelas mulheres (embora seja sabido que Martha atinge todo tipo de público, incluindo o masculino, porque a sexualidade presente em seus textos é um chamariz inquestionável).

Melancólico, picante, às vezes amargo, o mais recente título de Martha Medeiros é uma espécie de fotografia da mulher comum, com seus segredos não revelados, sua nostalgia a um tempo mais fácil (amorosamente falando) e suas tormentas pessoais com relação ao parceiro. Claro, aqui temos um caso bem específico, o caso de uma apresentadora de talk-show que se envolve com um paraplégico, um psicótico da Internet e um jogador de futebol medíocre; mas, mesmo assim, é um texto universal em sua angústia feminina e em seus questionamentos – todos muito humanos.

4 comentários:

  1. Adorei, Marlo! E essa é exatamente a essência do livro....

    Agora, uma coisa sobre as repetições inicias: também vale lembrar que a protagonista afirma algumas vezes que está bebendo... e que não está nem aí. Então, isso também denota o discurso de quem está alterado, ficar se repetindo, indo e voltando em algo meio onírico (como às vezes eu tinha a sensação). Até disso gostei, dessa construção do narrador não estar exatamente sóbrio... : )

    ResponderExcluir
  2. Marco, como sempre, muito obrigado pela visita! É sempre um prazer tê-lo aqui. Gosto muito dos seus comentários.

    De fato, a personagem do livro deixa claro logo no começo que ela está bebendo e que não tem a intenção de fazer uma coisa organizada e certinha. Acontece que, sei lá, para mim não ficou muito evidente essa relação entre a bebida e a repetição de idéias - muito embora essa relação realmente seja bem óbvia. Mas me pareceu que, na medida em que o livro vai se desenvolvendo, a narrativa dela vai ficando mais sóbria, de certo modo. Pelo menos foi essa minha impressão inicial; li o texto muito rápido em algumas partes, posso não ter pescado direito certas coisas.

    ResponderExcluir
  3. Li o livro inteiro no ponto de ônibus (e também chovia pra diabo). Achei bem inteligente essa idéia da L&PM de fazer essa coleção (queria todos).
    Engraçado que estava preparando o post para meu blog quando li o seu... espero não ser influenciada!

    =)

    Bj, Amanda

    ResponderExcluir
  4. Amanda, esses livrinhos de R$ 5 da L&PM realmente são uma delícia!

    Quando a resenha estiver pronta, lerei! (:

    Beijo!

    ResponderExcluir

Muito obrigado pela visita ao Gato Branco! Seu comentário será extremamente bem-vindo! :)