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31 janeiro 2013

A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan

"Em que momento exato você se desviou só um pouquinho da vida relativamente normal que vinha levando até então, em que momento ela se desalinhou de maneira infinitesimal para a esquerda ou para a direita, embarcando assim na trajetória que acabaria por levá-lo para onde se encontra agora?" (p. 169)

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© Pieter M. van Hattem / Vistalux

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Alguns livros ficam empilhados sobre a minha mesa aguardando o momento adequado para serem lidos. Tenho aqui um exemplar de Amor líquido, do filósofo Zygmunt Bauman, As confissões, de Rousseau, Anna Karienina, do mestre Tolstói, e uma biografia completa da banda Pink Floyd. No meio desses livros, estava também A visita cruel do tempo (A visit from the goon squad, 2010), que peguei para ler no início da semana passada, quando julguei que o momento certo havia chegado finalmente. Eu tinha a certeza de que esse romance demandava do leitor um estado de espírito conveniente – como, no fundo, todos os livros demandam.

Terminei a leitura hoje, e posso dizer que toda a festa feita em cima da obra é justificada. Jennifer Egan escreveu um livro que é muitíssimo inventivo e original na forma, mas que possui uma temática extremamente clássica, que afeta todos os seres humanos desde que o mundo é mundo: a passagem do tempo e como isso afeta nossas vidas. Quando folheava o livro, antes mesmo de começar a lê-lo, eu encarava todas aquelas esquisitices da narrativa como uma mera tentativa de chocar o leitor, de chamar atenção, mas esse julgamento tive que abandonar assim que iniciei a leitura. Sim, existe um capítulo escrito em segunda pessoa, existe um capítulo escrito em forma de coluna de revista de fofoca, existe um capítulo escrito em forma de apresentação de PowerPoint, mas todos esses floreios se revelam como um recurso, uma técnica especial para dar conta de todo o universo proposto pelo romance.


Sinopse: Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última — e suicida — turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e mulheres. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.


A edição da Intrínseca traz na capa de trás e na primeira página do volume uma série de elogios feitos por suplementos literários de jornais tais como The New York Times, The Guardian e The Washington Post. Como muitos leitores, não confio totalmente na opinião desses suplementos (geralmente trata-se de uma questão de puro marketing), mas dessa vez, após ler o livro, constatei que todas as opiniões colocadas ali têm seu fundamento. A maioria dos elogios se refere à criatividade de Jennifer, posta à prova neste romance, e à sensibilidade no trato com os personagens da história – todos inesquecíveis, diga-se de passagem.

O conceito de A visita cruel do tempo é o seguinte: uma série de histórias paralelas que se cruzam, uma a uma, em um espaço de tempo de aproximadamente 60 anos. Cada capítulo é narrado sob o ponto de vista de um personagem específico, situado em uma época específica; a cronologia é embaralhada e o ano propriamente dito nunca é mencionado – de modo que o resultado disso é uma espécie de caleidoscópio em que pequenas narrativas se entrechocam, se entrelaçam e se separam. Falando assim, fica a impressão de que o romance é uma confusão de tempos e que o leitor sofre amargurado na tentativa de acompanhar o fio da meada. Engano. Jennifer possui uma habilidade ímpar na hora de situar o que está escrevendo, e o leitor atento não tem a menor dificuldade em estabelecer ordem no aparente caos de todas aquelas 333 páginas. É muito fácil não se perder na narrativa.

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O tom que perpassa a narrativa de A visita cruel do tempo é carregado de uma atmosfera que eu não saberia definir ao certo. Há algo de nostálgico, determinista, inexorável, fazendo-nos pensar que nossa linha do tempo já está fixada de uma maneira que, independentemente do que você faça, ela não se alterará; ainda assim, é uma narrativa que traz consigo um clima de mundo repleto de possibilidades. Seria mais ou menos como se alguém o abordasse, o sacudisse e dissesse: "Você tem o tempo da sua vida para fazer alguma coisa que valha a pena… E as lembranças dos seus feitos ecoarão por toda a eternidade, e suas atitudes afetarão a vida de outras pessoas." Eu senti uma frase como essa zunir na minha cabeça ao virar a última página.

