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29 dezembro 2009

O Prisioneiro, de Erico Verissimo

“No fundo, todos somos atores. Representamos vários papéis ao mesmo tempo. Uns mal, outros bem.” (p. 121)

O Prisioneiro Erico Verissimo

Hoje pela noite, depois de dar uma volta a pé pela cidade e voltar para casa com uma latinha de Pepsi na mão, eu finalizei a leitura da novela nacional O Prisioneiro (1967), escrita pelo romancista gaúcho Erico Verissimo durante a intervenção dos Estados Unidos da América na Guerra do Vietnã.

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Sinopse: Envolvido numa guerra fratricida em terra estrangeira, um tenente prestes a voltar a seu país presencia uma cena dramática: uma bomba destrói o bordel onde ele estava poucos momentos antes e mata a moça por quem se apaixonara. Um dos terroristas, capturado logo depois pelas forças aliadas, é um jovem de apenas dezenove anos cujas feições o remetem à amante morta. O coronel encarrega o oficial de interrogar o prisioneiro e descobrir o paradeiro de uma segunda bomba. Não há tempo a perder, e o tenente dispõe de duas horas para obter a verdade, por meios lícitos ou ilícitos de interrogatório.

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Como nos informa a sinopse da contracapa do livro, O Prisioneiro foi escrito para contestar e criticar a intervenção norte-americana na famosa guerra política (penso enquanto escrevo: Qual é a guerra que não é política?) do Vietnã, na qual o Vietnã do Norte (comunista) atacava violentamente o povo do Vietnã do Sul (capitalista), que se recusava a transformar-se em comunista após o conhecido plebiscito que obrigou o país a adotar a famosa Estrela Vermelha. Reconhecendo o perigo pelo qual seu sistema econômico passava, os EUA interviram na Guerra e tomaram partido do lado sulista.

O que está em jogo, percebe-se logo cedo, não é a vida dos milhares de civis e militares que estão entre o fogo cruzado, mas sim o destino do sistema político que seria adotado naquele país. Bombas de fabricação caseira são plantadas em hospitais, asilos, infantários e hotéis de luxo, e isso é interpretado pelos guerreiros apenas como uma espécie de sinal, como se o lado terrorista, autor desses atos macabros, simplesmente estivesse mostrando que possui mais poder.

Como ficção e entretenimento, O Prisioneiro é uma boa novela. Também elucida alguns detalhes e põe à mostra certas atrocidades que não podem ser esquecidas. Algumas passagens trazem à baila questões sobre o destino dos seres humanos em um mundo hostil, confuso e, em determinados momentos, acéfalo, burro.

No entanto, Erico Verissimo mexe em uma política delicada que, se analisada com certo levianismo, pode dar mal-entendidos. E foi isso o que aconteceu quando li O Prisioneiro; senti um certo desapontamento quando fechei o livro, lido em dois dias. Não é um desapontamento causado pela trama da história, nem pelo estilo de escrita do autor, e sim pelo ponto de vista que o escritor parece adotar e defender.

Fiquei com a desagradável sensação de que Erico Verissimo apoiou o lado comunista do Vietnã, que enfrentava os “brancos” norte-americanos com unhas e dentes para proteger o povo da sua terra contra os avanços do imperialismo estadunidense, mesmo que para isso se usasse meios nada decentes.

Só a título de ilustração: em certo momento da história, um guerrilheiro comunista é preso e interrogado por um sargento americano bruto e violento; o guerrilheiro é responsável pela implantação de uma bomba em um Bar/Café (que fez várias vítimas) e pela implantação de uma bomba cujo local ainda é ignorado. Ainda assim, mesmo com essa ficha criminal, Erico parece querer passar a mão sobre os cabelos do guerrilheiro e perdoá-lo, só porque ele “é um humano como todos nós.” Já o oficial norte-americano é narrado como um monstro. Não sei se isso encerra uma metáfora.

Mesmo assim, talvez Erico tenha querido transmitir a idéia de que somos todos humanos, sim, mas estamos inseridos nessa Engrenagem sistemática que nos disforma e suja. Mesmo assim: nenhum ato terrorista merece perdão, nem o de plantar bombas em bares nem o de ser violento para com um prisioneiro de guerra.

Por bem ou por mal… depois de ler este livro, cheguei à conclusão de que Erico Verissimo escreve melhor quando não toca em assuntos políticos delicados. A mensagem de O Prisioneiro para o leitor, por exemplo, é confusa.

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Talvez esta passagem da página 67 possa resolver tal questão que levantei acerca do lado que o autor apóia. (ou seja, nenhum)

É uma fala da professora, amiga do tenente:

“A idéia da existência de Deus não tem impedido que os homens, através de milênios, se tenham matado em guerras brutais. O importante, me parece, não é temer a Deus, mas amarem-se os homens uns aos outros… ou pelo menos não se odiarem tanto, a ponto de recorrerem à violência para resolverem problemas de coexistência.”

Um comentário:

  1. Li O Prisioneiro em 2009 também e, é inegável que o livro é um protesto ao mundo bipolarizado que de um lado utopicamente os comunistas do leste tentavam espalhar seus ideiais de igualdade, e do outro os americanos buscavam conter o avanço de Moscou e aliados vermelhos.
    O livro mostra no fundo que o sofrimento da guerra é igual tanto para os vietnamitas que viviam na tensão da guerra e na miséria, quanto para os soldados estadunidenses que sofriam psicologicamente com aquela situação.
    No final, que também achei um pouco vazio, nota-se que o soldado americano era o real prisioneiro da trama, não conseguiu se libertar do fardo que carregava.
    Hoje, esses mesmos soldados sofre nesta prisão no Iraque, Afeganistão e no Haiti, como estamos assistindo.

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