"Ele jurara então que um dia moraria naquele vale perfeito, com suas enormes árvores velhas e suas sete nascentes, e acabara construindo um lago e uma cabana, e dando longas caminhadas (…)" (p. 27)
Finalmente, depois de passar quase um mês com o Blog estagnado, volto a postar aqui uma resenha de livro. Esse atraso nas postagens se deveu, em parte, pela quantidade assustadora de coisas que tive de resolver nas últimas três semanas, todas no plano acadêmico: provas, seminários, grupos de pesquisa, monitoria etc. Tudo isso consumiu meu tempo de maneira arrasadora; porém, agora que as férias estão acenando no horizonte (ufa!), o Gato Branco voltará a funcionar a pleno vapor outra vez.
E eu retorno agora para contar um pouco das minhas reflexões sobre o livro que andei lendo nesse período atribulado (e que demorei 21 dias para ler, quando normalmente o teria feito em 4 ou 5). A Profecia Celestina (The Celestine Prophecy, 1993), escrito pelo professor norte-americano James Redfield, tornou-se um fenômeno mundial na época em que foi publicado, figurando na lista dos mais vendidos do New York Times por três anos, iniciando, assim, um grande interesse do público por assuntos ligados à chamada Nova Era ou Paradigma Transcendental.
Sinopse: Um antigo manuscrito é encontrado nas florestas do Peru, contendo nove ensinamentos que a sociedade maia pretendia transmitir às civilizações futuras. A Profecia Celestina, de James Redfield, é uma aventura de corpo e alma, onde o leitor é convidado a participar de uma saga em busca da verdade espiritual. A cada capítulo, acompanha-se as aventuras do protagonista em busca da sua própria verdade. Seu destino é chegar no alto das montanhas dos Andes e compreender o significado contido nas nove visões, impedindo que as autoridades locais censurem sua divulgação. Ao longo deste caminho, o leitor é apresentado a um modelo de consciência inteiramente novo.
Quem já leu alguma coisa relacionada à Nova Era (alguma coisa consistente, de preferência) provavelmente reconhecerá em A Profecia Celestina muitos pontos familiares: coisas que, por mais originais que soem, não serão de todo inéditas. O primeiro desses pontos, que eu considero o princípio norteador dos pensamentos do novo paradigma, é a reflexão sobre a transição da Era Moderna para a Era Contemporânea, ou Pós-moderna: se ali nós buscávamos nos amparar em conquistas materiais e no domínio exploratório da natureza, aqui nós adquirimos uma espécie de consciência ecológica (em um sentido bem mais amplo que aquele do senso-comum) e uma atenção voltada para os assuntos que escapam à ciência newtoniana da causa-e-efeito.
Segundo os adeptos dessa nova corrente filosófica, é essa mudança de consciência que permitirá ao ser humano a continuidade de sua existência no planeta; porque, do jeito como estamos vivendo e tocando nossas vidas atualmente, a extinção do bem-estar (ou mesmo da espécie) será certa. Conseqüentemente, encoraja-se a percepção intuitiva, o ócio, a mudança nos princípios da ciência moderna, o freio no desenvolvimento material voraz, e assim por diante – em prol de uma sociedade mais espiritual e sustentável. Para entender melhor esse pensamento, recomendo o sensacional livro O ponto de mutação, do físico austríaco Fritjof Capra, que mostra por a+b a necessidade de mudarmos nosso estilo de vida global contemporâneo (o que inclui essa mudança de consciência).
Embora ambos reflitam sobre os mesmos assuntos e estejam inseridos na mesma corrente de pensamento, enquanto o ensaio de Capra é mais voltado para o contexto científico, o livro de Redfield é a forma romanceada de abordar o impacto da Nova Era em nossas vidas pessoais. Certamente, alguns exageros são cometidos nessa empreitada. Visualizar campos de energia nas pessoas é um desses excessos, e eu preferi interpretar essa idéia de aura de uma maneira metafórica, buscando entender a necessidade de estar atento e sensível aos conflitos e anseios das pessoas próximas a nós – o que acabaria nos dando uma percepção do seu íntimo, por assim dizer.
Outro exagero é a afirmação de que podemos fazer as plantas crescerem mais viçosas apenas com a força do pensamento, transmitindo-lhes energia. Convém dizer: não sou tão cético a ponto de rir e rejeitar totalmente essas hipóteses, mas não acredito que elas se dêem de acordo com o que o livro aponta. A propósito, sei que os alimentos cultivados por nós mesmos trazem muito mais benefícios que aqueles industrializados, e essa é uma das reflexões do romance.
Muitas pessoas criticam as coincidências excessivas presentes no enredo da história, mas elas só começaram a me incomodar um pouco, mesmo, no terço final. Até lá, não senti dificuldades em ver que alguns personagens realmente poderiam se reencontrar e trocar idéias convenientes – mas a coisa começou a ficar forçada a partir do penúltimo capítulo. O livro preconiza que devemos sempre dar atenção às chamadas coincidências que acontecem em nossas vidas (reencontrar pessoas, objetos ou caminhos) porque elas trazem consigo uma espécie de mensagem que nos conduzirá ao lugar que sempre quisemos. Esse "ensinamento" é muito interessante porque é muito simples e óbvio: estar atento às coincidências não é outra coisa senão estar atento às oportunidades. E você pode encontrá-las em muitos lugares, levando em consideração que a palavra "oportunidade" remete à oportunidade de crescimento espiritual, não material.
Apesar de alguns leves defeitos (que alguns leitores podem mesmo nem considerar como defeitos), A Profecia Celestina é um livro difícil de ser criticado por pessoas que toleram diferentes visões de mundo. Sermos reservados e afirmarmos que não compartilhamos das propostas apresentadas no romance é algo diferente de negarmos e repudiarmos essa nova consciência emergente. O que separa as várias obras que tratam desse tema é uma questão de grau (umas mais elucidativas e racionais, outras mais espirituais e transcendentais), nunca de essência. O novo paradigma já se mostrou suficientemente necessário em nossa sociedade para que o critiquemos: o argumento do "esse-livro-é-pura-viagem" já não parece mais tão palpável.
Minha sugestão é que se leia algo sobre a Nova Era antes de pegar este romance. Se você nunca tiver escutado falar sobre essa veia filosófica, pode correr o risco de não entender a idéia geral do livro, achá-lo apelativo e fantasioso. No entanto, se achar que está suficientemente aberto para novos modos de compreensão do ser humano (sempre com o habitual olhar crítico saudável), fica aqui a minha dica da semana. Dá boas discussões e boas rodas de conversa.
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Vale lembrar:
> A Profecia Celestina continua com A Décima Profecia e O Segredo de Shambala – e, mais recentemente, com A décima segunda revelação. Com exceção do último título, originalmente a saga foi pré-concebida, descartando a idéia de que o sucesso do primeiro livro deu margem à produção dos outros.
> Existe o filme homônimo, lançado em 2006.
> O primeiro capítulo do livro, "Massa crítica", encontra-se disponível aqui.
Novidades para você! A Editora Novo Conceito está lançando este livro agora, em setembro de 2012, com o nome de A Décima Segunda Profecia! Confira no site da Editora: http://www.editoranovoconceito.com.br/livros/detalhe/9788581630267,D%C3%A9cima-Segunda-Profecia,-A
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