Aliás, este é um livro que fala diretamente com o leitor, e essa é uma característica que me chamou muito a atenção. Não importa o personagem do capítulo que está lendo, não importa se ele é narrado em primeira ou terceira pessoa: você, como leitor, toma parte na história e sente as angústias e os dilemas retratados lá, pelo simples fato de que também é capaz de sentir na pele o efeito do tempo passando e das coisas ao seu redor mudando.

No fundo, A visita cruel do tempo fala sobre como nós podemos perceber (ou não perceber) a passagem do tempo e o impacto que isso traz para as nossas vidas. Pessoas que conhecemos no passado, foram grandes amigas nossas, mas que agora no presente sequer nos reconhecem; experiências e eventos que antes pareciam gloriosos, juventude que se esvai como a água que desce pelo ralo do banheiro; sonhos e expectativas que não encontraram o caminho certo. Tudo isto está presente no livro de um jeito desconcertante, que nos abala, mas que ao mesmo tempo nos faz adquirir uma certa maturidade no final da leitura.

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Na esquerda, página 274 de A visita cruel do tempo

Recomendo A visita cruel do tempo especialmente aos meus amigos que cursam Psicologia. A Literatura e a Psicologia sempre foram coisas indissociáveis para mim, e 'A visita cruel do tempo' é uma prova de que podemos ter o privilégio de estudar nos livros de ficção as coisas que vemos na faculdade. Leiam. Aliás, o tema central desta obra é aquilo que mais leva as pessoas à terapia: a constatação de que o tempo passou e alguma coisa irrecuperável se perdeu lá atrás.

Nota solta: dentre todos os prêmios importantes que o livro de Jennifer recebeu, o Pulitzer de Ficção (2011) certamente é o mais icônico.

Uma dica: se você tiver tempo, paciência e disposição, leia A visita cruel do tempo duas vezes seguidas. Assim como o filme Cloud Atlas, dos irmãos Wachowski, esta é uma obra que pede uma repetição instantânea, o que ajuda o leitor a encaixar melhor toda a cronologia da história e seus detalhes.

16 janeiro 2013

1Q84 | Tomo I, de Haruki Murakami

"Não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única." (p. 22)

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No primeiro dia de 2013, finalizei a leitura do volume 1 de 1Q84 (1Q84, 2009-2010), romance surrealista escrito pelo japonês pop Haruki Murakami. É o mesmo autor do clássico Norwegian Wood (1987), que encantou uma geração de jovens no mundo inteiro ao narrar a trágica história de amor entre Watanabe e Naoko em uma nostálgica Tóquio de 1969. Dono de uma linguagem clara e, até certo ponto, simplificada, Murakami é um dos autores mais lidos da atualidade; consegue atingir em questão de poucos meses a assustadora marca de 4 milhões de exemplares vendidos apenas no Japão.

Dividido em três tomos no Brasil pela editora Alfaguara, 1Q84 é apontado pela crítica especializada como o trabalho mais ambicioso do escritor – não só pelo seu número de páginas, que no total chega a quase 1.500, mas pela estrutura narrativa das duas histórias principais que, aos poucos, vão ganhando contornos cada vez maiores e mais profundos, levantando reflexões sobre os bastidores editoriais no universo da literatura e a violência à mulher.


Sinopse: Tóquio, Japão. Um mundo aparentemente normal. Duas personagens – Aomame, uma mulher independente, e Tengo, professor de matemática – que não são o que aparentam e ambos se dão conta de ligeiros desajustamentos na realidade à sua volta, que os conduzirão fatalmente a um destino comum. Um universo romanesco dissecado com precisão orwelliana, em que se cruzam histórias inesquecíveis e personagens cativantes.


Certa vez, uma amiga minha me disse que, ao ler Murakami, a impressão que ela tem é a de que está lendo sempre o mesmo livro – ou seja, independentemente da obra em questão, ela encontra os mesmos tipos de personagens, situações relativamente iguais, cenários parecidos, e assim por diante. Não se pode negar que isso seja verdade: Murakami é bastante repetitivo na elaboração dos seus personagens, e a semelhança entre, por exemplo, Tengo e K. (de Minha querida Sputnik) é significativa demais para passar despercebida. Mas… meu puxão de orelha pára por aí. Porque embora o escritor traga à luz elementos que são muitíssimo comuns em seus livros, e embora haja essa coisa da escrita simplificada, ele sempre traz suas idéias de maneira diferente da vez anterior, e isso confere a cada livro uma essência particular.

