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23 outubro 2011

Abduzidos, de Robin Cook

"Suzanne mordeu o lábio inferior para evitar que suas emoções, novamente turbulentas, se transformassem em lágrimas." (p. 333)

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Abduzidos (Abduction, 2000) foi o primeiro romance que li quando cheguei na cidade de Fortaleza, há exatos 6 anos. Foi, também, o primeiro livro que peguei depois da maratona de Michael Crichton que eu vinha fazendo nos últimos meses – aos 13 anos de idade, eu estava totalmente fascinado pelo autor de Jurassic Park, e era duro ter de variar o regime de leitura. Nunca havia lido outro autor.

Naquela época, eu não sabia que Robin Cook tinha uma notável semelhança com Crichton: ambos eram médicos escritores ligados aos romances de thriller. Mesmo que Crichton tenha abandonado a medicina muito cedo e enveredado por gêneros literários que não estavam diretamente ligados a ela (ao passo que Cook permaneceu como médico e sempre escreveu sobre seu ofício), a semelhança entre esses dois autores é muito grande. A propósito, Michael Crichton, na sua carreira paralela de diretor de cinema, trouxe para as telas a adaptação do livro Coma, escrito por Cook. E Um caso de necessidade, primeiro romance de Crichton, traz todos os elementos do gênero literário que Cook inaugurou: o thriller médico.

Na falta do que postar aqui no Blog, achei conveniente falar um pouco sobre Abduzidos. É um livro interessantíssimo, do qual guardo boas lembranças. Infelizmente nunca li outro romance de Cook, embora sempre esteja na iminência de fazê-lo: vejo um título dele nas estantes das livrarias, acho a sinopse interessante, mas nunca o levo para casa. Qualquer dia desses, levarei pelo menos um.


Sinopse: Misteriosos acidentes interrompem as perfurações submarinas de um grande empreendimento científico e comercial, provocando prejuízos de milhares de dólares a cada dia. Preocupado com as pesquisas, um grupo de especialistas desce até o local para descobrir a causa dos transtornos. Mas, quando o pequeno submersível chega a 300 metros abaixo da superfície da água, uma estranha força o suga para as profundezas do oceano. Lá, encontram uma civilização avançada que descobriu o segredo da imortalidade. Mas, desde o princípio, algo não parece confiável nos estranhos anfitriões.


Para começo de história, Abduzidos não tem nada a ver com o gênero do thriller médico que o próprio Robin Cook inaugurou. Enquanto sua vasta bibliografia trata de expor os bastidores dos hospitais e clínicas particulares – geralmente lançando mão de alguma trama conspiratória envolvendo doação de órgãos, engenharia genética ou fertilização in vitro –, Abduzidos corresponde a uma espécie de peça única no seu trabalho como escritor. Neste livro em questão, Cook abandona toda a atmosfera hospitalar que recheou seus romances anteriores, despe seu jaleco, tira seu estetoscópio do pescoço e escreve uma aventura de ficção-científica a la Júlio Verne. (Para grande decepção de alguns de seus fãs, segundo ouvi dizer.)

Como Abduzidos foi o único romance de Robin Cook que eu li até hoje, não posso fazer grandes comparações com seus outros trabalhos. E nem é essa a idéia, de fato. Acho mais conveniente falar do livro em si, de suas qualidade e defeitos, e do que ele representa como obra literária, separadamente do histórico bibliográfico do autor.


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O enredo de Abduzidos funciona com poucos personagens. Um grupo restrito de pesquisadores envolvidos em perfurações submarinas acaba entrando em contato com uma civilização suspeita que vive no interior do planeta. A situação inusitada não descamba para nada que envolva o Governo dos Estados Unidos, nada que envolva as Forças Armadas, nada que envolva a OTAN. Simplesmente, os pesquisadores adentram nessa civilização subterrânea e são instados a permanecerem lá por algum tempo, até os esquisitos anfitriões se certificarem de que a existência do seu mundo particular não será revelada pelos importunos visitantes.

Convém esclarecer que a aparência física desses estranhos habitantes do interior da Terra nada tem de bizarra. Muito pelo contrário: eles se apresentam na forma de humanos, como nós, e se caracterizam por uma peculiaridade extremamente invejável – são pessoas dotadas de uma beleza extraordinária, perfeita. Os seres que habitam Interterra (nome dado ao local) são homens e mulheres tão, mas tão bonitos que os pesquisadores permanecem estarrecidos com isso do começo ao fim da aventura.