Em 1Q84, por exemplo, Murakami atinge um ponto muito profundo ao retratar a violência à mulher de modo cruel e complexo. Aomame, segunda protagonista do livro, está no eixo central dessa violência, e sua profissão oculta a torna responsável por fazer justiça com as próprias mãos. Paralelamente a isso, temos a história de Tengo, um aspirante a escritor que se vê envolvido com a adolescente Fukaeri, misteriosa autora de uma obra que ele precisa reescrever para agradar o editor de uma revista.

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Edições de 1Q84 pela Casa das Letras, editora portuguesa

E a parte realista do romance acaba por aí. Conhecido no mundo todo como um autor de livros de realismo fantástico, Murakami mescla em suas tramas mundanas uma boa pitada de surrealismo, com o qual procura expandir a visão dos leitores e lhes mostrar que a realidade às vezes é bem mais bizarra do que pode parecer. Geralmente ele usa os elementos fantásticos para distorcer o cotidiano a fim de abarcar o Universo inteiro em seus livros, e é por isso que eles são, sempre, imprevisíveis do início ao fim, cheios de imaginação e possibilidades.

Aomame, por exemplo, parece ser transportada para uma espécie de realidade alternativa ao simplesmente descer a escada de emergência de uma avenida movimentada; no início, acha estranho que os guardas policiais tenham mudado o estilo dos seus uniformes, e depois descobre que há duas luas no céu. Abismada com essas mudanças estranhas, Aomame decide rebatizar o ano de 1984 para 1Q84 – "com um quê de interrogação, de dúvida".

O maior barato nos trabalhos do Murakami é que essas bizarrices não são aleatórias. Alguém pode se perguntar o que há de interessante em simplesmente inserir uma lua a mais no céu, ou mudar a roupa dos guardas policiais. Mas Murakami sempre faz esse tipo de coisa com um propósito, e não como uma mera brincadeira; ele usa certos elementos de fantasia às vezes não para confundir o leitor ou inserir um mistério, mas, pelo contrário, para deixar as coisas mais claras. Não entro em detalhes para não cair em spoilers. Porém, afirmo: na viagem de Murakami, o que importa é ir associando os elementos fantásticos e curtir o caminho que vai sendo trilhado.

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À direita, capa da edição norte-americana, com película maleável

No início do livro, a história de Tengo soava muito mais interessante que a de Aomame, pelo menos para mim. Achava os capítulos da jovem muito repetitivos e monótonos, sem grande inserção de informações relevantes. No entanto, à medida que as páginas iam avançando e as histórias iam se tocando, achei soberbo o conjunto como um todo. A história de Aomame ganha uma profundidade ímpar, talvez até maior que a de Tengo. E a trama toda começa a adquirir um tom muito sério, que só faz atiçar a curiosidade. De repente, o livro termina, deixando as pontas todas soltas para o próximo volume.

O tomo 2 de 1Q84 chega às livrarias brasileiras em março de 2013. Se existe sofrimento em esperar pelo lançamento do próximo volume, há um sutil prazer em estar acompanhando a obra no momento em que ela é trazida ao público. No Japão, a obra foi lançada também em três volumes, entre 2009 e 2010.

02 janeiro 2013

5 livros que eu li em 2012 e que você gostará de ler em 2013

Dessa vez, temos um pouco de tudo: romance autobiográfico, romance premiado, livro de Filosofia…

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Agora que o ano de 2012 chegou ao fim e o ano de 2013 está surgindo repleto de possibilidades, chegou a hora de escrever uma das postagens mais conhecidas aqui do Gato Branco: as indicações de leitura para os 12 meses que se descortinam à nossa frente. Ao todo são cinco indicações, baseadas nos melhores livros que andei lendo no ano passado. Naturalmente, é uma lista muito pessoal, e o único intuito real dela é o de compartilhar algumas das minhas experiências como leitor. Espero que gostem!

Para ter acesso à resenha completa de cada obra, publicada aqui no Blog, basta clicar sobre as capas.


Lá onde os tigres se sentem em casa | Jean-Marie Blas de Roblès

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Li este livro no começo de 2012, numa época em que eu estava acamado por conta de um resfriado horrível, e não podia fazer mais nada além de ler. Se não fosse por essa condição, talvez eu não tivesse tido a oportunidade de devorar com tanta tranquilidade as 700 páginas de Lá onde os tigres se sentem em casa, romance agraciado com o Prêmio Médicis 2008.

O livro é excelente. A começar pela curiosa história do autor: francês, arqueólogo submarino, professor universitário nas horas vagas, chegou a lecionar durante um curto período na Universidade de Fortaleza (onde estudo atualmente), além de ter morado já em países tão exóticos quanto Tibete, Taiwan, Indonésia, Líbia, Peru e China, dentre outros.

O romance, escrito em francês, narra uma meia dúzia de histórias paralelas que se cruzam à medida que os capítulos avançam. Somos apresentados a Eléazard von Wogau, um jornalista correspondente de uma agência francesa, que mora há alguns anos em Alcântara (Maranhão, sim). Ele se dedica a estudar a biografia de Athanase Kircher, jesuíta alemão do século XVII, revelada em um manuscrito misteriosamente deixado pelos correios (a história desse padre barroco é um dos pontos fortes do livro, sem dúvida). Além desses dois personagens, temos também Elaine, a ex-mulher de Eléazard, bela arqueóloga que partiu em inspeção pela Floresta Amazônica; Loredana, uma sedutora jornalista italiana de passagem pelo Norte brasileiro; Nelson, garoto pobre da favela do Pirambu, em Fortaleza, sedento por vingança; e Moema, a jovem idealista filha de Eléazard e Elaine.

É um romance divertidíssimo, grande, complexo, cheio de imaginação e muitíssimo interessante – não apenas pela história em si, original, mas também pelo fato de ela se passar em grande parte no norte-nordeste do Brasil, algo digno de nota. Recomendo para valer a leitura de Lá onde os tigres se sentem em casa.


Tremor | Jonathan Franzen

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Louis Holland é um jovem operador de rádio em Boston, trabalhando para uma estação de vanguarda à beira da falência, quando um terremoto de pequena escala mata sua avó postiça, uma escritora popular de livros sobre consciência energética e Nova Era. A partir de então, a vida de Louis começa a fazer parte de uma série de dramas familiares, amorosos e existenciais, o que inclui uma mesquinha disputa pela herança da velha senhora, o relacionamento com uma sismóloga problemática e a constatação de que a série de terremotos que assola a região não tem causas naturais, mas é fruto de perfurações subterrâneas capitaneadas por uma poderosa empresa de produtos químicos.

A sinopse acima é apenas uma brevíssima pincelada do que o leitor vai encontrar no segundo romance de Jonathan Franzen. Digo isso porque é impossível abreviar de modo satisfatório a trama de Tremor em um único parágrafo: o livro é tão denso, tão intrincado, tão cheio de pormenores, que não há sinopse que abarque tudo o que ele propõe. É, acima de tudo, uma mistura de drama com investigação policial, em que surgem várias facetas de história de amor. Embora seja divertido em muitas partes, não é um livro de leitura fácil. Requer do leitor dedicação e tempo, mais do que o normal. No entanto, foi um livro extremamente marcante para mim. Foi fácil me identificar com alguns dos personagens, com algumas das situações e com algumas das reflexões levantadas por Franzen.

Pela riqueza de conteúdo e pela tentativa de sintetizar toda a falência do grande sonho americano, Tremor é uma leitura recomendadíssima. Talvez seja a indicação mais ousada desta lista, mas… fica a sugestão!