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Além da ação e do caráter de ficção-científica retrô, Abduzidos traz uma espécie de reflexão sobre como funcionaria uma sociedade perfeita hipotética. Lá, em Interterra, todas as pessoas são lindas, inteligentes, gentis e pacíficas, e todos vivem numa comunidade igualitária democrática e profundamente feliz. Que conseqüências isso poderia acarretar para o corpo social como um todo, e para os visitantes terráqueos, especificamente? Com este livro, Robin Cook ensaia um pequeno esboço de sua visão sobre a temática admirável-mundo-novo, iniciada por Huxley e que já rendeu boas obras na literatura.

Durante o tempo em que permanecem confinados na Interterra, os visitantes terráqueos (nossos protagonistas) recebem diversas instruções sobre como funciona a sociedade na qual acabaram de entrar. Para isso, dois guias são tacitamente destacados, Arak e Sufa: ambos fazem as vezes de apresentadores do mundo perfeito com o qual todos estão deslumbrados. No entanto, à medida que cresce a fascinação por aquele sinistro lugar, cresce também a desconfiança. E, a partir de uma série de incidentes constrangedores, a relação entre os representantes dos dois mundos começa a ficar cada vez mais tensa.


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A linguagem do livro é leve e, por este mesmo motivo, flui perfeitamente bem, sem entraves. Como a maioria dos romances de ação e aventura, o objetivo maior do autor, aqui, é passar a idéia de dinamismo, mesmo nas cenas mais lentas, como se estivéssemos assistindo a um filme. Interessante notar que os mais diversos detalhes de Interterra são descritos com minúcia, desde os transportes voadores até os móveis do interior das habitações.

Para quem lê Robin Cook com assiduidade, Abduzidos é um livro indispensável. Trata-se de uma obra única na bibliografia do autor, pois, como foi dito antes, Cook deixa de lado os corredores assépticos dos hospitais e as reluzentes salas de cirurgia e parte para uma trama bem mais surreal do que as tramas que ele normalmente imagina para seus thrillers médicos. Por outro lado, para quem nunca leu Robin Cook, aconselho começar por outro título que não este (justamente o que eu não fiz). Se o leitor quer ter, de fato, uma idéia melhor do que seja o estilo do autor, deve ler Coma, Toxina ou Contágio – ou outro de seus livros mais famosos.


Abduzidos (2000)

Robin Cook

Editora Record

Páginas: 393

Nota: 9/10

4 comentários:

  1. Olá Marlo,

    Parabéns pela postagem de um livro que leu quando pisou em solo novo, Fortaleza-CE. Com certeza a leitura deste livro possibilitou melhor entender o mundo das letras e seus meandros.

    abraços,

    G.J.Barbosa

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  2. Olá, Gustavo! Senti sua falta aqui no Blog!

    Obrigado pelo comentário, volte sempre :)

    Abraços!

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  3. Olá, Marlo!
    Poxa, como é bom ler resenhas sobre esse autor tão booom! Eu sou fã número 1 de Robin Cook, li quase todos os livros dele. Acho que não li apenas "Crise", "Cego" e "Cromossomo 6" (os dois últimos não me agradaram muito). Mas aconselho você a ler, com urgência, rss:

    1-Coma
    2-Cérebro
    3-Mutação
    4-A Invasão
    5-Toxina

    São os melhores dele, colocados em ordem cronológica em que foram escritos. Se fosse por nota, eu daria 10 para todos! São maravilhosos, embora no início da narrativa, ele "enrole" um pouquinho, e passe a impressão (errônea) de que o livro é apenas a narrativa do dia-a-dia de um médico... Não se trata disso; prossiga na leitura, que sempre lá pela página 20 ou 30, as coisas começam a esquentar, o suspense aumenta, a adrenalina jorra... enfim, você fica preso ao livro, louco para descobrir os mistérios e acabar com os vilões (em geral, são vários, fazendo parte de grandes conspirações).
    Boa resenha, viu?

    Me visite em meus blogs:
    romance-sobrenatural.blogspot.com.br
    romanzine.blogspot.com.br

    Abs!
    :)

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  4. Olá, Jossi!

    Antes de tudo, muito bem-vinda ao Blog!

    Do Robin Cook, infelizmente, li apenas 'Abduzidos', que achei muito bom, envolvente e reflexivo. Na verdade, acho que este é o único romance dele que sai dos eixos da medicina, tema que ele parece abordar na totalidade da sua obra, por causa da profissão que exerce.

    Existe outro escritor médico que admiro imensamente e que você provavelmente deve conhecer: Michael Crichton. Já li praticamente todos os seus livros (muitos deles, mais de uma vez), e acho soberba a forma como ele mistura aventura, ficção-científica e ação. Inclusive, ele chegou a dirigir o filme 'Coma', baseado no clássico do Robin Cook.

    De vez em quando uma leitura cheia de adrenalina é muito bom, não é? Estão anotadas as suas dicas!

    Muito obrigado pela visita!

    Abraços! (:

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