A arte de viajar | Alain de Botton

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Essa foi uma das leituras mais relaxantes que fiz em 2012. Mesmo passando por um relacionamento amoroso difícil, consegui encontrar paz e leveza nas palavras do filósofo popular Alain de Botton, este simpático suíço que mora na Inglaterra desde 1977. Nesta obra, Alain nos faz refletir bastante sobre todos os aspectos filosóficos que estão relacionados à atividade – corriqueira, para alguns – de sair de casa e viajar. Seja a trabalho, seja por divertimento, tirar os pés da zona de conforto em que estamos inseridos e conhecer o mundo carrega um mundo de possibilidades prazerosas, experiências significativas e sentido para a existência. Acima de tudo, A arte de viajar é um delicioso manual de como abrir a mente para as inúmeras opções que as viagens acarretam.

Longe de ser um livro de auto-ajuda vazio em que surgem expressões do tipo "Você é o ator principal no palco da vida" ou "Faça um expurgo mental de todas as roupas sujas de sua existência", A arte de viajar convida o leitor a trilhar reflexões que hoje em dia parecem passar despercebidas pelas pessoas. Apoiando-se em filósofos de renome, escritores e aventureiros dos séculos passados, Alain de Botton tece um manual prático (que pouco tem a ver com "manual", diga-se de passagem) sobre como ver a beleza nas coisas simples, em especial nas viagens que realizamos ao longo da vida.

Muitíssimo recomendado. Sem ressalvas!


Estado de graça | Ann Patchett

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Outro livro escrito por um estrangeiro e que se passa no Brasil. Estado de graça surgiu como um raio na minha frente: eu estava passeando pela livraria, vi aquela capa maravilhosamente bem trabalhada e, depois de ler a sinopse da parte de trás do volume, senti que deveria lê-lo.

Primorosamente escrito, de um texto cuja qualidade raramente encontramos por aí, esse romance cativa o leitor desde a primeira página, com seus mistérios, sentimentos velados e suspeitas. Marina Singh é uma médica norte-americana que trabalha para uma empresa farmacêutica financiadora de uma pesquisa realizada no coração da Selva Amazônica. Essa pesquisa tem como objetivo coletar dados e informações a fim de tornar possível a fabricação de uma substância que torna as mulheres férteis até os 70 anos de idade. A Dra. Annick Swenson encabeça a pesquisa e está in loco, junto com a tribo indígena cujas mulheres ingerem a casca de determinada árvore e, através dessa alimentação, tornam-se férteis até a morte. No entanto, a Dra. Swenson não envia relatórios sobre o andamento da pesquisa há vários meses, e quando emite um lacônico comunicado informando que um dos membros da equipe morreu na selva, o CEO da empresa farmacêutica, Jim Fox, envia a Dra. Singh para que ela possa entender o que está acontecendo nos bastidores de tudo isso.

O jornal The Washington Post classificou Estado de graça como "o romance mais inteligente e emocionante lançado recentemente", e não tenho motivos para discordar dessa afirmação. Prende nossa atenção do início ao fim, e é um ótimo lembrete do que pode ocorrer entre a Floresta Amazônica e a ambição de certas companhias patrocinadoras de pesquisas farmacêuticas. Mais um livro que eu recomendo sem ressalvas.


Infância | Maksim Górki

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Certamente este foi o livro mais bonito, singelo e humano que li em 2012.

Infância é o primeiro livro da trilogia autobiográfica de Górki; os outros dois títulos são Ganhando meu pão e Minhas universidades. Em Infância, como o próprio título sugere, Maksim Górki passa para o papel, em forma de romance, todas as suas vivências de menino pobre na Rússia czarista do século XIX. Embora ele teça várias considerações sobre seus amigos (que foram poucos), vizinhos e eventos históricos, o principal eixo deste livro é o universo familiar, em que se destacam as figuras do seu avô, autoritário patriarca, de sua avó, doce e singela dona-de-casa, sua mãe, libertária e com grande senso de independência, e uma trupe de tios e primos. E é nessa constelação familiar turbulenta que o menino Górki vai forjando sua personalidade compadecente e um grande espírito crítico para as injustiças do mundo.

Muito bem escrito, muito tocante, muito humano. É o tipo do livro que você sabe que vai reler em um futuro próximo. Recomendo muito!


Bom começo de ano para todos! E que venham novas e excelentes leituras em 2013 ;)